Área 51 e o uso dos ETs contra a espionagem soviética

ROTANEWS176 E POR MEIOBIT 03/05/2021  11:15                                                                                                 Por Ronaldo Gogoni

Durante a Guerra Fria, alimentar rumores sobre alienígenas na Área 51 criou ruído para anular tentativas de espionagem soviética

Em 2013, o governo dos Estados Unidos acabou com ilusões de muitos teoristas da conspiração e malucos em geral, ao admitir publicamente a existência da Base Groom Lake e Aeroporto de Homey (KXTA), popularmente conhecida como Área 51, como uma instalação de testes para aeronaves de reconhecimento da Força Aérea, durante a Guerra Fria.

Enfiada no meio do deserto de Nevada e protegida com um fortíssimo esquema de segurança, incluindo avisos ameaçadores, ela foi referida por ufólogos e afins como uma base ultra secreta para testes com alienígenas, depósito de OVNIs e centro de desenvolvimento de tecnologias avançadíssimas. Todo esse ruído, no entanto, foi muito útil como cortina de fumaça.

Reprodução/*Foto-RN176  A realidade às vezes pode ser tão divertida quanto a ficção (Crédito: Reprodução/Centropolis Entertainment/20th Century Studios/Disney)

O nome “Área 51”, usado por qualquer um que não seja militar ou agente do governo dos EUA, teria sido uma piada referenciando o sistema de mapeamento da Comissão de Energia Nuclear, que dividia o território do país em áreas. A região de Groom Lake, em enorme salar no meio do deserto, onde a base se encontra, fica ao lado da região denominada Área 15.

Entre os alocados, as instalações eram conhecidas por apelidos mais atraentes, como “Terra dos Sonhos” (Dreamland) e “Rancho Paraíso”, enquanto que para fins de Relações Públicas, a base era comumente referenciada como “posto de operações próximo do Groom Lake”.

A base em si nunca foi secreta, é bem simples localizá-la no Google Maps e o acesso pode ser feito por estradas vicinais, que dão acesso a rodovias próximas, para o fluxo de comboios e tropas, como de praxe. O ponto, claro, é que ninguém passa de certo ponto, a segurança do lugar é extremamente reforçada. O uso de drones sobrevoando a região é proibido, visitantes (os poucos autorizados) não podem usar câmeras depois da cancela.

Curiosos em geral são recebidos por placas deste tipo:

Reprodução/*Foto-RN176 Detalhe para o “uso de força letal autorizado” (Crédito: Barry King/Getty Images)

Avisos como este são ligados ao Complexo Nellis da USAF, que reúne diversas bases de testes militares, de artilharia a aeronaves, esta a principal atividade da Área 51. Em geral, engraçadinhos dispostos a invadir as instalações podem ser presos e processados, ou multados em até US$ 1 mil. Na maioria dos casos, ambos.

O “uso de força letal autorizado” serve mais como um susto nos espertinhos, mas tinha seus motivos. A base de Groom Lake, originalmente um aeroporto, foi estabelecida em 1942, mas em 1955 ela foi escolhida como centro de testes de aeronaves de reconhecimento da Força Aérea, que precisava de aviões que voassem muito alto, ou muito rápido, ou ambos. Sua finalidade, espionar a União Soviética e aliados, sem que os aviões fossem abatidos.

Groom Lake foi escolhida por ficar no meio do nada, o que dificultava o acesso por curiosos, para que os protótipos fossem testados sem levantar suspeitas dos russos. O responsável foi um sujeito que sendo bastante justo, era provavelmente um alienígena de verdade: Clarence Leonard “Kelly” Johnson.

Reprodução/*Foto-RN176 Kelly Johnson (esq.) e Francis Gary Powers, o piloto do U-2 que os russos conseguiram abater (Crédito: National Museum of USAF)

O brilhante engenheiro aeronáutico da Lockheed foi o primeiro chefe da Skunk Works, o nome informal da divisão de desenvolvimento avançado da companhia, e na época já era responsável por uma série de aviões revolucionários, desde o caça bimotor P-38 Lightning (um dos mais belos já produzidos), à linha Constellation, as primeiras aeronaves de transporte civil pressurizadas.

Em sua tentativa de dar a volta ao mundo, no qual sumiu sem deixar vestígios, Amelia Earhart pilotava um Electra Model 10, cujo design foi de Johnson.

A base de Groom Lake era ideal para os testes de aeronaves desenvolvidas pela Skunk Works originalmente para a CIA, que deveriam atender às insanas especificações da agência, de um teto de até 70 mil pés. Johnson, como bom engenheiro e adepto do fator de encagaçamento, especificou como mandado, mas o avião tinha um teto máximo de 80 mil pés, ou 24,38 km de altitude.

