ROTANEWS176 E JOVEM PAN 05/12/2016 00h24
Reprodução/Foto-RN176 Agência Brasil
“Não importa se você é de esquerda, direita ou centro. Você tem que ir para as ruas protestar contra a corrupção”. Assim o grupo Vem Pra Rua, através do Facebook, convocou a população para a manifestação desse domingo (04) no Brasil, e em São Paulo, na Avenida Paulista.
A esquerda, entretanto, não se convenceu com a motivação dos protestos de 4 de dezembro. Apesar de consentimento em alguns temas, não há concordância em apoiar grupos que defenderam um governo, para eles, ilegítimo. Além do Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre (MBL) e Nas Ruas foram os grupos mobilizadores para os atos deste domingo.
A manifestação da Avenida Paulista, na capital paulista, estava marcada para as 14h, mas foi a partir das 16h que grande parte das pessoas começou a ocupar os espaços da via mais famosa da cidade, que, aos domingos, é fechada para carros. Segundo a Polícia Militar, aproximadamente 15 mil pessoas estiveram presentes no horário de maior pico entre 16h e 17h. Os manifestantes falam em 200 mil pessoas na via durante todo o ato.
Motivado principalmente pela nova configuração do pacote de medidas contra a corrupção, aprovado em primeiro turno na Câmara e que põe em dúvida o andamento da Operação Lava Jato, este é o primeiro ato de âmbito nacional durante o Governo Temer organizado pelos movimentos que ocuparam as ruas a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Entretanto, não significa que desta vez o alvo tenha sido o presidente da República.
“Fora Renan”
A anistia ao caixa dois poderia ter colocado Temer como alvo dos protestos, mas ao rejeitar a proposta, os grupos organizadores mostraram-se ao lado do governante – pelo menos por enquanto. Poucos eram os cartazes escritos “Fora Temer”. Um destes foi logo repreendido por uma mulher que avistou os escritos de cima de um carro do som. “O que exatamente você quer dizer com esse cartaz?”, chamou a atenção.
Já Renan Calheiros foi o grande alvo da vez. Além de tornar-se réu pelo crime de peculato (desvio de dinheiro), o presidente do Senado é pressionado a não aprovar no Congresso a lei de abuso de autoridade, aprovada entre as medidas contra a corrupção na Câmara. O Movimento Brasil Livre (MBL) um dos grupos de apoio às manifestações, já confirmou que, caso ele não interfira, uma nova manifestação será convocada para o próximo domingo.
Além da capital paulista, cidades da Grande São Paulo, ABC e Mogi das Cruzes, Indaiatuba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Rio Claro, Araçatuba, Campinas, Franca e Bauru, no interior, contaram com manifestações semelhantes.
Reações – Temer, Maia e Renan
Maior alvo dos protestos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) se manifestou antes do fim dos atos deste domingo.
“O presidente do Senado, Renan Calheiros, entende que as manifestações são legítimas e, dentro da ordem, devem ser respeitadas”, disse em texto divulgado.
Reprodução/Foto-RN176 Agência Brasil
O peemedebista acredita ainda que, à semelhança do que houve em 2013, quando no auge das manifestações, o Senado votou propostas contra a corrupção, mais uma vez o Senado está “sensível às demandas sociais”.
Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, divulgou uma nota em nome da instituição classificando os protestos como legítimos e democráticos. “Manifestações desse tipo, em caráter pacífico e ordeiro, servem para oxigenar nossa jovem democracia e fortalecem o compromisso do Poder Legislativo com o debate democrático e transparent de ideias”, escreveu.
Reprodução/Foto-RN176 Presidência da República
O Palácio do Planalto, sede do governo Michel Temer, ressaltou em breve nota, por sua vez, a “vitalidade” da democracia e destacou o caráter que chamou de “pacífico e ordeiro” dos atos.
Em meio à crise institucional entre Judiciário e o Legislativo, a nota afirma que o “respeito cívico” demonstrado nos atos “fortalece ainda mais nossas instituições”. Por fim, o Planalto cobra atenção “às reivindicações da população brasileira”.
Rio
Milhares de pessoas participam neste domingo do protesto na orla da praia de Copacabana, no maior protesto concentrado deste domingo. Manifestantes carregavam cartazes e faixas de apoio à Operação Lava Jato, ao juiz Sérgio Moro, ao Ministério Público e à Polícia Federal.
Organizadores estimaram em 600 mil o número de presentes, enquanto agentes de segurança que acompanham o protesto calcularam extraoficialmente a adesão de até 400 mil. Figuravam entre os alvos do protesto o presidente do Senado, senador Renan Calheiros, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Reprodução/Foto-RN176 Agência Brasil
“Todo o poder emana do povo. O povo brasileiro está reunido para dizer não aos corruptos, a esses incompetentes que enfiaram o Brasil nesse buraco sem fundo”, bradou o humorista e apresentador Jovem Pan Marcelo Madureira, do alto do caminhão de som do movimento Vem pra Rua RJ.
