Brilho infinito

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  02/10/2021 09:45

RELATO

Karine enfrenta os desafios da vida com alegria e esperança

Reprodução/Foto-RN176 Karine Souza, Vice-resp. pela DF do Bloco Riacho, Distrito Contagem, Sub. Minas Gerais, CRE Leste, CGRE – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Sou de Belo Horizonte, MG, e comecei a praticar o Budismo de Nichiren Daishonin quando eu tinha 2 anos, por iniciativa da minha mãe, e, em 2021, completamos 35 anos de prática. Nossa história mudou na época da separação dos meus pais. Segundo relatos da minha mãe, mais especificamente assim que meu pai saiu de casa, levou consigo meus dois irmãos e eu, e ficamos sem contato por alguns meses. Ela conta também que sentiu tão desnorteada que desenvolveu alguns problemas psicológicos, indo parar nas ruas. Apesar de tudo, surgiu na vida dela, e consequentemente na nossa, uma imensa boa sorte quando uma de suas amigas a convidou para participar de uma atividade budista promovida pela BSGI. E com apenas dois meses de prática firme, minha mãe nos localizou num abrigo na cidade de São Paulo, SP. A partir dessa comprovação, ela abraçou o Budismo Nichiren ainda com mais fé e, claro, nós também.

Avançando um pouco em minha história, em 2009, no momento em que me preparava para tirar a carteira de habilitação, percebi uma dificuldade aparentemente simples na visão. Então, decidi procurar um oftalmologista e descobri que estava com glaucoma, uma degeneração do nervo óptico que provoca a perda da visão. Nos três meses seguintes, fui submetida a tratamentos com colírios, laser e, por fim, passei por cirurgia. Após a recuperação, segui a vida normalmente, trabalhando e estudando. Até que, em 2015, ao trabalhar em uma concessionária, eu me deparei com situações inesperadas relacionadas à visão. Esbarrava nos carros parados no salão e tinha a vista ofuscada pela luz do sol em meu rosto.

Ao procurar meu médico, soube que precisaria fazer cirurgia de catarata. O procedimento foi simples e achei que estaria de volta ao trabalho em quinze dias, mas não voltei até hoje. No pós-cirúrgico, tive complicações devido à complexidade do caso e, nos seis meses seguintes, aos poucos perdi a visão do olho direito, o qual me permitia enxergar melhor. No primeiro momento, fiquei desesperada por perceber que estava perdendo a visão, o que aconteceu gradativamente, dia após dia.

Mantendo a fé

Sem perder a esperança, tive a ideia de estimular o olho esquerdo com exercícios, e recitava muito daimoku para que obtivesse algum progresso. Deu certo. Considerando que anteriormente enxergava somente vultos, passei a ter baixa visão. No entanto, perdi a visão do olho direito, tendo de passar por outra cirurgia.

Então, fui encaminhada ao nefrologista, que me diagnosticou com disfunção renal. De volta ao meu oftalmologista, descobri que a causa dos problemas de visão estava relacionada aos rins; o direito estava atrofiado e o esquerdo funcionando 30%. A partir daí, fiz um ano de dieta e depois iniciei a hemodiálise. Entrei para a fila de transplantes de rim e de córnea. Durante os testes, constatou-se que tenho doença de Chagas, infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido pelo inseto barbeiro. Porém, a doença não se manifestou. Quanta boa sorte!

Em 2019, fiz o transplante de córnea do olho direito. No mesmo período, concretizei um shakubuku e fiquei ainda mais feliz e confiante. Isso foi primordial diante dos desafios que estavam por vir. A córnea transplantada não se adaptou e realizei novos procedimentos. Fiz um total de sete cirurgias nos dois olhos, até que obtivesse avanço em meu quadro clínico.

Apesar disso, jamais abandonei o budismo e a organização; e intensifiquei a prática individual e o apoio à minha localidade. Percebi quanto sou forte psicologicamente — resultado da recitação do Nam-myoho-renge-kyo e do treinamento nos grupos horizontais Cerejeira e Asas da Paz Kotekitai, na juventude. Com o passar do tempo, notei diversos benefícios. Um deles foi conseguir me manter financeiramente por ter sido aposentada apenas por um período temporário pela perícia médica. Ou seja, posso voltar às minhas atividades profissionais.

Além disso, decidi voltar a estudar — antes, eu esperava voltar a enxergar, mas percebi que não podia aguardar mais — e considero isso mais uma comprovação da prática budista. Hoje, tenho baixa visão, não cegueira total. Faço as tarefas de casa, utilizo computador e celular, leio e posso enxergar um pouco com os óculos. Em meio aos estudos e à minha rotina, ainda fui afortunada mais uma vez ao vencer a Covid-19 no fim do ano passado. Tive apoio de muitas pessoas.

Reprodução/Foto-RN176 Karine com Maria de Lourdes Souza, sua mãe – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Nunca me sinto sozinha, pois tenho amigos queridos por perto e uma família maravilhosa que sempre me incentiva, principalmente minha mãe. Minhas questões de saúde não me deixam triste, pelo contrário, sou alegre, brincalhona e muito otimista em todos os momentos. Tal como li certa vez, “o ouro mesmo debaixo da lama continua sendo ouro”.1 Assim, continuo brilhando apesar dos desafios. Meu maior benefício é continuar a participar das atividades da organização, sem jamais desistir ou abandonar a fé e com minha história inspirar outras pessoas. A vida me deu algumas oportunidades para despertar para diversas questões. No fim, tudo colaborou para que eu me tornasse um ser humano melhor. Por meio de seu exemplo, Ikeda sensei incentiva que a esperança não pode existir sem esforço e que a pessoa que não poupa esforços, sem falha será capaz de cobrir o caminho para um glorioso futuro.

Karine Souza, 39 anos. Estudante. Vice-resp. pela DF do Bloco Riacho, Distrito Contagem, Sub. Minas Gerais, CRE Leste, CGRE.

Nota:

  1. Cf. Terceira Civilização, ed. 572, abr. 2016, p. 16.