Baleias engolem até 10 milhões de peças de microplástico por dia

ROTANEWS176 E POR BYTE 02/11/2022 05h00                                                                                                            Por Ivana Fontes

Animais podem estar sofrendo perda nutricional em razão do consumo de presas repletas de microplásticos

Reprodução/Foto-RN176 As baleias jubarte, que não comem os camarões ‘krill’ e tem uma dieta apenas de peixes, ingerem uma quantidade menor de microplásticos, mas ainda muito: 20.000 por dia Foto: Brigitte Werner / Pixabay

As baleias, conhecidas por terem espécies na lista dos maiores animais da Terra, ingerem pequenas partículas de plástico em quantidades imensas, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Stanford. Aa baleias azuis, por exemplo, que se alimentam de camarões do tipo krill, ingerem cerca de 10 milhões de peças de microplástico por dia.

O estudo, publicado na revista Nature, concentra seu recorte nas baleias azuis, “barbatanas” e jubartes. Os autores mediram a concentração dos microplásticos na costa da Califórnia para cima e para baixo na coluna de água.

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Foi assim que eles descobriram que as baleias se alimentam majoritariamente de 50 a 250 metros abaixo da superfície, uma profundidade onde ficam as maiores concentrações de microplástico no oceano aberto.

“Eles nadam mais baixo na cadeia alimentar do que você poderia esperar se baseando no seu tamanho maciço, o que os coloca mais perto de onde o plástico está na água. Há apenas um elo: o krill come o plástico, e então a baleia come o krill”, comentou o coautor do estudo e pós-doutor do laboratório marinho da Universidade de Stanford, Matthew Savoca.

Reprodução/Foto-RN176 Por conta da quantidade de microplásticos ingeridos, baleias podem não estar recebendo a nutrição necessária para viverem bem Foto: Naja Bertolt Jensen / Unsplash

As baleias jubarte, que subsistem com peixes de arenque e anchovas, ingerem cerca de 200 mil pedaços de microplástico por dia. Já as espécies que comem principalmente krill chegam a pelo menos um milhão de pedaços. As baleias-barbatanas, por exemplo, que têm em suas dietas tanto os peixes quanto o krill, ingerem de 3 milhões a 10 milhões de peças diariamente.

Baleias que nadam por regiões mais poluídas, como o Mar Mediterrâneo, provavelmente marcam números de consumo de microplásticos ainda maiores, segundo Savoca.

Reprodução/Foto-RN176 As baleias que comem krill acabam ingerindo maiores quantidades de microplásticos Foto: Miria Grunick / Flickr

Plástico não é alimento

Outra descoberta dos pesquisadores é que quase todos os microplásticos que as baleias consomem vêm na verdade de suas presas, e não do enorme volume de água que elas engolem dos oceanos para capturar krills e peixes pequenos.

Shirel Kahane-Rapport, que trabalhou na pesquisa como doutorando no Laboratório Goldbogen em Stanford, disse que esta é uma descoberta preocupante porque sugere que as baleias podem não estar recebendo a nutrição necessária para viverem bem.

“Precisamos de mais pesquisas para entender se os krill que consomem microplásticos crescem menos ricos em petróleo, e se os peixes podem ser menos carnudos, menos gordurosos, tudo devido ao consumo de microplásticos que lhes dá a ideia de que eles estão cheios”, alertou Kahane-Rapport.

RN176 Foto aérea de uma baleia jubarte se alimentando

A pesquisa vem de mais de uma década de análises de dados do Laboratório Goldbogen. Tecnologias como drones e aparelhos com sensores, que ficam nas costas das baleias para captar dados de movimento e fisiológicos, são amplamente suados para contribuir com as descobertas. Sondas sonoras também ajudam a mapear a profundidade e densidade dos peixes, assim como as manchas de krill.

Os cientistas ainda não sabem o que acontece com o microplástico dentro das baleias. “Pode estar coçando os forros de seu estômago. Pode ser absorvido pela corrente sanguínea, ou tudo pode só passar pelo animal. Ainda não sabemos”, declarou Kahane-Rapport.

Os próximos passos serão examinar como são criadas as manchas densas de microplásticos e presas e como os microplásticos afetam o valor nutricional das baleias, além de uma variedade de espécies oceânicas economicamente e ecologicamente importantes.