“A imundície chegou a um ponto insuportável. Não adianta deixar o Temer, porque ele é vice da Dilma”, disse Hélio Marcus, militar reformado da Força Aérea Brasileira, que defende uma intervenção militar no País.
Já o engenheiro Bruno Coelho esteve na manifestação para protestar contra a corrupção, mas em defesa da manutenção da democracia. Acompanhado pela mãe e pela filha, ele vê com bons olhos o atual debate político que mobiliza cidadãos de todo o País.
A professora de Ciências Políticas Maria Guadalupe Rodrigues, que leciona atualmente nos Estados Unidos, carregava um cartaz com os dizeres “#VetaTemer ou #ForaTemer”. “Se ele não vetar a alteração nas 10 medidas contra a corrupção é porque ele optou pelo fisiologismo do PMDB. E se ele optou pelo fisiologismo do PMDB, fora!”, exclamou a professora.
Brasília
Os protestos desta manhã de domingo (4) na capital federal tinham um alvo claro: o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que se tornou réu na última semana e vai responder à ação penal por peculato. Manifestantes protestaram contra a classe política, focando nos deputados e senadores, mas preservaram o presidente Michel Temer.
A manifestação começou por volta das 10h e se encerrou ao meio-dia, com o início da chuva. A Polícia Militar do Distrito Federal estima que, no auge do protesto, estiveram presentes 5 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. A manifestação foi tranquila e não houve registros de ocorrências.
Reprodução/Foto-RN176 Agência Brasil
Não houve registros de manifestações direcionadas a Michel Temer. Durante a cobertura, não foram identificadas manifestações contrárias ao peemedebista, tampouco palavras de ordem ou gritos de guerra foram chamados do carro de som contra o presidente.
O Palácio do Planalto teme que a nova onda de protestos pelo País se volte contra o presidente, assim como aconteceu com a presidente Dilma Rousseff. No Congresso, um pedido de impeachment de Temer foi protocolado pelo PSOL e outro, do PT, está em fase de elaboração.
BH
Cerca de 8 mil pessoas participaram de protesto na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, contra as mudanças no projeto de lei das 10 medidas. A estimativa do número de participantes é da organização do protesto, que tem à frente os movimentos Vem pra Rua e Patriotas.
Na capital mineira, porém, ao mesmo tempo em que protestavam contra as mudanças no projeto de lei, os organizadores do ato atacaram também o governador do estado, Fernando Pimentel (PT), investigado por corrupção no âmbito da Operação Acrônimo, da Polícia Federal. Uma foto do governador foi atacada com lama. O mesmo ocorreu com a de Renan Calheiros, que estava ao lado.
Recife
Com a presença de bonecos gigantes, típicos do Carnaval pernambucano, o protesto organizado pelo grupo Vem Para a Rua reuniu centenas a beira mar do bairro de Boa Viagem, zona Sul da cidade. A porta-voz do movimento capital pernambucana, Maria Dulce, disse esperar a chegada de um número bem maior de manifestantes nas próximas horas.
Muitos carregaram faixas e cartazes em apoio ao juiz Sérgio Moro e à Operação Lava Jato e também com críticas a parlamentares pernambucanos que votaram a favor do que eles consideram o “fatiamento e desvirtuação” do pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal. Houve também mensagens pedindo a renúncia de Renan Calheiros.
Manaus
Centenas de pessoas se reuniram durante a manhã na Praça do Congresso, no centro de Manaus (Amazonas). Os manifestantes estavam com roupas verde-amarelas, alguns vestiam preto, carregavam bandeiras do Brasil, faixas e cartazes com palavras de ordem como “Fora, Renan” e “Viva, Moro”.
Opinião – Marco Antonio Villa
Antes de comparecer ao protesto, mais cedo, o historiador e comentarista da Jovem Pan, Marco Antonio Villa, disse que o projeto aprovado na Câmara foi um “tapa na cara” da população brasileira.
Villa ainda fez duras críticas ao presidente do Senado, Renan Calheiros. Segundo ele, em qualquer país sério, o senador já estaria na cadeia, e se referiu ao parlamentar como “corrupto” e “ladrão”.
Em meio à Avenida Paulista, Villa disse que o “povo organizado está dizendo não ao Congresso Nacional”. O historiador disse haver um choque entre as instituições e as ruas. “O Brasil mudou e a elite política acha que o Brasil não mudou”.
Mais reações e analistas
A Jovem Pan acompanhou durante todo o dia a movimentação pelo Brasil e repercutiu com políticos, membros de organizações e analistas as manifestações pelo Brasil. Confira as principais entrevistas:
O senador Ronaldo Caiado (DEM), que foi ao ato da Av. Paulista com sua família, falou em “não acirrar os ânimos”.
