Brado indomável pela paz

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  02/09/2021 08:19

REDAÇÃO/ESPECIAL

 Reprodução/Foto-RN176 Josei Toda Mestre o Educador e Pacifista e o Segundo Presidente da Soka Gakkai – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Há 64 anos, embora com a saúde precária, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, reunindo suas forças, clamou aos jovens que assumissem o desafio de tornar realidade a abolição das armas nucleares

Era 8 de setembro de 1957. Exatamente às 9 da manhã, foi iniciado o Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão. Mais de 50 mil jovens lotavam o Estádio de Desportos de Mitsuzawa. Desde muito cedo, os membros chegavam à estação de Yokohama e entravam nos ônibus que os levariam ao estádio. Um ônibus a cada 40 segundos. Nessa média, rapidamente os participantes chegavam e aguardavam ansiosos o encontro.

A expectativa geral era sobre a possibilidade de haver um tufão naquele dia. Mas Josei Toda desejava ardentemente que o clima estivesse agradável para que seus discípulos desfrutassem momentos tranquilos. E assim foi. O dia estava quente e o sol brilhava radiante. O tufão enfraqueceu e se dissipou.

Mestre e discípulo

O jovem Daisaku Ikeda era discípulo de Josei Toda. Fortalecido diariamente durante dez anos a fio, Ikeda respirava e vivia ao lado do seu mestre. Todos os passos, pensamentos, sonhos e anseios do seu tutor eram levados a sério com a máxima diligência de um jovem completamente comprometido e engajado.

Por sua vez, Josei Toda encarava aquele evento de maneira diferente desde os primeiros momentos. Ele pressentia que seu corpo frágil não aguentaria muito tempo e, numa profunda atitude reflexiva, disse a si mesmo: “Deixarei esta declaração como principal testamento dedicado aos jovens”.1 Ele se referia à sua histórica Declaração pela Abolição das Armas Nucleares.

Doze anos antes, as primeiras bombas de destruição em massa, lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e de Nagasaki, em agosto de 1945, ceifaram instantaneamente cerca de 300 mil vidas. Nos anos seguintes, outros milhares sucumbiram em decorrência da radiação dessas armas.

Em 1957, a Guerra Fria estava no apogeu. Os Estados Unidos e a hoje extinta União Soviética corriam freneticamente para polarizar e militarizar territórios. A bomba nuclear era sinônimo de força, induzindo a testes incessantes, com arsenais cada vez mais poderosos, em diversos pontos do mundo. Naquele 8 de setembro, permeava no ar a sensação de que uma nova guerra mundial poderia começar a qualquer momento. E a quantidade de armamentos atômicos já era tão grande que o mundo poderia ser dizimado em questão de horas.

Josei Toda declarou-se contra as armas nucleares, bradando ser a missão dos jovens erradicar o impulso dos seres humanos que as constroem. Em um trecho da declaração, o líder afirma:

Como já venho dizendo há muito, a próxima era será sustentada pelos jovens. Não preciso salientar que a missão de nossa vida é o kosen-rufu. Esse é um empreendimento que devemos conquistar infalivelmente, mas, diante das notícias de testes da bomba atômica e de hidrogênio que têm agitado o mundo, quero deixar bem clara minha posição em relação a essas questões. Se são meus discípulos, gostaria que herdassem esta minha mensagem e que propagassem pelo mundo o significado de seu conteúdo.

Mesmo que neste momento esteja sendo realizado no mundo inteiro um movimento para abolir os testes nucleares, o meu desejo é atacar o problema pela raiz, ou seja, cortar as garras ocultas exatamente na origem. (…)

Digo isso porque nós, cidadãos do mundo, temos o direito inviolável à vida. Todo indivíduo que tentar colocar esse direito em perigo merece ser chamado de criatura diabólica, um ser abominável, um monstro. Mesmo que um país conquiste o mundo por meio de armas nucleares, o conquistador deverá ser considerado um demônio, a expressão suprema do mal. Creio que a missão de cada membro da Divisão dos Jovens do Japão é difundir essa ideia em todo o mundo.2

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda em um de seus encontros com o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev. Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Aquele momento em que Josei Toda proferiu a declaração deu origem às ações concretas da Soka Gakkai Internacional (SGI) para exterminar a miséria do coração humano, não mais somente no campo religioso, mas pela promoção da cultura e da educação. Hoje, os membros da SGI realizam diversas iniciativas para o fim das guerras e eliminação das armas nuclea­res sob a liderança do presidente Ikeda. Ele comenta:

Este é o significado mais profundo do clamor de Toda pela abolição das armas nucleares e sua determinação de “arrancar as garras” das forças que as criaram. As armas nucleares são a manifestação mais medonha de uma civilização que trata a morte como um problema do outro. Condenando-as em termos os mais fortes possíveis, Toda estava apontando para os aspectos mais sombrios da civilização moderna a fim de transformá-los.3

Mohamed Habib, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), comenta: “A questão das armas nucleares sempre esteve presente nas propostas de paz do Dr. Ikeda. O que ele defende em seus textos é uma legislação que visa de fato à eliminação total das armas nucleares do planeta Terra. Ele sempre quis ir além dos tratados e acordos. Isso porque sentiu na própria pele, como cidadão japonês, os horrores da Segunda Guerra Mundial, que culminou com o lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Portanto, o Dr. Ikeda quer dizer ao mundo inteiro que tal experiência foi o suficiente para não desejar isso a nenhum povoado do planeta. E que a vida como um todo deve ser prezada com máximo respeito”.