O resultado foi o Lockheed U-2, apelido “Dragon Lady”, uma ignorância com asas que voa até hoje, operado pela Força Aérea. Seu primeiro voo de testes foi em 1955, e aqui começam os relatos de “avistamentos” de OVNIs relacionados à Área 51.

Reprodução/*Foto-RN176 Lockheed U-2 em ação (Crédito: Divulgação/Lockheed Corporation)

O motivo era bem simples, boa parte dos relatos vinham de passageiros em voos comerciais passando próximo da base, que na época voavam muito mais baixo, entre 10 mil e 20 mil pés. A título de comparação, o Boeing 787 Dreamliner tem um teto de “apenas” 43 mil pés.

Assim, qualquer coisa acima disso era entendido pelos leigos como uma nave alienígena, visto que nada construído pelo homem (que eles soubessem) podia voar tão alto. Oficialmente, a CIA e a Força Aérea desconversavam, emitindo pareceres propositalmente vagos como “balões meteorológicos” para pesquisas climáticas em grandes altitudes, ou jogavam tudo nas costas de “fenômenos naturais”.

A população não comprou as desculpas, e logo começaram a surgir grupos de conspiracionistas e malucos em geral, alegando que a base de Groom Lake era um polo para pesquisas com naves e tecnologias extraterrestres. Do lado do governo não confirmavam nem desmentiam, mas havia um motivo para isso.

Os russos não era tapados completos, eles já sabiam da existência da Área 51 e buscavam de todo jeito descobrir o que era testado lá, mas uma parte da espionagem se baseia em observação e vigilância, mas com a região tendo virado um celeiro de ufeiros, com hotéis e excursões turísticas, qualquer um que tivesse um sotaque estranho, enfiado no meio do público, seria identificado como um espião vermelho em dois tempos.

Reprodução/*Foto-RN176 O protótipo do F-117 também foi testado em Groom Lake (Crédito: US Department of Defense)

Ao mesmo tempo, era praticamente impossível filtrar informações realmente relevantes dos testes realizados em Groom Lake, de todo o ruído de uma turba falando de ETs o tempo todo, e estes não se interessavam por voos das aeronaves que pudessem reconhecer como tais, mesmo se fossem projetos secretos. Dessa forma, a CIA e a Força Aérea criaram uma cortina de fumaça sem muito esforço, que manteve os soviéticos longe das pesquisas realizadas pela SkunkWorks.

O U-2 foi usado pela CIA como aeronave de reconhecimento por um bom tempo, sobrevoando inclusive o território soviético, até o dia em que a aeronave de Francis Gary Powers foi derrubada em 1960, acabando com a proteção do alto teto máximo em que operava.

A solução para isso foi focar em aeronaves que voassem muito alto, mas que ao mesmo tempo fossem rápidas demais para qualquer tipo de bateria antiaérea, como o sistema terra-ar S-75 Divina, ou SA-2 Guideline para o comando da OTAN, que derrubou o U-2.

O resultado foi a família Blackbird, que inclui o SR-71 para a Força Aérea e a NASA e o A-12 para a CIA, mas ambos eram essencialmente o mesmo avião, voando a um teto de até 85 mil pés e uma velocidade máxima de em torno de Mach 3,5. Ainda hoje nada tripulado, fora foguetes, voa tão alto e tão rápido.

Reprodução/*Foto-RN176 A orgulhosa família Blackbird (Crédito: USAF)

Uma curiosidade, a Lockheed testou um drone supersônico entre 1969 e 1971, o drone D-21, que seria lançado do M-21, o protótipo do A-12, mas o projeto não foi para a frente. Tecnicamente ele era bem similar ao SR-71, também operando em velocidade acima de Mach 3.

Várias plataformas de testes foram usadas na Área 51, incluindo os protótipos do F-117 Nighthawk, o bombardeiro desenvolvido com tecnologias stealth, o F-22 e até caças soviéticos, como o MiG-21 e o MiG-17F, que os americanos conseguiram capturar.

Hoje a base continua sendo ampliada e usada para testar novas plataformas de voo para os militares, e muitos ufeiros ainda acreditam que a Área 51 é usada para guardar tecnologias alienígenas, o que até é verdade, se olharmos para os projetos de Kelly Johnson, que parecem coisa de outro mundo, mas foram desenvolvidas aqui mesmo.

Fonte: Popular Mechanics