“No momento que não está tendo habilidade, inteligência e, muito menos, tolerância por parte dos poderes constituídos, nós podemos provocar um quadro que amanhã, faltando essa interlocução, mostre para a sociedade uma total desordem entre as instituições que devem ter a responsabilidade de poder finalizar a crise, com combate à corrupção e também ao mesmo tempo uma boa gestão”, disse Caiado.
Reprodução/Foto-RN176 Divulgação Twitter
“Se isso tudo não tiver uma sinalização clara pra sociedade, a sociedade pode, desacreditando das instituições constituídas, entrar em um processo de desobediência civil. Uma ruptura completa das normas democráticas. Essa é a minha preocupação maior. É o momento de não querermos acirrar os ânimos. É momento de nós não querermos aceitar com que cada instituição haja como uma corporação, e sim que cada instituição saiba da sua responsabilidade com a democracia”, completou.
Juízes federais
O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, fez questão de agradecer o suposto “apoio do povo brasileiro” que foi às ruas do País neste domingo em atos a favor da Operação Lava Jato e contra o Congresso e a corrupção. “Nós agradecemos, como juízes, encarregados por essas investigações, o apoio do povo brasileiro”, disse.
“Vemos as manifestações que estão ocorrendo pelo Brasil como uma grande festa cívica do povo brasileiro dizendo que é preciso dar um basta à corrupção e que é preciso também entregar mecanismos, instrumentos para a magistratura e ao Ministério Público, e também à polícia, para o correto enfrentamento deste mal”, afirmou o magistrado.
Carvalhosa
“Deve ter no mínimo uns 200 deputados (que votaram a favor do projeto) que estão nessa lista da delação da Odebrecht. E os outros que não estão, também votaram a favor da legalização da corrupção nessa madrugada de terça-feira pra poder entrar na dança da corrupção. Porque com a legalização da corrupção que eles votaram naquele dia, criminalizando o poder judiciário, criminalizando o Ministério Público, eles agora acham que podem usufruir da corrupção”, disse o especialista em direito empresarial Modesto Carvalhosa.
Medidas
“[Essas mudanças] demonstram que o parlamento não está nem um pouco interessado em acabar com a corrupção”, disse a procuradora da República Thaméa Danelon Valiengo, coordenadora da campanha das 10 medidas em SP, em entrevista exclusiva. “A campanha ocorreu durante um ano e meio e a população sabia muito bem o que estava assinando, mas tudo foi jogado no lixo”.
Para Thaméa, a não ser a criminalização do caixa dois e o aumento da pena para corrupção, o texto final com todas suas mudanças deixou um sentimento de frustração. Não foram aprovados pontos chave como a criminalização do recurso ilícito e a responsabilização dos partidos políticos pelo ato de seus integrantes e, ainda de maior preocupação, “sem discussão alguma com a população, no meio do pacote entrou a lei de abuso de autoridade”.
Propósito definido
O propósito do protesto contra o Congresso e a favor da Lava Jato é pressionar o Legislativo para que não aprove as medidas anticorrupção nos moldes em que elas foram aprovadas e mudadas na Câmara. “O objetivo imediato é justamente esse: que o Senado não repita o erro que a Câmara cometeu de madrugada”, diz , Luiz Flávio Gomes, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil..
Mais participação
O cientista político Rafael Cortez avalia que, com as manifestações deste domingo (4), “a sociedade mostra que de fato há esse apoio à Lava Jato e às instituições de controle” da política brasileira.
Ouça a entrevista completa
Ele entende ainda que o cidadão exige mais participação nas decisões de Brasília. “A sociedade mostra que de fato há esse apoio à Lava Jato e às instituições de controle”, afirma. Se isso de fato ocorrer, “vai enriquecer bastante a democracia brasileira”, projeta.
Kim: “não é contra o governo”
e acordo com um dos organizadores do Movimento Brasil Livre Kim Kataguiri, os objetivos dos protestos são: que o pacote anticorrupção, que foi desconfigurado na Câmara, seja rejeitado no Senado Federal; que a proposta do fim do foro privilegiado seja aprovado e vá pra Câmara; e também marcar e pontuar a responsabilidade do presidente do Senado Renan Calheiros em tudo que está acontecendo.
Reprodução/Foto-RN176 Kim discursa na Av. Paulista contra Renan e Aécio Neves, por seu apoio ao peemedebista (foto: Thiago Navarro)
“Não é uma pauta contra um governo, ou contra um partido político, ou contra mesmo uma figura política em específico. Se fala sobre o projeto de medidas que foi proposto pelo próprio Ministério Público”, disse Kataguiri.
Com informações de Estadão Conteúdo