ROTANEWS176 E POR CNN 31/12/2021 14:48 Por Kevin Liptak
Telefonema de 50 minutos não rendeu grandes avanços; presidente americano alertou líder russo sobre sanções econômicas severas caso prossiga invasão
Reprodução/Foto-RN176 Vladimir Putin (à esquerda) e Joe Biden (à direita)Reuters
OrO presidente Joe Biden pediu ao presidente russo Vladimir Putin na última quinta-feira (30), para que tomasse medidas para aliviar a crise persistente na fronteira da Rússia com a Ucrânia, alertando novamente sobre as terríveis consequências econômicas caso Putin prossiga com uma invasão.
O telefonema de 50 minutos não rendeu grandes avanços, disseram autoridades americanas e russas depois, mas estabeleceu o teor para as próximas conversas diplomáticas presenciais entre os dois lados.
Putin solicitou o telefonema esta semana, e Biden — que acredita que nada pode substituir conversas diretas entre chefes de Estado — estava ansioso para atender.
Biden e Putin falaram pela última vez em 7 de dezembro, em uma videoconferência que terminou com a promessa de reiniciar as discussões diplomáticas — mas nenhuma indicação que a Rússia estava se preparando para diminuir a mobilização.
Putin deu poucas pistas novamente sobre suas intenções na quinta-feira, disseram autoridades após a ligação.
Em vez disso, os dois chefes mantiveram o que um oficial americano descreveu como uma discussão “séria e substantiva”, durante a qual Biden traçou dois caminhos para Putin enquanto ele continua a reunir tropas russas na fronteira com a Ucrânia: um deles é uma rota diplomática para diminuir a mobilização e o outro focou na dissuasão através de sanções econômicas, aumento da presença de tropas dos EUA no lado oriental da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e aumento da assistência à Ucrânia.
O caminho escolhido “dependerá das ações da Rússia no período em seguida”, disse o funcionário, dizendo que pode haver “sérios custos e consequências” caso a Rússia continue com sua agressão regional.
Putin respondeu com uma advertência terrível, disse um assessor do Kremlin. Ele disse a Biden que a introdução de uma nova rodada de sanções contra a Rússia seria um “erro colossal” que poderia levar a um colapso total das relações entre os dois países.
“Muitos desses erros foram cometidos nos últimos 30 anos”, disse o assessor presidencial russo Yury Ushakov, “e é aconselhável não cometer esses erros novamente”.
Biden também disse a Putin que os EUA não planejam implantar armamento na Ucrânia, disse Ushakov.
Putin “observou que este é um dos pontos-chave incluídos no projeto [sobre as garantias de segurança que a Rússia busca]”, acrescentou Ushakov.
Cerca de 100 mil soldados russos permanecem reunidos na fronteira com a Ucrânia, apesar dos avisos de Biden e de líderes europeus sobre sérias consequências caso Putin avance com uma invasão.
Autoridades dos EUA também dizem que Moscou está engajada em uma campanha massiva de desinformação com o objetivo de minar o governo da Ucrânia antes das eleições nacionais ucranianas.
Biden conduziu a ligação de sua casa em Wilmington, no estado de Delaware.
As negociações entre Biden e Putin acontecem cerca de duas semanas antes de americanos e diplomatas russos se reunirem em Genebra para discutir a crise em curso.
Na preparação para essas discussões, a Rússia ofereceu publicamente uma lista de preocupações de segurança e as demandas que deseja abordar, incluindo um compromisso de que a Ucrânia nunca seja autorizada a aderir à
OTAN e que o equipamento militar da aliança não seja posicionado nos antigos estados soviéticos.
Os Estados Unidos prepararam sua própria lista de preocupações, disse um funcionário sênior do governo americano a repórteres na quarta-feira, mas não planejam divulgá-la publicamente.
Em vez disso, os assessores de Biden acreditam que será mais proveitoso manter as negociações privadas.
A vice-secretária de Estado, Wendy Sherman, vai liderar a delegação dos EUA nas negociações, que estão marcadas para 10 de janeiro, disseram à CNN várias fontes familiarizadas com o assunto. Biden e Putin não devem participar pessoalmente.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, vai liderar a delegação russa. Funcionários do Pentágono e do Conselho de Segurança Nacional também participarão das negociações do lado dos EUA, disse um funcionário sênior do governo na quarta-feira (29).
As conversações diretas EUA-Rússia serão seguidas de reuniões mais amplas entre a OTAN e a Rússia, juntamente com uma reunião da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, onde uma lista de tópicos está em discussão.
Os Estados Unidos prometeram manter os países da Europa Ocidental e a própria Ucrânia informados, enquanto Biden enfrenta Putin diplomaticamente. O secretário de Estado, Antony Blinken, falou na quarta-feira (29) com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, e funcionários da Casa Branca disseram que eles estão em contato quase diário com correlatos do Reino Unido, França e Alemanha para coordenar a abordagem.
“Há uma coordenação de segurança significativa entre a Ucrânia e os Estados Unidos e a essa coordenação só tem se intensificado nas últimas semanas”, disse um assessor de Zelensky.
Os EUA conseguiram convencer seus aliados a preparar um conjunto de sanções severas, incluindo contra alguns dos principais aliados de Putin, como parte de uma abordagem coordenada.
Autoridades americanas disseram que a punição seria muito mais severa do que as sanções aplicadas em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia.
Desde a última vez em que Biden falou com Putin, não há indícios de que a Rússia esteja abrandando sua postura na fronteira com a Ucrânia, embora um funcionário do alto escalão do governo tenha dito que a situação era fluida.
“Não é totalmente estático de nossa perspectiva”, disse o funcionário. “O que os russos têm feito dentro e ao redor dessa área de fronteira continua sendo uma fonte contínua de grande preocupação”.
A movimentação russa incluiu tropas, artilharia, veículos e linhas de abastecimento, disseram as autoridades anteriormente. No início desta semana, a Rússia anunciou que retornaria 10 mil soldados aos quartéis regulares.
Mas as autoridades americanas sugeriram que o movimento não significou uma desmobilização significativa.
Enquanto isso, os EUA mantiveram sua postura na região. O secretário de Defesa Lloyd Austin ordenou que o porta-aviões Harry S. Truman e seus navios de escolta ficassem na área do Mediterrâneo em vez de navegar para o Oriente Médio, como parte de um esforço para tranquilizar os aliados europeus.
Antes da discussão na quinta-feira, a Força Aérea dos EUA voou outro avião espião sobre o leste da Ucrânia para coletar informações sobre a situação militar no terreno, disse à CNN uma fonte familiarizada com a missão.
Foi a segunda vez nesta semana que os EUA realizaram tal missão usando o Sistema de Radar de Ataque de Alvos de Vigilância Conjunta E-8C (JSTARS, na sigla em inglês).
O primeiro voo, na segunda-feira, marcou a primeira vez que uma aeronave do JSTARS sobrevoou a região, disse o Tenente Comandante Russ Wolfkiel, porta-voz do Comando Europeu dos EUA.
Wolfkiel disse à CNN que os EUA “costumam operar aeronaves na região do Mar Negro em apoio a vários objetivos de inteligência dos EUA e da coalizão”, mas os voos acontecem enquanto os EUA tentam coletar informações sobre os movimentos das tropas russas ao longo da fronteira com a Ucrânia.
O sistema JSTARS pode rastrear veículos terrestres quando eles estão se movendo, coletar imagens e retransmitir fotos e rastros de formações em movimento para comandantes terrestres e aéreos, o que por sua vez permitiria aos EUA e seus aliados monitorar a postura da força russa.
Uma antena a bordo tem o campo de visão de 120 graus que pode cobrir cerca de 51.799,762 quilômetros quadrados para monitorar os movimentos do solo, de acordo com uma ficha da Força Aérea, e também pode detectar aeronaves.
Com informações de Natasha Bertrand e Anna Chernova