ROTANEWS176 16/08/2023 19:50
Reprodução/Foto-RN176 Amizade supreendentemente – GETTY IMAGES
Quando você pensa em amizade, o que vem à sua mente? Uma conversa telefônica até tarde da noite? Ver um filme e dividir uma pizza? Dar algumas risadas bebendo uma cerveja?
A amizade é uma parte central da experiência humana. Nossas histórias, nossas canções e nossas conversas são tecidas com fios de amizade.
Em termos científicos, duas pessoas são consideradas amigas se consistentemente preferem uma à outra ao invés de outros indivíduos. No entanto, os humanos não são os únicos que fazem amizades.
Talvez não seja tão surpreendente que nossos parentes mais próximos, como os chimpanzés e os bonobos, também tenham amigos.
Mas espécies de todo o reino animal, de pássaros e peixes a cavalos e golfinhos, também têm amigos. E é surpreendente o quanto essas amizades são semelhantes às humanas.
Semelhanças
Quando pensamos em nossos próprios amigos, percebemos que eles são iguais em vários sentidos.
Talvez vocês tenham crescido na mesma cidade e tenham estudado juntos, compartilhem hobbies ou tenham empregos semelhantes.
Essa propensão à semelhança, ou o que os cientistas chamam de “homofilia”, não é exclusiva dos humanos. Acredita-se que essa preferência pela semelhança aumenta a previsibilidade e a confiança em um amigo.
Reprodução/Foto-RN176 A amizade é uma parte central da experiência humana – GETTY IMAGES
Macacos, zebras, marmotas, elefantes e baleias mostram preferência por interagir com indivíduos próximos de sua faixa etária.
Chimpanzés e macacos-de-assam gostam de estar com outros que têm personalidades semelhantes (sim, os animais também têm personalidades) e os golfinhos preferem outros golfinhos que encontram sua comida de maneira semelhante.
Uma das tendências homofílicas mais estabelecidas é a afinidade por outros que compartilham os mesmos genes, ou seja, pela família.
Em todo o reino animal, as espécies mostram uma predileção por interagir com parentes.
Portanto, apesar das teimosas rivalidades entre irmãos, os membros de sua família podem estar entre seus melhores amigos.
Conexão física
Quando consideramos a importância do toque nos relacionamentos, muitas vezes pensamos em parcerias românticas. Mas a conexão física pode ser importante em qualquer tipo de relacionamento.
Reprodução/Foto-RN176 A conexão física é importante em qualquer tipo de relacionamento – GETTY IMAGES
Os animais nos provam isso. Alguns dos comportamentos que eles adotam para formar e manter amizades são bastante práticos.
Gralhas limpam seus amigos gentilmente com o bico, enquanto macacos usam as mãos. Esses comportamentos não são tão diferentes da forma como nós, humanos, abraçamos nossos amigos.
No entanto, no caso de alguns animais, os rituais de amizade podem parecer selvagens. Os macacos-prego-de-cara-branca cumprimentam seus melhores amigos enfiando os dedos nas órbitas oculares. Babuínos machos da Guiné testam seus laços acariciando os órgãos genitais um do outro.
Embora não recomendemos cutucar os olhos, um abraço na próxima vez que você disser olá ao seu melhor amigo pode ser uma boa ideia.
Distância não é impedimento
Mas é claro que nem todas as amizades exigem proximidade.
As amizades podem até se formar entre indivíduos de espécies que se evitam ativamente.
Os esquilos-vermelhos-americanos são territoriais, o que significa que cada um deles defende sua própria casa e raramente entra em contato além do acasalamento.
Reprodução/Foto-RN176 Sons emitidos pelos golfinhos podem viajar até 740 metros para se comunicar com ‘amigos’ – GETTY IMAGES
Mas pesquisas mostram que esquilos que vivem juntos por muito tempo desenvolvem amizades que os ajudam a viver mais e a ter mais bebês. Quanto mais tempo esses esquilos vivem perto do mesmo vizinho, mais eles relaxam e gastam menos tempo e energia defendendo seu território.
Embora no passado as amizades dependessem de presença física, viagens internacionais, redes sociais e videochamadas mudaram a maneira como nos conectamos hoje.
A amizade humana está cada vez mais diferente, especialmente desde a pandemia de covid, mas nossos colegas animais têm nos mostrado que boas amizades podem ser cultivadas mesmo à distância.
Os golfinhos, por exemplo, mantém proximidade se comunicando com outros golfinhos por meio de chamados de longas distâncias. Os sons emitidos podem viajar até 740 metros para ajudar a preservar relacionamentos de longa distância.
Reprodução/Foto-RN176 Aliança pode ajudar a evitar ferimentos e morte – GETTY IMAGES
Muitos primatas, incluindo lêmures, macacos-japoneses, bonobos e chimpanzés, também usam vocalizações para manter laços sociais.
Vidas mais longas e saudáveis
A amizade evoluiu ao longo dos anos porque trouxe benefícios, tanto para os humanos quanto para os animais.
Animais (incluindo humanos) que têm aliados vivem vidas mais longas e saudáveis, ajudando seus companheiros a lidar com os desafios.
Amigos podem oferecer apoio em tempos de conflito e fornecer proteção contra ameaças como predadores e escassez de alimentos.
Essa aliança pode ajudar a evitar ferimentos e morte. Por exemplo, orcas e lobos socialmente integrados têm maior probabilidade de sobreviver quando a comida é escassa do que aqueles que vivem nos limites de seus grupos.
Reprodução/Foto-RN176 Amigos compartilham alimentos e informações sociais sobre onde encontrá-los – GETTY IMAGES
Isso ocorre porque seus amigos compartilham alimentos e informações sociais sobre onde encontrá-los.
Ainda temos muito a aprender sobre a amizade animal, e alguns cientistas estão trabalhando para aprofundar nossa compreensão dos laços sociais dos animais.
A vida humana moderna tende a estar longe de riscos como ser caçado por ursos ou lobos, mas o resultado final da amizade permanece verdadeiro.
Os humanos fazem amigos porque há benefícios mútuos. Esses benefícios podem ser um ombro para chorar, uma babá para cuidar de nossos filhos ou um aviso sobre vagas de emprego.
Como demonstram baleias, pássaros e primatas, os amigos nos ajudam. Sem eles, temos menos chances de sobreviver e prosperar.
*Beki Hooper, Delphine De Moor e Erin Siracusa são pesquisadoras de pós-doutorado em comportamento animal, da Universidade de Exeter, no Reino Unido.
**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês.