ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 26/02/2022 07:00
RELATO
Henrique transforma sonhos em realidade e inspira jovens com sua história
Reprodução/Foto-RN176 Henrique Almeida Martins Curticeiro, Responsável pela DMJ do Distrito Lagoa Branca e pela Divisão dos Estudantes Herdeiro da RM Morumbi, Sub. Oeste, CNSP – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Nasci em Ferraz de Vasconcelos, SP, em uma família já praticante do Budismo de Nichiren Daishonin. Pobre e vivendo numa área periférica com altos índices de criminalidade, sofri o peso da desigualdade; e desafiei a estatística, com minha própria vida, para construir uma história vitoriosa e transformar o impossível em possível.
Morava num “castelo do kosen-rufu” e, ao sair dele, via jovens envolvidos com o crime e com as drogas. Estudei em escolas consideradas “ninhos de delinquentes” e estava exposto a “caminhos negativos”, mas devido à profunda ligação com meu mestre, Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), desenvolvi sabedoria e norteei meu caminho me dedicando às reuniões da localidade, à entrega do Brasil Seikyo e aos estudos.
Por algumas vezes, apreciei o som vigoroso do Taiyo Ongakutai [grupo musical da Divisão Masculina de Jovens (DMJ)] e meu coração se enchia de esperança e de coragem. Nunca me esquecerei do dia em que fui entrevistado para entrar no Taiyo. Meu coração bateu mais forte quando vi o clarinete. Ingressei no grupo em 2006.
Próximo à apresentação no Imin 100, evento comemorativo dos cem anos da imigração japonesa no Brasil, em 2008, orei firme daimoku, porque queria tocar, porém não possuía instrumento, técnica e nem dinheiro para o uniforme.
Certo dia, minha mãe, Elaine, e eu recebemos a notícia de que Marcelo, meu pai, que prestava serviços na área de elétrica, havia sido preso acusado de roubo na saída de uma estação do Metrô de São Paulo. Sem entender nada e sem informações, entramos em desespero. Para piorar, não tínhamos dinheiro, visto que somente ele trabalhava. Respiramos fundo e recitamos daimoku. Nessa época, era raro ver nosso oratório fechado. Eu tinha entre 10 e 11 anos e via as contas chegando e a comida cada vez mais escassa. Minha mãe me dizia para ser forte, mas eu a escutava chorando dia e noite. Precisávamos tirar meu pai da cadeia.
Reprodução/Foto-RN176 Henrique com a esposa, Mariana – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Em consequência daquela situação, passamos fome. Quando conseguimos algum recurso financeiro, compramos ingredientes para fazer sopa. Durante uma semana, tomávamos sopa no café da manhã, no almoço, na janta ou quando sentíssemos fome. Adicionávamos água para render para os próximos dias.
Enquanto minha mãe buscava apoio em fóruns e defensoria pública, para soltar meu pai, eu preparava e vendia as sobras de cobre que ele trazia para casa quando restava dos serviços. Não me esqueço de um dia triste em que um carro passou por minha mãe e por mim e nos xingou de “pobres miseráveis”.
Atraindo a boa sorte
Diante do Gohonzon e, como o rugido de leões, recitamos daimoku determinados a transformar aquela situação convictos de que não seríamos derrotados. De forma gradativa, os defensores públicos agiram de maneira eficaz no caso do meu pai. Começamos a ter retorno financeiro das vendas do cobre e compramos alimentos para nós e também para enviar ao meu pai. Guardávamos, inclusive, dinheiro para fazer contribuições financeiras (Kofu) e para adquirir o instrumento e o uniforme.
Reprodução/Foto-RN176 Da esq. para a dir., ele e Mariana; Elaine e Marcelo (pais do Henrique) e a irmã, Naylla – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Um veterano do Taiyo me ofereceu aulas gratuitas de clarinete, mesmo eu não possuindo um. Por causa da distância, minha avó ia comigo, pois ela possuía gratuidade e tinha direito a um acompanhante. Eu me empenhava nas aulas e, ao retornar, recitava mais daimoku e descascava os fios de cobre. Como não há oração sem resposta, compramos um clarinete e meu uniforme. Além disso, comprovamos a inocência do meu pai e ele foi solto. Apresentei-me no Imin 100 e, daquele momento em diante, nunca mais passamos fome.
Sempre gostei da área de tecnologia e acalentei o sonho de me graduar e de me aprimorar por meio de cursos. Como não tinha condições de pagar uma faculdade, dediquei-me aos estudos (de madrugada e todo tempo que tivesse) para ingressar em uma universidade pública e conseguir um emprego para ajudar em casa. Passei em vestibulares com ótimas pontuações e, gratuitamente, realizei um curso técnico, graduei-me na faculdade e fiz extensão numa das instituições mais renomadas do país.
Como jovem, empenhei-me na localidade, nos ensaios do Taiyo Ongakutai e, posteriormente, na The Sun Orquestra [oriunda da banda masculina]. Apresentei o budismo para três pessoas, e uma delas, Mariana, tornou-se minha companheira de vida. Para superar as dificuldades, punha em prática as orientações do Mestre, incentivava as pessoas que sofriam e contribuía com o Kofu.
Vendo o exemplo do meu pai e incentivado por minha mãe a “me esforçar por três e dar o melhor em tudo”, empenhava-me com afinco no trabalho, sempre disposto a aprender e a aplicar as orientações de Ikeda sensei. Assim, fui reconhecido nas empresas em que trabalhei, onde falei do budismo para várias pessoas. Concretizei também um grandioso objetivo e trabalho em um dos maiores bancos do Brasil.
Reprodução/Foto-RN176 Antes da pandemia, na formatura da academia dos membros da The Sun Orquestra Júnior – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Por pertencer à BSGI, construo a vida que sempre sonhei. Atualmente, levo palavras de esperança e de coragem ao compartilhar minha história com jovens que cometeram algum tipo de delito, em ONGs e em projetos sociais.
Agradeço aos meus pais, pois, sem eles, eu não seria nem 1% do que sou hoje; ao meu mestre, que constantemente me ilumina em meio à escuridão; à minha esposa, sobre quem não possuo palavras para expressar tamanha gratidão; e a todos os companheiros da família Soka, porque sem eles nada seria possível.
Compartilho um trecho do poema Ao Ongakutai, que carrego em meu coração: “A marcha da Soka Gakkai / é rapidíssima, / de tal modo que / um ano equivale a cerca de dez anos. / Portanto, o avanço do Ongakutai / assim será doravante”. Meu avanço é prova disso.
Henrique Almeida Martins Curticeiro, 25 anos. Gestor de tecnologia e projetos. Responsável pela DMJ do Distrito Lagoa Branca e pela Divisão dos Estudantes Herdeiro da RM Morumbi, Sub. Oeste, CNSP.