Esquema criminoso montado por Orlando Diniz, presidente da Fecomércio, teve a autorização do ex-governador e tinha seis funcionários fantasmas indicados por Cabral
ROTANEWS176 E ODIA 23/02/2018 16h35
Reprodução/Foto-RN176 Presidente da Fecomércio-RJ escoltado por agentes na chegada à superintendência da PF – Onofre Veras/Parceiro/Agência O Dia
Rio – As investigações da operação Jabuti apontam que a chef de cozinha do Palácio Guanabara e a governanta particular do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) eram pagas com verba do Senac. O desdobramento da Calicute, a Lava Jato no Rio, prendeu nesta sexta-feira o presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, e três ex-diretores de confiança dele, que está afastado da presidência do Sesc e Senac.
Esquema criminoso montado por Orlando Diniz teve a autorização do ex-governador e tinha seis funcionários fantasmas indicados por Cabral, além de seus operadores Carlos Miranda e Ary Filho. “Os salários eram pagos com verbas do orçamento do Sesc/Senac, sendo que o total de pagamentos atingiu o valor total de R$ 7.674.379,98”, afirma o Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ).
Sérgio Cabral, que está preso em Curitiba, também será denunciado pelos crimes cometidos na federação. “Cabral será denunciado de novo. Tanto na lavagem de dinheiro, pois ele foi contactado pelo Diniz em 2007 e foi ele que autorizou Carlos Miranda e Arizinho para usar o mesmo esquema de lavagem, quanto por corrupção passiva, pois pediu vantagem para si com a contratação de pessoas próximas ao núcleo dele”, disse o procurador da República José Augusto Vagos.
As investigações começaram no âmbito da Calicute, quando os investigadores descobriram vários depósitos de grandes valores para escritórios da Adriana Ancelmo, esposa de Cabral, feitos pela Fecomércio. De acordo com as investigações, pessoas ligadas à gestão da federação faziam operações irregulares pagando com altos valores da própria entidade honorários a escritórios de advocacia, somando mais de R$ 180 milhões. Deste valor, R$ 20 milhões teriam sido pagos ao escritório de Adriana Ancelmo. Segundo a defesa da ex-primeira dama do Rio, “os honorários pagos decorreram de prestação de serviços devidamente comprovados.”
O esquema usado na Fecomércio, segundo os investigadores, era uma ramificação da organização criminosa de Sérgio Cabral e também lavou, entre os anos de 2007 e 2011, cerca de R$ 3 milhões na empresa de consultoria Thunder Assessoria, de Orlando Diniz. Os crimes tinham o conhecimento e autorização de Cabral e contava com a atuação de Carlos Miranda e Ary Filho, operadores do ex-governador.
O dinheiro era lavado através da assinatura de contratos em que a Thunder prestaria serviços de “elaboração de clipping de notícias” e de “comentário conjuntural com a análise dos fatos mais importantes nos setores empresariais selecionados” para empresas dos Grupos Dirija e Rubanil, serviços estes que nunca foram realizados.
Miranda e Aryzinho repassavam o dinheiro de Diniz e as notas frias aos empresários envolvidos no esquema que, através de suas companhias, as repassavam para as contas bancárias da Thunder. “A PF e MPF são experientes nessa área de desvios de recursos públicos. Essas estratégias não irão funcionar mais. Estamos de olho. Todos sabemos que jabuti não sobe em árvore e que alguém coloca esse jabuti lá em cima. A Lava Jato vai derrubar todos os jabutis”, disse Frederico Skora, delegado da Polícia Federal.
Além de Orlando Diniz, também foram presos temporariamente Plínio José de Freitas Travassos Martins, Marcelo José Salles de Almeira e Marcelo Fernando Novaes Moreira, diretores de confiança dele nas entidades que fazem parte da Fecomércio.
Evolução patrimonial em 1000%
O patrimônio de Orlando Diniz subiu de R$ 420 mil em 2007 para R$ 4,5 milhões no final de 2014, um aumento de 1000%, segundo Cleber Homem da Silva, auditor fiscal da Receita Federal.
O presidente da Fecomércio comprou um imóvel em 2006, avaliado em R$ 12 milhões, mas só declarou em 2010. De acordo com as investigações, nenhum bem foi declarado na evolução patrimonial de Diniz.
Além de presidente Fecomércio-RJ, Diniz também era presidente do Sesc e Senac do Rio, conforme prevê o estatuto das entidades. Ele foi afastado do comando do Sesc e Senac em dezembro pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), por suspeita de irregularidades no comando dessa entidade.
Desde o afastamento de Diniz da presidência do Sesc e Senac, houve uma intervenção da Confederação Nacional do Comércio (CNC) nas entidades, que agora possuem novos diretores. Procurada desde o início da manhã, a Fecomércio ainda não foi localizada pela reportagem.
Em nota, a defesa de Orlando Diniz disse que não comenta assuntos relativos aos seus clientes ou honorários advocatícios contratados, que são protegidos por sigilo legal. “O escritório tomará todas as providências cabíveis em relação à divulgação e manipulação desses dados pelo Ministério Público Federal”, concluiu.
Já a defesa de Cabral afirmou que “a Polícia Federal prende alguém que diz ser suspeito de ter praticado algum ilícito em conjunto com o ex-Governador; e após a prisão, o suspeito recebe algum benefício depois de ter acusado Sérgio Cabral de praticar tudo o que disse a acusação”. “A única dúvida é sobre quem será o delator (e beneficiário) desta vez. Nada de novo”, diz trecho do comunicado.