Bolsas da China têm forte queda e ‘arrastam’ mercados; entenda

Ações vêm perdendo valor desde junho e já acumulam baixa de 30%. Economia não tem mostrado dados positivos, e mercado está receoso.

ROTANEWS176 E G1 08/07/2015 18h55

As bolsas de valores chinesas têm protagonizado uma queda livre nas últimas sessões, com empresas correndo para escapar do desastre, tendo suas ações suspensas e os principais índices acionários despencando.

1

Reprodução/Foto-RN176 80% dos investidores chineses são cidadãos (Foto: Reuters)

A Bolsa de Xangai fechou em baixa de 5,90% nesta quarta-feira (8), gerando um clima de pânico nos mercados. O índice de referência perdeu 219,93 pontos, a 3.507,19 unidades, depois de operar em queda de 8% durante a sessão. A Bolsa de Shenzhen fechou em baixa de 2,5%.

Também foram suspensas as negociações das ações de 1,3 mil empresas em Xangai. Ou seja: o preço delas não pode cair mais porque seus papéis não podem ser comprados ou vendidos.

Entenda o que está derrubando o mercado chinês:

1                                                                                               Reprodução/Foto-RN176

O que está acontecendo com a bolsa chinesa?
As ações chinesas vêm perdendo valor desde o mês passado. De junho até agora, a queda chega a 30%. Os dados da economia chinesa não têm sido muito positivos ultimamente, e isso vem gerando temor entre os investidores sobre a “saúde” do país. O PIB do primeiro trimestre, por exemplo, apesar de ter crescido 7%, mostrou o pior ritmo em seis anos.

“Nunca vi esse tipo de queda antes. Não acho que alguém tenha visto. A liquidez está totalmente esgotada”, disse o analista da Northeast Securities Du Changchun.

Não se sabe, no entanto, o que provocou a forte onda de venda de ações que acentuou a queda das cotações nos últimos dias.

Quem são os investidores que estão fugindo da bolsa?
Na China, diferentemente dos mercados europeus ou dos Estados Unidos, 80% dos investidores são cidadãos, pessoas físicas. Muitos deles são inexperientes e seguem rumores ao tomar decisões. Assim, o mercado é mais vulnerável a reviravoltas repentinas, como num rebanho.

Outro lado da questão é que investidores de longo prazo estão investindo menos em ações porque muitos acumularam bons ganhos no último ano. O índice de Xangai, por exemplo, havia acumulado alta de 150% até junho.

Por que o público investidor é diferente?
O governo de Pequim tinha visto nos mercados acionários uma peça importante na estratégia de transformar o país numa sociedade de consumo. A popularização das bolsas serviria para recapitalizar as endividadas empresas do país e, ao mesmo tempo, fazer com que o pequeno investidor se sentisse rico. No entanto, o efeito tem sido oposto.

Como fica a situação das empresas que têm ações nas bolsas?
Com essa forte queda, as empresas tiveram que suspender a negociação de suas ações para que o “prejuízo” não fosse ainda maior – ou seja, esses 1.300 papéis não puderam ser nem comprados nem vendidos.

O governo chinês tomou alguma providência diante dessa queda?
A agência que supervisiona as maiores estatais do país disse tê-las aconselhado a não vender ações e a comprar mais “para garantir a estabilidade do mercado”. Mas as medidas não surtiram efeito – e o risco de intervenção do governo poderá só piorar as coisas, já que investidores podem se assustar ainda mais.

Outras medidas foram tomadas incluem emissões de bônus financeiros ou refinanciamento de empréstimos e o aumento das compras de ações de pequenas e médias empresas pela Comissão Reguladora da Bolsa de Valores da China para aumentar a liquidez do mercado.

As autoridades chinesas já tinham tomado durante o fim de semana uma ampla bateria de medidas para acalmar o mercado, mas não adiantou.

O que os analistas pensam sobre isso?
Alguns analistas não acreditam que o medo de que uma queda ainda maior das bolsas possa causar um choque mais sério na economia.

“O mercado acionário é tão pequeno, completamente irrelevante”, disse Chen Long, economista da Gavekal Dragonomics para a China. “Responde por apenas 5% da riqueza das famílias chinesas e, de qualquer maneira, o mercado está no mesmo lugar onde estava no ano passado.”

Além do risco econômico, há o potencial de revolta popular com as perdas. Em meio a uma desaceleração do PIB, a última coisa que o governo quer são dezenas de pequenos investidores protestando nas ruas.

Há reflexos no Brasil?
O principal índice da Bovespa fechou em baixa. O mercado está cauteloso quanto a eventuais efeitos de nova queda nos mercados acionários na China.

“A forte correção nos mercados acionários da China pode ser indício de uma desaceleração mais ampla do gigante asiático e quem deve sofrer com isso são aqueles países exportadores de commodities, como o Brasil”, escreveu em nota a clientes o operador Jefferson Luiz Rugik, da corretora Correparti.

Como fecharam os mercados asiáticos em geral?
A Bolsa de Xangai fechou em baixa de 5,90%, em um clima de pânico, apesar das novas medidas das autoridades e da suspensão da cotação de quase 1.300 títulos do mercado chinês.

O índice de referência perdeu 219,93 pontos, a 3.507,19 unidades, depois de operar em queda de 8% durante a sessão. A Bolsa de Shenzhen fechou em baixa de 2,50%.

Na Bolsa de Hong Kong, a queda foi de 5,84%. O índice Hang Seng perdeu 1.458,75 pontos e fechou o dia a 23.516,56 unidades, o menor resultado desde janeiro. Durante a sessão, a baixa chegou a 8,43%.

Em Tóquio, o índice Nikkei perdeu 3,14% (638,95 pontos), a 19.737,64 pontos, ficando abaixo da marca de 20.000 pontos pela primeira vez desde 18 de junho.

Outros mercados também foram afetados: Seul perdeu 1,18% e Sydney registrou queda de 2,01%.