Como Elvis Presley continua ganhando uma fortuna, 40 anos após a morte

Fim da carreira não significa menos lucros para lendas musicais como Elvis e para fãs empreendedores.

BBC BRASIL.COM E ROTANEWS176 16/08/2017 16:59

Quando Elvis Presley, que estava cada vez mais deprimido, morreu há 40 anos, em 16 de agosto de 1977, os mais cínicos na indústria musical comentavam que foi uma “boa estratégia de carreira”.

Reprodução/Foto-RN176 Elvis Presley em 1975 Foto: BBCBrasil.com

De fato, a morte deu um impulso no poder de venda não apenas de Elvis, mas também de Bob Marley, Jimi Hendrix, Janis Joplin, David Bowie e muitas outras lendas da música.

Também permitiu que vários fãs empreendedores pudessem viver da venda de objetos relacionados a seus ídolos.

O valor do legado de Elvis continua bastante alto – a lista da Forbes de estrelas mortas que mais lucram diz que ele (ou melhor, sua família) acumulou US$ 27 milhões (R$ 85 milhões) em 2016, e vendeu um milhão de discos.

O notório gosto de Elvis por comida pouco saudável não deve ter ajudado sua saúde – ele morreu de ataque cardíaco com apenas 42 anos. Seu sanduíche favorito, dizem, consistia de duas fatias de pão frito recheadas de bacon crocante e bananas fritas cobertas com geleia e manteiga de amendoim.

Reprodução/Foto-RN176  O sanduíche favorito de Elvis Presley está à venda em Randers, um museu temático na Dinamarca Foto: Helen Soteriou / BBCBrasil.com

Graceland vendeu 11 mil sanduíches a visitantes no ano passado. Mas não estamos falando de Graceland, a residência oficial de Presley em Memphis que hoje é aberta à visitação, e, sim, de Graceland Randers, na um museu sobre Elvis na Dinamarca.

A atração turística no norte do país é propriedade de um super fã dinamarquês, Henrik Knudsen, de 53 anos, que construiu uma cópia da mansão de Graceland para manter a lenda do rock viva na Escandinávia.

“Eu tinha 13 anos quando ele morreu. Não posso dizer que foi um choque, eu não tinha tanto interesse nele na época, mas percebi que era algo importante”, disse Henrik, um cidadão honorário de Memphis, que visitou a Graceland original cerca de cem vezes.

Ele fundou um fã clube de Elvis no país e sua réplica da mansão foi inaugurada em 2011. No ano passado, o local recebeu 150 mil visitantes.

Reprodução/Foto-RN176 Henrik chegou a chamar seu museu de Graceland, mas foi processado pela fundação que administra o patrimônio do artista Foto: Helen Soteriou / BBCBrasil.com

 Negócio lucrativo

A construção da casa custou R$ 11 mihões, com museu e subsolo, um salão de convenções, uma loja e um café, mas em seis meses Henrik ganhou dinheiro suficiente para pagar seus investidores.

Com o sucesso, veio também um processo da Elvis Presley Enterprises, o braço corporativo criado pela Fundação Elvis Presley para gerenciar o licenciamento mundial de produtos relacionados cantor, por violação da marca registrada Graceland.

Em dezembro de 2015, Graceland Randers passou a se chamar Memphis Mansions, e Henrik se nega a discutir os aspectos legais do caso.

Quanto custa uma visita à réplica da mansão de Elvis na Dinamarca:

Reprodução/Foto-RN176 Elvis  Foto: BBCBrasil.com

 

 

  • Sanduíche Elvis Presley – 69 coroas dinamarquesas (R$ 34)
  • Preço da entrada – 99 coroas (R$ 49) para adultos, 69 (R$ 34) para crianças entre 12 e 17 anos, gratuito para crianças abaixo de 12 anos

Outro fanático por Elvis que ganha a vida com seu herói, Sid Shaw, é dono do site Elvisly Yours, que desde Londres vende produtos licenciados a fãs de mais de 50 países.

Ao longo dos anos ele vendeu canecas, fantasias, revistas, livros, pôsteres, crachás, camisetas, pratos, ímãs, óculus escuros de Elvis e tapeçarias temáticas, entre outros.

“Eu primeiro ouvi o Elvis no Radio Luxembourg (uma emissora de rádio britânica que foi vendida em 1992). Era o único lugar onde dava para ouvir música pop (na época)”, diz Sid, agora com 71 anos.

Reprodução/Foto-RN176 Sid Shaw Foto: BBCBrasil.com

“Elvis apareceu e era totalmente diferente de tudo, então virei fã”, relembra.

