A vitória do humanismo pelo diálogo

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO 21/10/2022 09:31                                                                      ESPECIAL 

Reflexões sobre cidadania (parte 5)

COMISSÃO DE ESTUDOS SOBRE CONSCIÊNCIA POLÍTICA DA BSGI 1

Reprodução/Foto-RN176 Desenho-humano de ilustrução da matéria – Ilustração: GETTY IMAGES

“A democracia se inicia com o diálogo”2 — essa era a convicção do renomado filósofo norte-americano John Dewey, contemporâneo e grande influenciador do presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi.

O diálogo, além de ser a estrutura básica da formação de qualquer regime de governo, de maneira ainda mais básica e elementar, consiste em uma das principais formas de relacionamento humano. É o instrumento que utilizamos para exteriorizar ideias e opiniões — que, em um primeiro momento, produzem eco apenas em nossa mente — e, ao mesmo tempo, para receber um turbilhão de informações da pessoa com quem dialogamos.

Mas o exercício do diálogo é válido até para assuntos polêmicos e delicados? Há algumas dicas práticas para desenvolvermos bons diálogos?

O nível de polarização da sociedade, não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo, aumentou bastante nos últimos anos. Isso fica mais evidente no período eleitoral, quando propostas políticas antagônicas são apresentadas e dividem a sociedade com seus apoiadores.

Dois comportamentos comuns são observados em discussões de teor político em ambientes caracterizados por forte polarização.

O primeiro comportamento bastante comum é quando simplesmente nos calamos ou fugimos das discussões políticas. Para evitarmos um confronto e convivermos em paz, preferimos não polemizar e debater certos assuntos. “Em casa não se discute política, religião ou futebol” é uma frase que ouvimos com frequência.

O segundo comportamento comum é quando cada pessoa finca o pé na sua posição e tem pouca ou nenhuma disposição para ouvir os argumentos contrários. O resultado dessa segunda opção é muito ruim. Leva a situações estressantes que, no limite, podem resultar na deterioração das relações pessoais.

A observância de algumas regras práticas contribui para que um diálogo produtivo seja realizado. O presiden­te da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, observa que “A chave para o diálogo é o respeito pela outra pessoa, a disposição para ouvi-la e a prontidão para aprender com ela”.3

Vejamos algumas recomendações para promover um bom diálogo:

Em primeiro lugar, respeito pelo interlocutor. As eventuais diferenças de opinião e de visão de mundo que possam existir entre os envolvidos em um diálogo devem sempre prezar pelo respeito ao outro e à sua dignidade. Por exemplo, evitar utilizar adjetivos de teor negativo, pejorativo ou agressivo, tanto para se referir a eventuais políticos, partidos e movimentos como para se dirigir ao interlocutor.

Em segundo, saber ouvir. Um diálogo produtivo é uma troca de visões e de opiniões. Envolve não só saber falar, mas também saber ouvir. Por exemplo, evitar interromper seu interlocutor quando ele estiver falando e conceder atenção aos seus argumentos verbais e aos elementos não verbais transmitidos — como gesto, posição corporal e reações espontâneas — são essenciais para conhecê-lo.

Em terceiro, disposição para aprender. Quando realizamos um diálogo com espírito desarmado e mente aberta, conseguimos nos transformar. Aprendemos a argumentar de forma coerente e organizada, reconhecemos o valor de opiniões e perspectivas contrárias e, com isso, desenvolve­mos tolerância, humildade e respeito pelos outros.

As pessoas são complexas e cada qual possui uma bagagem de valores, crenças, opiniões, além de características próprias de personalidade e sentimentos. Em meio à imensa diversidade que nos caracteriza, um diálogo permite que encontremos conexões que vão além de nossa identidade.

Os três pontos destacados pelo presidente Ikeda são reiteradamente exercitados nas diversas atividades da Soka Gakkai. Quando, por exemplo, realizamos ou recebemos uma visita, mostramos nosso máximo respeito ao interlocutor, procuramos ouvir atentamente o que tem a nos dizer e, por fim, saímos com a sensação de que aprendemos algo valioso para nossa vida.

O romance Nova Revolução Huma­na narra que, em novembro de 1975, durante uma reunião geral no Ginásio da Província de Hiroshima, Shin’ichi Yamamoto (pseudônimo do presidente Ikeda na obra) reflete sobre a missão fundamental da religião de empoderar o indivíduo para que, nos momentos de grandes mudanças e tumultos, tenha a força necessária para redirecionar a sociedade a um curso estável e positivo.
— O papel da Soka Gakkai, bem como sua responsabilidade social, é devotar-se a uma luta espiritual, nas profundezas do nosso ser, contra forças externas como a violência e a opressão política e econômica, que depreciam a dignidade e o valor da vida humana.

Essa força espiritual pode ser desenvolvida por meio do diálogo com cada um, individualmente, e pela contínua interação de vida a vida. Com a política internacional dominada pelas forças militares ou políticas, Shin’ichi acreditava firmemente que o único caminho para ensejar o descortinar da nova era seria o diálogo humanístico.4

Portanto, conseguir despertar e conduzir um diálogo humanístico nos engrandece e nos transforma, pois, por meio dele, aprendemos com o outro e aprofundamos o significado de nossas relações. É um mecanismo de criação de valor pelo qual aceleramos nossa revolução humana e tomamos consciên­cia do nosso papel social como budistas que buscam um mundo de paz.

Notas:

  1. Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo.
  2. Terceira Civilização, ed. 399, nov. 2001, p. 9.
  3. Disponível em: https://www.daisakuikeda.org/sub/quotations/theme/dialogue.htmlAcesso em: 13 out. 2022. (em tradução livre)
  4. IKEDA, Daisaku. Tesouro da Vida. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 22, p. 287, 2019.

Ilustração: GETTY IMAGES