ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 19/12/2020 07:28
CADERNO ESPECIAL
Gosho para o Gongyo de Ano-novo
Trecho do Gosho
Recebi cem bolinhos de arroz cozidos a vapor e uma cesta de frutas. O dia de Ano-Novo representa o primeiro dia, o primeiro mês, o começo do ano e o início da primavera.1 A pessoa que celebra esse dia acumulará virtudes e será amada por todos, assim como a Lua vai aumentando de tamanho à medida que se move do oeste para o leste,2 e assim como o Sol brilha mais intensamente enquanto se desloca do leste para o oeste. Em primeiro lugar, sobre a questão de onde exatamente se encontram o inferno e o buda, um sutra diz que o inferno está abaixo da terra, e outro afirma que o buda reside no oeste. No entanto, um exame mais cuidadoso revela que ambos existem em nosso corpo de um metro e meio de altura. Isso deve ser verdade, pois o inferno está no coração da pessoa que, em seu íntimo, despreza o pai e ignora sua mãe. […] (CEND, v. II, p. 405)
Explanação
Os sinceros oferecimentos para o ano-novo
O escrito Carta de Ano Novo foi endereçado a uma discípula, a esposa de Omosu, que enviou cem bolinhos de arroz cozidos a vapor a Daishonin e uma cesta de frutas comemorativa do ano-novo.
Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração – Editora Brasil Seikyo – BSGI
O título desta carta em japonês é traduzido literalmente como Escrito dos Bolinhos de Arroz Cozidos a Vapor. Nichiren Daishonin também menciona os bolinhos de arroz em outros escritos, sempre no período próximo do ano-novo. Os bolinhos de arroz cozidos a vapor eram marcados com um X, para que pudessem ser facilmente divididos em porções menores. Eles faziam parte da comemoração dessa festividade naquela época e são tradicionais até hoje no Japão.
A recebedora da carta, a esposa de Omosu, era irmã mais velha de Nanjo Tokimitsu, e havia perdido sua amada filha, acometida de doença, na primavera de 1278. Essa filha havia enviado várias cartas a Daishonin, recebendo diversas orientações. Antes de morrer, ela escreveu para ele dizendo que provavelmente seria sua última carta e expressou seu estado de espírito sereno enquanto enfrentava a morte (cf. CEND, v. II, p. 166).
Embora não conste a data em que fora redigida, presume-se que a Carta de Ano Novo tenha sido escrita no ano de 1281, um ano antes do falecimento de Nichiren Daishonin.
Fazer de cada dia uma renovada partida
O ano-novo marca o início de um novo dia, de um novo mês e de um novo ano. Por isso, no Oriente, desde os tempos antigos, é conhecido como o dia dos “três começos”. No Japão, de acordo com o antigo calendário lunar, o ano-novo também marca o início da primavera. Enfim, é um dia muito festivo, de muitos novos começos.
Nichiren Daishonin afirma que uma pessoa que comemora esse dia, com base na Lei Mística, acumulará constantemente virtude e benefício e será amada por todos, assim como a lua cresce gradualmente ficando mais cheia e o sol brilha ainda com mais intensidade à medida que sobe mais alto no céu (cf. CEND, v. II, p. 405)
O primeiro dia do ano-novo é um dia de começos. Todos podem recomeçar com revigorante determinação a jornada de 365 dias. É uma excelente oportunidade para despertar para o espírito budista da “verdadeira causa”3 — o espírito de sempre avançar a partir do presente momento. Quando agimos assim, nossa vida certamente transbordará de incontida alegria.
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Na passagem seguinte, Daishonin assegura à sua discípula que o Buda não pode ser encontrado em algum lugar distante, mas dentro do próprio coração. E explica de forma acessível a essência fundamental da vida, a “possessão mútua dos dez mundos”4 — um dos conceitos budistas mais importantes.
Para ilustrar seu ponto de vista, Daishonin escolhe como exemplos o mundo do inferno e mundo dos budas, os dois extremos dos “dez mundos”. Essas condições de vida, que aos olhos de mortais comuns parecem os mais distantes da realidade cotidiana, estão, na verdade, ambos presentes em nosso coração. Do ponto de vista dos ensinamentos que eram amplamente difundidos a respeito de inferno e buda naquela época, essa foi uma quebra de paradigmas.
