Carta de Sado

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO  28/11/2020 03:00

CADERNO REUNIÃO DE PALESTRA

Matéria da reunião de palestra de dezembro

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrativo  da Editora Brasil Seikyo – BSGI

Imagine a seguinte situação: se observarmos uma folha em branco contendo somente um ponto escuro em seu centro, serão grandes as chances de nos concentrarmos só no ponto, em vez de enxergarmos a quantidade de espaço em branco. Esse ponto pode ser interpretado como as situações negativas que enfrentamos diariamente; e o espaço em branco da folha são as possibilidades que temos para transformar as dificuldades.

Esse escrito é datado do século 13, mas sua abordagem é mais que atual. Na explanação, nosso mestre, Daisaku Ikeda, enfatiza o sentimento de Nichiren Daishonin ao mencionar a importância de se possuir o “coração do rei leão”1. E, por meio desse escrito, ele encoraja todos os discípulos que possuíam forte espírito de procura, lutando ao seu lado em meio a inúmeras adversidades.

Com o estudo da Carta de Sado, finalizamos 2020, Ano do Avanço e dos Valores Humanos. Que tal pensar na história vivida neste período tão desafiador e nas páginas vitoriosas de um ano que ainda vamos escrever. Como protagonistas, vamos descobrir como manter nossa vida com foco nas possibilidades — afinal, isso é iluminação. Iluminação provém da fé e fé é razão. Excelente estudo!

Trecho do Gosho

É da natureza dos animais ameaçar os fracos e temer os fortes. Nossos eruditos contemporâneos das várias escolas agem exatamente da mesma forma: desprezam um sábio que não detém o poder, mas temem os governantes maléficos. Esses indivíduos não passam de serviçais aduladores. Somente quando uma pessoa vence um poderoso inimigo é que ela consegue provar a sua verdadeira força. (…) O arrogante sempre fica amedrontado quando está diante de um forte inimigo, assim como ocorreu com o insolente asura2 que, ao ser repreendido por Shakra,3 se encolheu e se escondeu numa flor de lótus no Lago Livre de Calor.4 (CEND, v. I, p. 318)

Sobre o escrito

Nichiren Daishonin endereçou essa carta a todos os discípulos de forte espírito de procura, que atuavam ao seu lado em meio a grandes adversidades. Ela é datada do vigésimo dia do terceiro mês de 1272 e foi escrita quando Nichiren Daishonin residia em Tsukahara, na Ilha de Sado, onde ficou exilado após a Perseguição de Tatsunokuchi, ocorrida no ano anterior.

Nesse escrito, Daishonin dissipa as trevas do medo e da dúvida que haviam se alojado no coração dos seus discípulos e enfatiza que o único caminho para manifestar o estado de buda é ter a disposição de dedicar a própria vida, o tesouro mais precioso de uma pessoa, ao budismo.

Explanação

Qual deve ser a postura correta na prática da fé?

Nichiren Daishonin explica, nesse escrito, as circunstâncias reais que estavam por trás do seu exílio na Ilha de Sado e destaca que os “três poderosos inimigos”5 aliam forças para atacar os devotos do Sutra do Lótus. Mesmo diante das piores adversidades, ele jamais recuou. Por isso, reforça que aqueles que se levantam sozinhos e seguem em frente com o “coração do rei leão”, em meio a esses ataques intensos, são budas — e faz isso por meio do próprio exemplo, mantendo-se inabalável diante das dificuldades.

Aprendemos com a postura de Nichiren Daishonin que os obstáculos existem para que possamos superá-los e, assim, fortalecer nossa fé. Nós nos sentimos capazes e munidos de coragem, pois a recitação do daimoku eleva nossa condição de vida e faz com que a esperança e a sabedoria brotem.

A “unicidade de mestre e discípulo” é um princípio fundamental e o alicerce do Budismo de Nichiren Daishonin. Como discípulos, é importante que, em nossas orações e ações, estejamos ligados ao coração do nosso mestre e ao juramento pelo kosen-rufu — movimento pela paz abraçado pela Soka Gakkai. Nossa postura diante dos dramas de vida é crucial, pois, com a prova real, conseguimos encorajar as pessoas e evidenciar a alegria em praticar esse budismo que nos impulsiona a vencer.

Na revista Terceira Civilização de agosto de 2019, encontramos um exemplo inspirador: uma senhora com problema de saúde que buscou incentivos do presidente Ikeda.

