ROTANEWS176 E DELAS 02/11/2017 14:00 Por Beatriz Bradley
A morte de um pai ou mãe é sempre um baque muito grande na vida dos filhos, mas como lidar quando eles ainda são crianças?
Perder um membro da família não é uma situação simples. Para os filhos, liderar com a morte dos pais é ainda mais doloroso. E o momento se torna ainda mais delicado quando os filhos são pequenos ou adolescentes.
Reprodução/Foto-RN176 Como uma criança lida com a morte?
Como falar com as crianças sobre a morte dos pais ou de alguém da família? Elas devem ir ao velório ou ao enterro, por exemplo? A neuropsicóloga Deborah Moss conta que essa decisão deve partir dos pequenos e, seja qual for a opção, tem que ser respeitada. “Tem que partir da criança ir ou não ir”.
Se a criança resolver ir ao enterro, Deborah ressalta a importância dela saber tudo que a espera nessa despedida. “Ela precisa de alguém que transmita o que está acontecendo”, conta.
É muito difícil uma criança entender o que é a morte, porque, segundo a especialista existem três conceitos dentro dela: o fim da vida, o fim da questão do corpo e o fato de ser algo que não tem volta.
No caso de uma criança que perde um pai ou uma mãe na faixa dos dois anos, ela começa percebendo que aquela pessoa “não volta porque não volta”, mas quando ela entra da faixa dos seis, sete anos, ela passa a entender a questão do fim do corpo. “Antes ela pode até entender a dor, mas ela tem a sensação que vai voltar ou que vai acontecer algo fantasioso, como ‘sofreu um acidente e foi para o céu'”.
Como dar a notícia?
Dar a notícia de uma morte já é uma tarefa difícil, imagina contar para uma criança que seu pai ou sua mãe morreu? Por mais complicado e delicado que seja, Deboah explica que a verdade sempre ter de ser dita, independente de qual seja.
“Normalmente uma pessoa próxima à criança, que tenha um vínculo e condições, tem que contar que essa pessoa morreu e não volta mais”, explica. Mas ainda segundo ela, é importante levar em conta a faixa etária do pequeno e escolher uma linguagem adequada.
Em alguns casos, como de um assassinato, é importante que a pessoa não dê essa notícia contando muitos detalhes e deixar com que a criança vá perguntando. “Não deve mentir, mas tem de saber que informações a idade dela permite receber”, ressalta. Por exemplo, você pode falar que “um homem mau queria o dinheiro do papai e machucou ele”.
Mudanças
A morte pode causar ou não um trauma na criança. Isso vai depender da personalidade do pequeno, de colo ele lida com a perda e a relação que tinha com o parente que se foi, mas é inevitável que ocorram mudanças.
“Se o pai, que morreu, era o chefe da casa, de repente aquela criança vai começar a ver a mãe saindo para trabalhar”. Mas Deborah explica que é importante que consigam manter o máximo possível a vida que era levada antes sem tirar a memória do morto.
“Tem gente que decide jogar as coisas da pessoa falecida fora, tirar fotos, mas essa pessoa continua viva enquanto tem memória. Os filhos têm que ter a liberdade de falar desse pai, dessa mãe. Falar de saudade faz parte”, completa a especialista.
O luto
Como qualquer um, a criança também precisa passar pelas etapas do luto e isso implica em passar por momentos de tristeza, revolta, aceitação e saudade, não necessariamente nessa ordem, e tudo pode oscilar entre um e outro, segundo Deborah.
“Uma criança que perdeu o pai ou a mãe com 3 anos e hoje tem 7 já vai ter maturidade para fazer outros tipos de perguntas”, diz a neuropsicóloga, por isso, não dá para mensurar um tempo de luto. Em um ano é comum que a pessoa ainda sofra, por ter muitas datas em que ela vivia com aquela pessoa: o aniversário, o Dia dos Pais ou das Mães, o Natal e outras datas.
Se a pessoa não conseguir superar a morte – não se alimentando, sem sair de casa e persistindo no sofrimento por muito tempo – é sinal que ela precisa procurar uma ajuda profissional.