Brilho radiante como o sol

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  07/07/2023 09:55                                                                      CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA                                                                                                                  Por Ho Goku

Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações de Ilustração: Kenichiro Uchida

PARTE 25

Shin’ichi observou minuciosamente o apartamento de Beethoven. Visitou ainda a sala de trabalho onde o músico criou obras de excelência lutando contra os sofrimentos. Um retrato dele também estava exposto.

Diz-se que a obsessão de Beethoven para criar uma composição era simplesmente absurda. Houve ocasiões em que, para compor um único compasso, sua obsessão fez com que o reescrevesse dezenas de vezes até se convencer plenamente.

Ele foi altamente valorizado também como pianista. Porém, sua apresentação não era algo que buscasse a elegância, mas era repleta de força e intensidade como se fossem batidas da alma.

O piano exposto na sala era um instrumento que aparentava ser extremamente robusto no qual se viam as marcas da própria madeira.

Beethoven objetivou a música para o povo e para o ser humano e não para a elite das classes altas. Ele mencionou: “A minha arte deve ser consagrada para melhorar o destino das pessoas necessitadas”.1

Essa transbordante determinação deve ter feito dele um grande músico. Quando se vive por um sublime objetivo, pode-se extrair a força inerente ao ser humano.

Depois dessa visita, Shin’ichi participou de um jantar com os membros no qual dialogou e comemorou a partida da Regional Áustria. Ele disse a Nagamura, que se tornou responsável pela regional:

— Demos, realmente, muito trabalho durante a nossa estada. O kosen-rufu é uma longa batalha. Ações exageradas e irracionais não perduram por muito tempo. Use a sabedoria, procure dormir bem e cuide da saúde.

Ele sabia que Nagamura acompanhava a comitiva durante o dia e, tarde da noite, voltava para o local do trabalho.

Porém, o jovem não manifestava o mínimo sobre isso. Shin’ichi imaginou que, enquanto houvesse essa sinceridade do líder central, chegaria o momento do grande desenvolvimento da SGI-Áustria.

O budismo elucida a lei de causa e efeito da vida. No longo prazo, quem conquista a vitória são as pessoas sinceras. Isso se aplica tanto à vida das pessoas como também ao kosen-rufu.

Sob os céus que escureciam lentamente, as águas do rio Danúbio percorriam silenciosamente, como se dirigissem rumo ao século 21.

PARTE 26

O céu azul se estendia e o sol era radiante. A comitiva de Shin’ichi Yamamoto, que havia deixado Viena, Áustria, chegava ao Aeroporto Internacional de Pisa, às 15 horas do dia 28 de maio (horário local).

— Benvenuto! (“Bem-vindo!”)

Com um brilho nos olhos e radiante como o sol, uma multidão de jovens da Itália recepcionara Shin’ichi. Vinte anos antes, em outubro de 1961, quando Shin’ichi visitou a Itália pela primeira vez, quem o recepcionou no aeroporto de Roma foi um único casal japonês que havia se mudado para esse país por motivo de trabalho.

E agora, vinte anos depois, o fato de um grande número de jovens se reunir vigorosamente fez com que Shin’ichi sentisse a chegada de uma nova época do kosen-rufu mundial, e seu coração pulsava altivamente.

No percurso até o hotel em Florença, a comitiva parou na torre inclinada de Pisa. No dia seguinte, Shin’ichi dedicou poemas a representantes e realizou seguidos diálogos com os jovens.

E, no dia 30 à tarde, participou do Gongyo Comemorativo dos vinte anos do kosen-rufu da Itália, realizado na casa de um membro.

A reunião estava envolta por um clima jovem com a presença de diversos alunos de medicina, de filosofia, de letras e de economia, entre outros, da Universidade de Florença. Participaram também membros da ilha da Sicília, que viajaram de navio e mais dezesseis horas de trem; e companheiros de Nápoles e de Sorrento, da região sul, e de Milão, centro financeiro do norte da Itália.

Após o solene gongyo recitado com a liderança de Shin’ichi, iniciou-se um diálogo. Ele se referiu à Renascença.

— Florença, esse paraíso verde, é para mim um local de admira-ção. Isso porque aqui é o local que deu origem às ondas do novo movimento renascentista que abriu as janelas do período atado por “deus”. A palavra “renascença” tem origem na língua francesa com o significado de “reviver” ou “renascer”. No Japão, vem sendo traduzida como “restauração da arte e da literatura” ou “restauração do ser humano”.

Shin’ichi queria confirmar o significado do kosen-rufu no contexto da grande correnteza da história da humanidade. O verdadeiro valor do movimento de revolução humana da Soka Gakkai, que revitaliza as pessoas transformando a vida do ser humano, torna-se ainda mais claro quando visto pela luz da história.

PARTE 27

Shin’ichi conversou com os jovens com o sentimento de confiar o futuro a eles. A nova era se cria quando a força jovem se manifesta integralmente.

— A Renascença trouxe a libertação do homem e a liberdade; trouxe o despertar do ponto primordial chamado ser humano; e estabeleceu verdadeiramente a nova era.

