Clique Ciência: Por que temos pesadelos?

ROTANEWS176 E BOL 22/03/2016 6:00

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Reprodução/Foto-RN176  Freddy Krueger é um personagem fictício da série de filmes de terror

Você foge de monstros, é enterrado vivo, cai de um prédio, tenta gritar e não consegue. Por fim, acorda com o coração disparado, com uma sensação de angústia, assustado e então percebe que tudo não passou de um (terrível) pesadelo.

Os pesadelos nada mais são do que sonhos ruins que despertam sensações de medo, angústia, tristeza e raiva. Pelo menos metade da população mundial tem esse tipo de sonho esporadicamente e entre 2% a 8% dos adultos sofrem com pesadelos frequentes.

Assim como os sonhos, os pesadelos costumam acontecer durante a fase mais profunda do sono, conhecida como REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos). Esse estágio dura, em média, meia hora e pode se repetir até seis vezes por noite.

Isso significa que podemos ter até seis sonhos (ou pesadelos) em uma única noite? Sim, podemos. No entanto, não é fácil lembrar todos eles ao amanhecer. Só nos lembramos dos sonhos se, durante o ciclo, despertarmos logo após eles acontecerem. Como os pesadelos trazem uma carga emocional muito grande é muito comum acordamos assim que ele termina. Consequentemente, são mais fáceis de lembrar.

O que causa o pesadelo?

As razões pelas quais os pesadelos acontecem ainda não são claras, mas há algumas possibilidades. Uma delas é que, assim como os sonhos, eles podem refletir situações que não conseguimos lidar muito bem diariamente. Estresse, ansiedade, rotina de sono irregular, uso de medicamentos antidepressivos e para hipertensão podem aumentar o risco de ter pesadelos.

Pessoas que sofreram algum tipo de trauma recente, como acidentes, assalto, estupro, morte de uma pessoa querida, tendem a ter sonhos ruins cuja temática esteja, de alguma maneira, ligada ao estresse a que foram submetidos. É como se o cérebro avisasse que elas precisam passar por todo o trauma de novo até superar seu medo.

Problemas físicos ou desconfortos durante o sono também podem causar pesadelos. Quem sofre de apneia, por exemplo, pode incorporar a sensação de falta de ar no sonho. Sabe aquela velha frase “não dorme de barriga cheia que você terá pesadelo”? Pois bem, se a alguma coisa não caiu bem ou se o alimento está dando muito trabalho para ser digerido, é bem provável que essa sensação seja transportada para os sonhos.

Isso acontece porque durante o sono REM, mesmo dormindo profundamente, todos os nossos sentidos ainda estão “funcionando”. Com isso, qualquer estímulo externo é percebido e adicionado ao sonho ou pesadelo.

A partir de que idade temos pesadelos?

Os sonhos ruins nos acompanham durante toda a vida. Costumam aparecer por volta dos quatro ou cinco anos e serem mais intensos durante a infância por conta da maturação cerebral ainda estar em fase de consolidação.

Na fase adulta, tendem a ser bem menos frequentes, mas acontecem com maior intensidade quando alguma coisa na vida não vai bem: aumento dos níveis de estresse, ansiedade diante de uma situação nova, traumas etc.

E quais são os temas que mais se repetem nos pesadelos?

Uma pesquisa feita pela Universidade de Montreal, no Canadá, a partir da narrativa de cerca de dez mil sonhos, mostrou que a agressão física é o tema mais frequente relatado em pesadelos, citado por 31,5% dos entrevistados. Morte, preocupações com saúde e ameaças são outros temas recorrentes.

De acordo com o estudo, os homens costumam ter mais pesadelos com temas envolvendo desastres e calamidades, como inundações, terremotos e guerra. Já temas que envolvem conflitos interpessoais são duas vezes mais frequentes nos pesadelos das mulheres.

A partir das entrevistas, os pesquisadores concluíram que o medo não é sempre um fator que faz parte dos pesadelos. Segundo os cientistas, o medo é quase nulo nos sonhos ruins e é descrito em apenas um terço dos pesadelos. O que se faz sentir em vez disso é tristeza, confusão, culpa, desgosto etc.

É possível evitar os pesadelos?

Segundo os especialistas, os pesadelos não precisam ser encarados como algo prejudicial a saúde. Quando esporádicos, eles podem até ajudar a resolver algumas questões e superar medos. O problema é quando passam a ser constantes.

No mundo, de 2% a 8% das pessoas dizem ter pesadelos constantes, mais de uma vez por semana e, em alguns casos, mais de um a cada noite de sono. Metade das crianças entre 3 e 6 anos também tem sonhos ruins constantemente.

O tratamento dependerá das causas do excesso de pesadelos. O médico irá investigar se existe alguma anormalidade física ou se a pessoa está passando por muitos problemas que causam situações estressantes.

A partir daí, o tratamento varia desde terapia até medicação para controlar a ansiedade. Em alguns casos, os pacientes podem ser treinados para terem sonhos lúcidos, ou seja, conseguirem ter consciência de que estão sonhando e, ainda, ter a capacidade de mudar os rumos do pesadelo.

Fontes: Luciano Ribeiro, neurologista do Instituto do Sono, e Rosana Cardoso Alves, neurologista especializada em Medicina do Sono do laboratório Fleury.