Aqui mora a esperança

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 27/01/2023 08:00                                                                  RELATO DA REDAÇÃO

Do interior de Minas, Priscila tinge seus sonhos com as vibrantes cores da vitória

 

Reprodução/Foto-RN176 Priscila Araújo Soares, Responsável pela DFJ da Comunidade Morada Nova de Minas, Distrito Coração de Minas, RM Norte de Minas, CRE Leste – Foto: Arquivo pessoal

Sou Priscila, tenho 20 anos. Minha família e eu estamos em Morada Nova de Minas, cidade com pouco mais de 8 mil habitantes, no estado de Minas Gerais. Visitada pelos turistas, principalmente por ser ótima região para pescar e descansar, por aqui a maioria das pessoas anda de bicicleta, inclusive eu. Embora sem muitas distrações, é uma excelente cidade para se viver.

O budismo entrou em nossa vida antes de eu nascer, em 1999, quando meu pai foi apresentado à Soka Gakkai por um colega de trabalho, na prefeitura. A partir daí, junto com minha mãe, veio construindo nossa família, desafiando as dificuldades com coragem.

Algumas dessas dificuldades têm muito a ver comigo (risos), pois, na infância, eu adoecia frequentemente. Minha mãe vivia me levando ao hospital e nossa casa parecia uma pequena farmácia de tantos remédios que havia. Cheguei a ser internada aos 4 anos por problema pulmonar e, mais tarde, passei por cirurgia para retirar as amígdalas. Minha questão de saúde desafiou a convicção dos meus pais, mas vencemos. Sou uma pessoa que transborda boa saúde, e tenho a certeza da força da prática do Nam-myoho-renge-kyo agindo nessa transformação.

Apoio e desenvolvimento

Aos 14 anos, assumi a função de responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ) de bloco. A cidade é pequena, e apesar de somen­te eu atuar como DFJ, não me desestimulei. Tinha em meu coração dois objetivos para fazer a revolução em minha localidade: concretizar um shakubuku, ou seja, por meio da minha comprovação, inspirar outros jovens para atuarmos juntos por esse humanismo que abraçamos. E, outro, participar de uma atividade em que teria contato com vários jovens e evoluir como líder. Eu sabia (e agora com mais certeza) que tudo dependeria de mim.

Então, vou começar por um deles. No decorrer dos anos, surgiram oportunidades de alguns encontros. Mas, por ser muito nova, meus pais acabavam não me deixando ir. Contudo, segui confiante para transformar essa questão.

Reprodução/Foto-RN176 Priscila, à frente, com os pai – Foto: Arquivo pessoal

No início de 2020, já com 18 anos, vem o primeiro convite: integrar a Academia dos Sucessores Ikeda, que seria realizada em Salvador, BA. Minha responsável pela DFJ da RM Norte de Minas, Laís dos Santos Bispo, foi quem me indicou. Além de me incentivar pessoalmente, criou a ocasião de os pais dela conversarem com os meus, quando da visita deles à localidade. Ela gravou um vídeo explicando sobre a atividade, e a chance incrível que eu estava tendo e, como isso, transformaria a minha vida. E foi vitória! Meus pais aprovaram a minha ida a esse encontro e não pude me conter, chorando de felicidade na frente de todos. Meu sentimento era totalmen­te de gratidão.

Faço questão de contar esse episódio porque a preocupação da minha líder, e não só isso, bem como a sua ação para me apoiar no meu sonho, fez surgir dentro de mim profundos sentimentos. A liderança na Gakkai é algo extraor­dinário, muito diferente do que estamos acostumados na sociedade. Tem a ver com o coração, de querer de fato ajudar a pessoa à sua frente.

Bem, o sonho não se realizou ali não (risos). Em meio aos preparativos, cai a bomba do coronavírus. Com isso, a BSGI, seguindo os protocolos de higiene e de segurança e se preocupando com a saúde e o bem-estar de todos, cancelou o evento. Foi muito triste, mas, sem dúvida, a melhor decisão no momento. Quase três anos se passaram, continuei me dedicando às atividades on-line, tornei-me responsável pelas jovens da comunidade e pela Divisão dos Estudantes (DE) de distrito. Estava firme na prática, com meus pais. Eles venceram a sofrida questão financeira do início da prática e seguimos juntos nas atividades da organização.

Em julho de 2022, recebi um convite para representar a localidade no Curso de Primavera Soka, em São Paulo, com representantes de todo o Brasil. Era a oportunidade de realizar um dos dois objetivos que tracei. Não pensei duas vezes. Desligando o telefone, fiz minha inscrição. Seriam apenas quatro representantes da Subcoordenadoria Minas. Estaria lá, determinei.

Reprodução/Foto-RN176 Em encontro na organização de base local – Foto: Arquivo pessoal

Entenderia com maior profundidade que não estava indo apenas para uma atividade, mas criando causa para concretizar meus objetivos tal qual desenhei para mim. E outros que me surpreendem a cada dia.

Destino, a vitória

Foram dias maravilhosos, uma experiência que fez de meu 2022 o ano dos sonhos. Mas, vamos lá. Primeiro, não fazia ideia de como pagaria a viagem. Trabalho na empresa da família, com meu pai, Wellington, e com meu irmão, Guilherme. É uma loja onde vendemos materiais de pesca, hidráulicos e elétricos. Estava arcando com as despesas para tirar minha carta de motorista, dinheiro empenhado. Minha mãe se chama Cristina e foi a primeira a saber. “Então, faz daimoku e determina que você irá e tudo se encaminhará”, incentivou-me. Liguei para a minha líder contando os detalhes e ela também pulou de alegria comigo. Recitei meu daimoku de pura gratidão! Meu pai, vendo quanto eu estava me esforçando para participar da atividade, me ajudou com os custos da viagem.

Estímulo para toda a vida

Minha jornada começou no dia 8 de setembro. Como moro no interior de Minas, tive de embarcar em um ônibus para Belo Horizonte (BH), Minas Gerais (cerca de cinco horas de viagem) e de lá pegaria o avião para São Paulo, SP. Ao chegar a BH no início da tarde, lá estavam me aguardando Laís, minha líder incentivadora de todas as horas, e seu marido, João. Sou imensamente grata por tudo o que eles fizeram por mim.

Pode ser normal, para alguns, o fato de já terem entrado num shopping ou visitado lugares que só são vistos pela televisão, mas, para mim, era tudo novo. E com direito a chocolate embaixo do travesseiro no pernoite na casa da minha líder, com um carinhoso incentivo! Minha jornada de experiência do carinho Soka de viver estava só começando.

Acredito ter disfarçado a cara de susto na recepção em São Paulo, depois da minha primeira viagem de avião. Os jovens que me aguardavam nos levaram para conhecer o complexo BSGI, prédios magníficos. A sensação de você estar em locais que só via em jornais ou nas revistas é única. Ao olhar para tudo aquilo foi quando “caiu a ficha”, eu realmente estava ali. Quanta história temos para contar! É uma honra pertencer a essa organização. O roteiro do curso foi excepcional, recheado de conteúdo, emoção e contatos de vida. Conheci jovens maravilhosos, experiências e tudo o que viveram até chegar àquele dia. Incrível, mas quando ouvimos a dificuldade do outro, a nossa fica bem menorzinha, no cantinho dela.

Reprodução/Foto-RN176 Momentos na atividade da Juventude Soka em São Paulo – Foto: Arquivo pessoal

Tive a alegria de dialogar com o presidente da BSGI, Miguel Shiratori, e com a coordenadora da Divisão Feminina (DF), Meiry Hirano. Nós fomos recebidos com tanto carinho que o nosso coração se encheu de orgulho. “Eles existem, e são pessoas tão comuns, como a gente!”, meu íntimo badalava de emoção.

Em todos os momentos, sentía­mos como se o sensei estivesse lá do nosso lado, e no domingo esse sentimento ficou ainda mais forte. Ao final da atividade, recebemos a emocionante notícia que o Mestre estava ciente de tudo e que denominou o grupo de “Academia Índigo Juventude Soka do Brasil”. Quanta gratidão! Além disso, fomos acariciados por ele com belos oferecimentos.

Despedi-me daquele lugar com o coração cheio de alegria, gratidão e com o meu juramento renovado. Chegando ao aeroporto de BH, as novas experiências não cessavam. Laís e seu marido me levaram para conhecer o parque e andar pela primeira vez na roda-gigante. Sem dúvida, tudo marcou a minha vida para sempre.

Sonhar mais alto ainda!

A empolgação é tanta que deixei para falar, neste final, do meu segundo grande objetivo, lançado quando eu tinha 14 anos. Inspirar outras pessoas por meio do meu exemplo se tornou a minha missão de vida, fortalecida muito mais depois do curso da Juventude Soka. Vejo com outros olhos esse movimento da nossa organização, que vai além de reunir pessoas em atividades. Estamos ligados a uma nobre missão, e desejo ser essa líder. Quero ser o apoio, o carinho e pegar na mão de outros jovens e dizer quanto eles também podem realizar grandiosos sonhos. Estou me empenhando nas visitas na localidade, para ampliar diálogos e me unir aos jovens, concretizando o shakubuku. Coração vibra de alegria.

Reprodução/Foto-RN176 E com sua responsável, Laís – Foto: Arquivo pessoal

Nos estudos, eu me formei no ensino médio em 2019 e logo após comecei o cursinho para prestar vestibular, interrompido por causa da pandemia. Com tudo o que vi e ouvi no curso, voltei para Morada sonhando ainda mais alto. Já com planos em ação nesse início de ano, um dos meus objetivos pessoais é entrar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2024, e me formar como profissional da área da saúde, na qual eu possa ajudar várias pessoas. Decisão é decisão, e estou “tingindo” a minha com a certeza da vitória. Sou uma jovem do “azul mais azul que o índigo”, uai.

Não posso deixar de agradecer do fundo do meu coração à minha família; aos meus líderes, os quais me fazem acreditar que, mesmo nos desafios e na distância da pequena cidade onde moro, eu posso fazer a diferença. À Laís, em especial, que me inspirou não com simples incentivos, mas com sua ação e seu coração. A Ikeda sensei, que trouxe o budismo para o Brasil e criou essa onda de pessoas que fazem do sonho do outro o seu próprio. Eu me inspiro a cada dia com seus constantes incentivos.

Para finalizar meu relato, quero compartilhar um trecho do livro Seja a Esperança, escrito por Ikeda sensei, o qual tem feito cada vez mais sentido em meus dias.

Mesmo que o destino seja cruel, se não o temer e não vacilar, poderá transformá-lo em missão. Ao determinar firmemente em seu coração que irá transmitir coragem às pessoas que sofrem com as adversidades, por meio do seu drama pessoal de jamais ser derrotado, uma capacidade inimaginável emergirá. O espetáculo da vitória se encontra no ato de vencer de forma radiante no final, independentemente do que possa ocorrer no meio do caminho.1

Muito obrigada a todos!

Priscila Araújo Soares, 20 anos. Comerciante. Responsável pela DFJ da Comunidade Morada Nova de Minas, Distrito Coração de Minas, RM Norte de Minas, CRE Leste.

 Nota:

  1. IKEDA. Daisaku. Seja a Esperança. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2022. p. 8.

Fotos: Arquivo pessoal