O professor Habib continua: “Obviamente, nós ficamos contentes com a entrada em vigor do Tratado de Proibição de Armas Nucleares [veja quadro abaixo], em janeiro deste ano. Aliás, isso representa um grande avanço. Mas nós não devemos parar aí, pois há muito o que fazer até que as grandes potências mundiais façam parte dos esforços pela paz. Devemos continuar nossas reivindicações para ampliar essa luta pacifista até que toda e qualquer arma de destruição em massa seja banida. Além disso, temos que ensinar os jovens a atuarem em prol da paz, a refletirem sobre as guerras e os desafios globais. São os jovens as principais pessoas que precisam estar à frente desses movimentos, com sua criatividade e força, para pensar no futuro e conduzir a humanidade para uma era pacífica e justa”.

Já Fernando Mendonça, responsável pela Divisão dos Universitários (DUni) da BSGI, ressalta: “O presidente Josei Toda condenou todas as formas de violência que ameaçam a sobrevivência humana e compartilhou o seu desejo de que esse mal absoluto fosse completamente banido. Esse brado retumbante pela paz ressoa até hoje nos ouvidos de Ikeda sensei, na época um jovem ali presente que, desde então, não poupou esforços para que o ideal de seu mestre se tornasse realidade. A entrada em vigor do Tratado de Proibição de Armas Nucleares neste ano inaugura uma nova era desta jornada. Por isso, compreender a profundidade desse tratado representa parte de nossa missão enquanto discípulos Ikeda. Aumentar a consciência da sociedade civil corresponde a uma das principais contribuições da SGI para o futuro da humanidade”.

Reprodução/Foto-RN176 Campanha de assinaturas pela abolição das armas nucleares promovida pelos jovens da SGI, turista assina ao loda do’Memorial da Paz’ onde caiu a Bomba Àtomica na cidade  de Hiroshima-Japão – Editora Brasil Seikyo – BSGI    

Criar a paz duradoura e a segurança da vida na Terra é o em­preendimento mais importante da humanidade e a missão de cada um de nós, a começar pela criação de laços sinceros de confiança e respeito em nosso lar e comunidade. Mãos à obra!

Notas:

  1. Terceira Civilização, ed. 292, dez. 1992, p. 11.
  2. Brasil Seikyo, ed. 1.906, 8 set. 2007, p. B5.
  3. Terceira Civilização, ed. 429, abr. 2004, p. 15.

Fonte:

Brasil Seikyo, ed. 1.906, 8 set. 2007.

Tratado de Proibição de Armas Nucleares

O Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) é o primeiro acordo internacional juridicamente vinculativo que proíbe as armas nucleares de forma abrangente e foi adotado com o objetivo da consequente eliminação destas. O tratado recebeu o apoio de 122 países na sede das Nações Unidas quando foi adotado pela primeira vez, em 7 de julho de 2017. Em 24 de outubro de 2020, ele atingiu sua quinquagésima ratificação para entrar em vigor e, daí em diante, ganhou maior apoio, com 86 países signatários e 52 ratificações até o fim de janeiro de 2021.

Nos seus vinte artigos estão contidas as condições nas quais os Estados signatários devem concordar sobre: não desenvolver, testar, produzir, manufaturar, transferir, possuir, estocar, usar ou ameaçar usar armas nucleares, ou permitir que tais armamentos sejam posicionados em seu território. Estados que possuem arsenais nucleares podem aderir ao tratado a partir da submissão de um plano com vínculo temporal para a comprovada e irreversível eliminação de seu programa nuclear.

Fonte: Terceira Civilização, maio 2021, p. 45.

Herdar o nobre juramento

Trechos de discurso do presidente Ikeda comemorativo dos sessenta anos da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, proferido em 2017

A verdadeira canção do triunfo como ser humano reside em permanecer fiel a um juramento nobre e perseverante no caminho da missão. A solidariedade das pessoas unidas pelo juramento e pela missão compartilhados são a força motriz para eliminar a miséria e o sofrimento do planeta e construir um mundo de paz e mais humano. (…)

O presidente Josei Toda continuou o legado do seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi, que lutou contra a opressão das autoridades militaristas do Japão durante a guerra e morreu na prisão por suas crenças. Advogando o ideal da cidadania global, afirmou que nenhum povo deveria ser sacrificado. Ele colocou a questão das armas nucleares como o maior mal que a raça humana deve superar. (…)

Era seu desejo que [os jovens] despertassem uma base de ativismo popular para proteger o direito da humanidade de viver e criar uma solidariedade de cidadãos do mundo por meio da força e da paixão dos jovens. Esse desejo se tornou o eterno ponto de partida do movimento de paz da Soka Gakkai e da SGI. (…)

Desde aquele dia, com a instrução do meu mestre em mente em todos os momentos, participei de diálogos com líderes e pensadores de vários países, incluindo Estados que possuíam armas nucleares. Além disso, pelas minhas propostas de paz anuais e por outras vias, ofereci sugestões concretas para abrir o caminho para a proibição e abolição das armas nucleares — sempre com as palavras e os ensinamentos de Toda sensei reverberando forte e profundamente no meu coração. (…)

Para pôr fim à era nuclear, como o presidente Josei Toda destacou em sua declaração, é necessário incutir profundamente em cada nação a consciência de que as armas nucleares são um mal absoluto e que seu uso é inaceitável por qualquer motivo. Devemos estabelecer isso como um princípio inabalável compartilhado por toda a humanidade. (…)

A solidariedade dos indivíduos de juramento tem um tremendo poder para transformar os tempos.

Vamos compor uma história para o futuro que brilhará para sempre na trajetória humana!

Fonte: Brasil Seikyo, ed. 2.392, 21 out. 2017, p. B2 e B3.

Leia mais:

IKEDA, Daisaku. Criação de Valor em Tempos de Crise. Proposta de Paz. In: Terceira Civilização, ed. 633, maio 2021.