Sid começou fazendo bustos de Elvis em 1977, o ano de sua morte, e criou um fã-clube no ano seguinte.

“Naquela época, o patrimônio de Elvis Presley não tinha marca registrada. Aí eu tentei registrar a marca ‘Elvis’, e me disseram que eu não poderia porque era genérico. Então eu pedi a segunda melhor opção, que era ‘Elvisly Yours’ e consegui.”

A frase “Elvisly Yours” é uma espécie de “atenciosamente” ou “com carinho” com a qual os fãs de Elvis em todo o mundo assinam suas cartas.

Sid diz que, para se proteger, registrou outras 38 marcas no Reino Unido e na Europa.

Enquanto isto, o site eBay diz que a atual demanda por material do “rei” foi responsável pela venda de 12 itens relacionados a Elvis a cada hora durante os últimos três meses, incluindo desde canecas até máscaras.

E há quase 70 mil listas de produtos de Elvis no site.

Os números de Graceland, o “local sagrado” dos fãs de Elvis em Memphis, EUA:

Reprodução/Foto-RN176 Graceland, Memphis Foto: BBCBrasil.com

 

  • Preço da entrada: US$ 57.50 (R$ 181) para adultos, US$ 51.75 (R$ 163) para pessoas acima de 62 anos e jovens entre 13 e 17 anos, US$ 27 (R$ 85) crianças entre 7 e 12 anos, e gratuito para crianças de 6 anos
  • 500 mil visitantes por ano
  • 4 mil visitantes por dia em julho
  • Contribui com US$ 150 milhões por ano na economia de Memphis

Turismo

Enquanto fãs de Elvis são, em sua maioria, da geração que cresceu com ele, outros músicos – tais como a lenda do reggae Bob Marley – apelam para diversas gerações. No caso de Marley, ele também se tornou sinônimo de Jamaica, ajudando a impulsionar o turismo na ilha caribenha.

“Bob Marley é mais do que um artista da terra, ele é um ícone”, diz o diretor de turismo da Jamaica Paul Pennicook.

Reprodução/Foto-RN176 Bob Marley nos anos 1970 Foto: BBCBrasil.com

O legado de Marley é supervisionado pelo The Bob Marley Group, que pertence à sua família, e inclui o Museu Bob Marley.

Localizado em Kingston, capital jamaicana, o museu era a antiga casa de Marley. Depois de sua morte, em 1981, ela atrai mais de 36 mil visitantes por ano.

Reprodução/Foto-RN176 O Museu do Bob Marley é a antiga casa do ícone do reggae Foto: Helen Soteriou / BBCBrasil.com

Produtos que levam o nome do cantor incluem o Marley Coffee, toca-discos Stir It Up (parte de uma linha de aparelhos de som) e o sorvete One Love.

Até hoje, quando estrelas da música morrem – como David Bowie, em janeiro de 2016 – objetos relacionados a elas tendem a subir de preço rapidamente.

“Nós tendemos a ver uma reação instintiva do mercado após a morte de artistas colecionáveis”, diz Katherine Schofield, diretora do departamento de entretenimento da casa de leilão Bonhams, do Reino Unido, diz.

“Depois de algum tempo o mercado se estabelece, e conseguimos ver com mais clareza se os preços continuarão altos.”

A empresa de camisetas Truffle Shuffle, por exemplo, teve um impulso de vendas após a morte de Bowie.

“Assim como com a música dele, as vendas de produtos licensiados triplicaram. Os fãs queriam algo para lembrar do seu ídolo”, diz Claire Wood, chefe de vendas da empresa.

Reprodução/Foto-RN176  A woman leaves flowers beneath a Jimmy C mural of David Bowie in Brixton on January 11, 2016 in London Foto: BBCBrasil.com

Já o artista australiano Jimmy C acabou vendendo edições limitadas de gravuras com o mural que ele criou no bairro de Brixton, em Londres, em 2013, e que se tornou famoso em todo o mundo pelas homenagens ao cantor.

Mas fundações que administram o patrimônio dos artistas estão sempre em busca de casos que cruzam a linha entre homenagem e violação dos direitos autorais – o que nem sempre é um trabalho fácil, quando se trata de ícones do porte de Bob Marley ou Elvis.

“Nosso trabalho contra a pirataria é contínuo. Continuamos encorajando o público a fazer a coisa certa e denunciar quaisquer usos ilegais da imagem dele”, diz a Fundação Bob Marley.