O suporte a esse movimento foi dado por poetas, pensadores e artistas de Florença, entre os quais Dante Alighieri2 e Giovanni Boccaccio, escritores do século 14, que tiveram importante papel como precursores da Renascença, além de Maquiavel, Da Vinci, Michelangelo e Rafael. As ondas do Renascimento se expandiram para Roma e para as demais cidades da Itália. Atingiram ainda a França, a Alemanha, a Inglaterra e toda a Europa, ligando-se inclusive à reforma religiosa.

Sob a corrente do pensamento de “volta à antiguidade”, “volta às escrituras antigas”, “volta ao ser humano”, a Renascença libertou o homem das amarras da Igreja e do “deus”, fazendo desabrochar seu infindável potencial. Era uma indiscutível vitória do humanismo, uma canção triunfal da liberdade do ser humano.

Shin’ichi falou com mais ênfase:

— Porém, será que o homem conquistou a verdadeira liberdade? Será que o homem se apossou, de fato, do assento de um protagonista da história? Infelizmente, só podemos dizer que não. Pode-se dizer que o homem se tornou escravo do sistema e da ideologia, e ainda da ciência e das máquinas. Além disso, conflitos causados por desenfreado egoísmo, o despotismo aguardado no extremo da autoindulgência do espírito e a influência maléfica do fascismo são os temores reais da sociedade moderna. Portanto, dominado pela sua mente, levado pelos desejos e sentimentos, e atado por forças externas que tentam discipliná-lo, o ser humano que foi libertado pelo movimento Renascença acabou criando uma época em que se afasta cada vez mais da tão almejada felicidade.

Nas escrituras budistas consta: “…a pessoa deve ser mestre da própria mente em vez de permitir que a mente a domine”.3

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações de Ilustração: Kenichiro Uchida

PARTE 28

Shin’ichi se referiu ao fato de que, hoje, visando realizar os ideais do movimento Renascença, notáveis pensadores demonstram grande interesse pela transformação do ser humano em si, argumentando a ideia de “novo humanismo” e de “revolução da natureza humana”.

E mostrou que, sem isso, o homem não conseguiria conquistar a verdadeira felicidade tornando-se protagonista da época e da sociedade.

Declarou que, para a transformação do ser humano, é necessária e indispensável a lei fundamental da vida capaz de criar um valor infindável, disciplinando cada indivíduo.

— Essa lei é o Nam-myoho-renge-kyo; é o Budismo de Nichiren Daishonin, que elucidou a vida do ser humano em sua totalidade. É aí que se encontra o rumo da transformação do homem idealizada por muitos pensadores. Nessa grande lei da vida está a chave para abrir o futuro da humanidade.

A maioria dos participantes era formada por jovens e, ainda, por estudantes universitários.

Aos olhos de Shin’ichi, expandia a esperança do kosen-rufu da Itália. Ele continuou suas palavras orando e determinando: “Que todos se levantem como novos cavaleiros do século da vida!”.

— Por favor, pelo bem do futuro de si mesmos e do kosen-rufu, quero que agora se empenhem firmemente nos estudos. Na época de estudante, o ato de se dedicar inteiramente aos estudos corresponde à prática da fé.

Obviamente, as atividades da organização são importantes, mas se não estudarem agora, vão se arrepender por toda a vida. A prática da fé é a própria vida diária. Vou deixar claro que, para um estudante, a prática da fé é o próprio estudo. Em seguida, falou sobre o pensamento com relação à função na organização.

— A função na Soka Gakkai não indica poder ou autoridade. Além disso, o cargo não é indicativo de maior ou menor fé. Portanto, não deve de forma alguma avaliar a pessoa pela sua função, e muito menos considerar as pessoas novas em uma posição inferior. Desejo que se empenhem na prática da fé, respeitando-se mutuamente, confiando e incentivando uns aos outros. O cargo na organização é de responsabilidade para se encarregar do movimento pelo kosen-rufu. Creio que o ato de assumir uma função trará dificuldades e muito trabalho. Ao mesmo tempo, é certo que se pode acumular benefícios e boa sorte.

Shin’ichi dedicou todos os esforços para a criação dos jovens. Se deixar as pessoas sós, elas não se desenvolvem.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

Notas:

  1. ROLLAND, Romain. Vida de Beethoven.
    2. Dante Alighieri (1265–1321): autor de Divina Comédia, trouxe enorme influência para a posteridade; Giovanni Boccaccio (1313–1375): autor de um número notável de obras, incluindo Decamerão; Nicolau Maquiavel (1469–1527): reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, autor de O Príncipe; Leonardo da Vinci (1452–1519): destacou-se como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico; Mona LisaA Última Ceiasão célebres pinturas de sua autoria; Michelangelo (1475–1564): pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do Ocidente; David é uma de suas famosas esculturas; Rafael Sanzio (1483–1520): mestre da pintura e da arquitetura da escola de Florença durante o Renascimento italiano.
    3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. Editora Brasil Seikyo: São Paulo, v. I, p. 58, 2020.