As escolas budistas então estabelecidas defendiam que o inferno era um reino localizado em algum lugar debaixo da terra, e que o buda vivia em algum distante reino — como no caso do buda Amida da escola Terra Pura (Nembutsu), que se dizia residir na Terra da Perfeita Felicidade, localizada a oeste. Acreditava-se, portanto, que, ao morrer, as pessoas cairiam num inferno subterrâneo ou renasceriam na Terra Pura do buda Amida, a visão do paraíso. Ou seja, tanto inferno como buda eram considerados mundos externos do ser, além da vida da pessoa.
Mas, neste escrito, Daishonin afirma claramente que essas duas condições opostas — inferno e buda — se manifestam no “nosso corpo de um metro e meio de altura” (CEND, v. II, p. 405) e “no coração da pessoa” (Ibidem). Em primeiro lugar, usando a palavra “nosso”, Daishonin indica que esses mundos estão dentro de todos nós, inclusive dele próprio, sem qualquer distinção ou discriminação. Em segundo, o mundo do inferno e o mundo dos budas não estão distantes de nós. Eles existem em nossa vida, na vida de pessoas reais aqui e agora.
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O “Ano da Esperança e da Vitória” representa o começo da década dourada rumo ao centenário da Soka Gakkai. Em 2021, receberemos os setenta anos da publicação da primeira edição do Seikyo Shimbun, os 65 anos desde a Campanha de Osaka, e ainda, os 55 anos de fundação da Divisão Sênior (DS) e os setenta anos de fundação das Divisões Feminina (DF), Masculina (DMJ) e Feminina de Jovens (DFJ).
Cada membro da Soka Gakkai é um bodisatva da terra que, abraçando o juramento seigan de realizar o kosen-rufu e o rissho ankoku, desde o tempo sem início, emergiu da terra para acabar com a miséria e a infelicidade do mundo, no local e na época mais difíceis escolhidos pelo próprio desejo.5
Com base na união de “diferentes em corpo, unos em mente”,6 vamos adornar o “Ano da Esperança e da Vitória” com vitória absoluta em todas as batalhas, e assim determinar a década da vitória ou da derrota.
Notas:
- De acordo com o calendário lunar japonês, a primavera começa no primeiro mês, ou seja, no Dia de Ano-Novo desse calendário. No calendário gregoriano, o Ano-Novo cai entre 21 de janeiro e 19 de fevereiro.
- Alusão ao fato de que a lua nova começa a ser vista no oeste, pouco depois do pôr do sol. Nas noites sucessivas, à medida que a parte visível da Lua cresce, tem-se a impressão de que ela se desloca gradativamente para o leste.
- “Verdadeira causa”: Também chamada de princípio místico da “verdadeira causa”. O Budismo de Nichiren Daishonin expõe diretamente a verdadeira causa para a iluminação, como o Nam-myoho-renge-kyo, que é a lei da vida e do universo. Ele ensina uma forma de prática budista de sempre avançar a partir deste momento e superar todos os problemas e dificuldades com base nessa lei fundamental.
- “Possessão mútua dos dez mundos”: Segundo esse princípio, cada um dos dez mundos possui o potencial inerente a todos os dez. “Possessão mútua” significa que a vida não se fixa a um ou outro dos dez mundos, mas pode manifestar qualquer um dos dez — do mundo do inferno ao mundo dos budas — a qualquer momento. O ponto fundamental desse princípio é que todos os seres, em quaisquer dos nove mundos, possuem a natureza de buda. Assim, cada pessoa tem o potencial para manifestar o estado de buda, da mesma forma que um buda também possui os nove mundos, não sendo, portanto, separado ou diferente das pessoas comuns.
- Extraído de mensagem do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, para 46ª Reunião Nacional de Líderes da Nova Era do Kosen-rufu Mundial (Brasil Seikyo, ed. 2.530, 5 set. 2020).
- “Diferentes em corpo, unos em mente”: O buda Nichiren Daishonin ensinou seus discípulos a agir com o espírito de “diferentes em corpo, unos em mente” (itai doshin). A expressão “diferentes em corpo” significa cada indivíduo que manifesta o máximo de sua capacidade. Já o termo “unos em mente” representa todos que atuam com base na fé, tendo como eixo o mesmo objetivo e propósito. Essa é a verdadeira união, e essa é a essência da SGI.