Certa ocasião uma senhora havia sido desenganada pelos médicos — disseram que não viveria mais que alguns meses. Então, ela decidiu recitar oito horas diárias de daimoku. Passados dois anos sem ter se curado, ela perguntou ao presidente Ikeda: “Mestre, por que, apesar de recitar oito horas de daimoku diariamente durante dois anos consecutivos, ainda não venci minha doença?”. Em resposta, ele a parabenizou por sua coragem e persistência. Entretanto, solicitou que mudasse seu sentimento por alegria e gratidão, uma vez que se empenhar dessa forma é difícil até mesmo para uma pessoa saudável. Ele percebeu que, na pergunta dela havia dúvida (“por quê”), lamentação (“apesar de”) e cobrança (“ainda não”).

A partir da resposta do mestre, ela começou a orar manifestando seu profundo sentimento de gratidão por ter conhecido este budismo e a organização e até mesmo pela doença. Começou a visualizar que estava curada, transformando o carma de doença. Em menos de seis meses já havia recuperado a saúde. (Cf. Terceira Civilização, ed. 612, ago. 2019)

Com sincera dedicação, essa senhora entendeu que a mudança do seu coração foi determinante para compreender a vitória. Um pequeno gesto deu origem a uma nova decisão.

Não sejam derrotados! Levantem-se como corajosos leões!

No romance Nova Revolução Humana, o presidente Ikeda narra as perseguições sofridas pela Soka Gakkai e por seus membros, devido ao vertiginoso crescimento da organização, que inspirava mais e mais pessoas ao caminho da felicidade. Nesse cenário, Ikeda sensei reflete: “Épocas como esta, em que a Soka Gakkai é atacada por muitas e muitas críticas, nos proporcionam a oportunidade perfeita de realizar nossa revolução humana e elevar nossa condição de vida”.

E, diante dessa realidade, ele bradou em seu íntimo: “Meus companheiros, não sejam derrotados! Levantem-se como corajosos leões!” (NRH, v. 14, cap. “Vendaval”, p. 202).

Vamos juntos escrever páginas douradas no ano que se aproxima. E seguir com o diálogo de vida a vida com as pessoas, demonstrar a prova real da nossa prática e transmitir-lhes esperança, coragem e alegria. Assim como o presidente Ikeda nos incentiva constantemente: “O Budismo é para vencer o coração covarde e de desistência. Vamos, infalivelmente, ultrapassar os obstáculos e as maldades perseverando na forte e impetuosa oração” (Brasil Seikyo, ed. 2.373, 27 maio 2017).

Notas:

  1. “Coração de um rei-leão”: Refere-se ao profundo estado de vida de uma pessoa que, por meio da fé na Lei Mística, vence a escuridão fundamental inerente em sua vida e manifesta o poder de sua iluminação primordial. Poderíamos dizer também que se refere à condição de vida iluminada do Buda, que brota quando superamos as ilusões inatas da vida mediante a firme fé. Portanto, o “coração de um rei-leão” é dotado da sabedoria e benevolência do estado de Buda. (DRH, v. 1, p. 172)
  2. Asura (sânscr.; jap. ashura): Na mitologia hindu, é um tipo de demônio hostil e beligerante por natureza, que luta constantemente com a divindade Shakra ou Indra. O mundo dos asura constitui um dos seis caminhos da existência, os seis mais baixos dos “dez mundos”.
  3. Shakra (sânscr.; jap. Taishaku): Também conhecido como Indra e Shakra Denavam Indra, ou somente Indra. Shakra e Brahma são as duas principais divindades protetoras do budismo. Shakra habita o céu das trinta e três divindades, localizado no pico do Monte Sumeru.
  4. Lago Livre de Calor (jap. Munetchi): Também “Lago Anavatapta”. Acredita-se que esse lago tenha originado os quatro rios que nutrem o solo dos quatro quadrantes de Jambudvipa e esteja localizado ao norte das Montanhas de Neve.
  5. “Três poderosos inimigos”: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica após a morte do buda Shakyamuni, descritos na parte final em verso do capítulo 13, “Encorajamento à Devoção”, do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole, da China, resume-os como leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos veneráveis arrogantes.

Material de apoio

Leia mais:

Terceira Civilização, ed. 610, jun. 2019.

CEND, v. I, p. 318.

Aplicativo BS+.

Vídeo de apoio aos explanadores da reunião de palestra na Extranet.