Festa reuniu 4 mil pessoas em salão ao lado de mesquita no Cambuci. Ramadã, marcado pelo jejum durante o dia, foi praticado desde 18 de junho.
ROTANEWS176 E G1 17/07/2015 17h44 Márcio Pinho
Reprodução/Foto-RN176 Mulher participa do café da manhã celebrando o Eid al-Fitr, data que marca o fim do mês muçulmano de jejuns do Ramadã, quando é proibido passar o dia sem comer. A festa reuniu milhares de pessoas na Mesquita Brasil, no Cambuci, em São Paulo (Foto: Fábio Tito/G1)
Um banquete gratuito e rico em frutas, além de salgados e doces árabes, fez a festa de 4 mil muçulmanos da capital paulista que comemoraram nesta sexta-feira (17) o fim do Ramadã, mês de jejum que é um dos preceitos da religião islâmica.
Reprodução/Foto-RN176 O professor de inglês Adekunle Aderonmu e o filho participam do banquete na mesquita (Foto: Fábio Tito/G1)
O “café da manhã reforçado” faz parte da festa chamada Eid al-Fitr, que simboliza a quebra do jejum. Desde 18 de junho, os praticantes comiam apenas antes do nascer do Sol e após o pôr do Sol. Nesta sexta, após uma celebração religiosa que começou às 7h na Mesquita Brasil, na região central de São Paulo, a comunidade muçulmana participou do dejejum às 9h.
A festa foi no salão da Sociedade Beneficente Muçulmana (SBM), vizinho à mesquita. No espaço, havia quatro grandes mesas com pães recheados, tortas e pratos típicos da culinária árabe, como esfihas de “zaatar”, quibes, e doces como “knéfs” (doce de macarrão fio de anjo), “burmas” (doce de macarrãozinho) e “halawi” (doce de gergelim).
Com tantas tentações, o professor de inglês Adekunle Aderonmu fez um prato “generoso” em salgados e frutas e ainda planejava um doce. “Hoje me permito comer um pouco mais, é um dia festivo depois de um jejum em que temos que perseverar”, afirmou Aderonmu, que é nigeriano. Ele afirma que é comum perder 1 ou 2 quilos durante o Ramadã. “É um sacrifício para manter a espiritualidade elevada e o corpo em ordem, conforme ordenou o profeta Maomé”, diz.
Reprodução/Foto-RN176 A cozinheira Filomena Maria Rosa da Cruz, que trabalha na cozinha da Sociedade Beneficente Muçulmana há 18 anos, mostra uma travessa de esfihas de ‘zaatar’ feita para o Eid al-Fitr (Foto: Fábio Tito/G1)
Além do jejum, o Ramadã é o mês em que todo muçulmano deve praticar a caridade com maior frequência. Precisa ainda vivenciar a fraternidade e os valores da vida em família, ler o Alcorão de forma mais assídua e evitar qualquer pensamento ou atitudes ruins. O mês de jejum segue o calendário islâmico, que é um calendário lunar. Por isso, cai em datas diferentes todos os anos.
Reprodução/Foto-RN176 Mulheres acompanham por um telão, separadas dos homens, a cerimônia dentro da Mesquita Brasil, no bairro do Cambuci, em São Paulo, no dia que marca o fim do Ramadã. O Eid al-Fitr, fim do mês de jejuns, é celebrado com um grande banquete (Foto: Fábio Tito/G1)
Imigrantes
Além do nigeriano, vários outros imigrantes que vivem em São Paulo participaram da festa nesta sexta-feira em São Paulo. É o caso do casal jordaniano Tamer e Innas e da malaias Izzati e Hajar. Elas garantiram que o retorno do almoço seria em alto estilo e que fariam uma festa em casa para amigos malaios. Já a egípcio-brasileira Eyman Kishk comeria “kahk”, doce servido em seu país nessa data festiva.
Reprodução/Foto-RN176 Muçulmanos aproveitam o banquete após cerimônia no prédio da Mesquita Brasil, no bairro do Cambuci, em São Paulo, no dia que marca o fim do Ramadã. O Eid al-Fitr, fim do mês de jejuns, é celebrado com um grande banquete (Foto: Fábio Tito/G1)
Vários membros da comunidade negaram, porém, que o fim do período de jejum seja um momento de comer tudo o que ficou pra trás durante o Ramadã. Segundo a costureira Marluce Xavier, os muçulmanos também fazem o jejum lembrar das pessoas que passam fome, e assim ficarem mais propensos à caridade. “Não é pra exagerar hoje. Não adiantaria ter feito o sacrifício”, afirma.
Reprodução/Foto-RN176 Muçulmanos aproveitam o banquete após cerimônia no prédio da Mesquita Brasil, no bairro do Cambuci, em São Paulo, no dia que marca o fim do Ramadã. O Eid al-Fitr, fim do mês de jejuns, é celebrado com um grande banquete (Foto: Fábio Tito/G1)
Evento
Segundo o presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana, Nasser Fares, a festa é realizada no local desde 1929. A Mesquita Brasil foi a primeira a ser fundada na América Latina. Fares comemora o fato de tantos imigrantes estarem presentes na festa. “O Brasil é um exemplo. Nosso povo tem o perfil de acolher e ajudar ao próximo”, afirmou.
Para preparar o banquete, a SBM conta com os trabalho de um buffet. A cozinheira Filomena Maria Rosa da Cruz, uma baiana de 61 anos, é a responsável pela cozinha. “Aqui é assim, sempre cheio”, diz ela que afirma não ter medo de ser responsável por preparar as refeições de 4 mil pessoas, que incluem mil zatas, 4 mil quibes e 16 mil coxinhas, entre outros itens. Ela conta com a ajuda de pelo menos outros quatro profissionais e do dono do buffet, o chef Waldomiro Santos.
Filomena, que era auxiliar de limpeza antes de fazer um curso de culinária e virar a responsável pela cozinha da SBM, conta que aprendeu a gostar da comida árabe. “Não é de tudo que eu gosto, mas faço tudo com gosto”, resume.