ROTANEWS176 E POR CANALTECH 13/07/2023 17h56 Por: Augusto Dala Costa
Embora nunca tenhamos encontrado o fóssil preservado do último ancestral comum entre humanos e macacos, temos uma boa ideia de como o extinto primata era.
É comum ouvir por aí a simplificação da seleção natural das espécies na frase “o homem veio do macaco”. Errônea, a frase na verdade deveria dizer é que nós, os humanos, temos um ancestral comum com os primatas superiores dos dias de hoje, como os gorilas, orangotangos, chimpanzés e gibões. Como sabemos disso? Somos criaturas muito parecidas, com bonobos e chimpanzés tendo 98,7% de seu DNA idêntico ao nosso. Um ancestral que deu origem a nós e eles sem dúvida existiu.
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Esse último ancestral comum (UAC) não era macaco e nem humano, e viveu durante a época do Mioceno, entre 23 milhões e 5 milhões de anos atrás. Não há evidências diretas da aparência desse ancestral como restos fósseis preservados, mas como ele teria sido? A ciência tem algumas teorias, com base nos restos preservados de animais que vieram antes e depois dele.
Reprodução/Foto-RN176 Foto: PxFuel/Domínio Público / Canaltech
Em termos de crânio, cérebro, pernas, braços e até dedos, é provável que o UAC tenha se parecido mais com os gorilas e chimpanzés dos dias atuais, embora não seja possível estimar o seu tamanho. Fósseis de primatas da época do nosso ancestral são raros, e os primeiros deles — chamados de primatas ramificados — têm tamanhos bastante variados, indo dos pequenos, como os gibões, aos grandes, como os gorilas.
Ancestral comum dos humanos e macacos era bípede ou quadrúpede?
Uma grande diferença entre os Homo sapiens e os primatas superiores é que nós somos bípedes. E o UAC? Pesquisas indicam que o antigo parente de humanos e macacos era quadrúpede, conseguindo escalar verticalmente em árvores e ter comportamento suspensório, ou seja, ficavam pendurados em galhos, como nós mesmos conseguimos fazer.
Os primatas atuais preferem se balançar entre os galhos, mas pelo menos alguns dos primatas ramificados não eram especializados para o comportamento suspensório — ou seja, não tinham adaptações como dedos grandes e curvados, pulsos bastante móveis e juntas nos ombros e quadril. Isso quer dizer que o UAC pode não ter sido especializado em suspensão.
Embora alguns cientistas especulem, de vez em quando, que o UAC possa ter sido bípede, mas sua proximidade com os primatas pode significar que ele preferisse andar nas 4 patas, como os macacos atuais fazem. Gorilas e chimpanzés conseguem andar em pé, mas isso é desconfortável por razões anatômicas.
Pesquisas recentes mostram que o primeiro ancestral humano — e que pode, segundo algumas fontes, já ser considerado “humano”, embora não tenha sido do gênero Homo — a adotar o bipedalismo foi o Sahelantropus tchadensis, que viveu há 7 milhões de anos, embora habitasse árvores à noite e pudesse andar nas 4 patas.
Cabeça, ombro, joelho e pé do ancestral comum
Outra característica bastante variada entre os primatas ramificados antigos era o formato de suas cabeças. Alguns tinham crânios como o do gibão, com rostos curtos, enquanto outros eram mais parecidos com macacos primitivos e macacos-do-velho-mundo, como babuínos (gênero Papio) e macacos do gênero Macaca. Mesmo assim, é quase certo que o cérebro do UAC era menor do que o nosso. Nós, como bípedes, temos a cabeça no topo no corpo, mas o nosso ancestral a teria mais à frente, como os chimpanzés.
É raro encontrar braços ou pernas preservados dos primeiros primatas, mas os membros superiores dos primeiros Hominini (que incluem os gêneros Homo e Pan, de humanos e chimpanzés, e nossos ancestrais) costumam ser maiores e mais fortes, o que é associado a uma locomoção que envolve os braços, como escalada e suspensão.
As pernas do UAC teriam sido pequenas, curtas como a dos gorilas (Gorilla gorilla e Gorilla beringei), orangotangos (gênero Pongo), bonobos (Pan paniscus) e chimpanzés (Pan troglodytes). Com isso, acredita-se que nossos ancestrais viviam sob o dossel das árvores, e não nas savanas africanas.
Já os dedos teriam sido longos e curvados nos pés e nas mãos, segundo um estudo de 2021 que analisou o Ardipithecus, um dos primeiros hominínios, de 4,4 milhões de anos atrás. Ele era mais parecido com os chimpanzés e bonobos entre todos os humanos e primatas.
Todos nós andamos com os calcanhares tocando o chão, e o UAC teria feito o mesmo — esse comportamento costuma estar ligado a outra característica dos primatas africanos, que é se apoiar nos nós dos dedos das mãos para andar. Adaptações evolutivas para escalar verticalmente também estão ligadas a esse traço.
Todas as características que conseguimos calcular indicam que o UAC não era um gorila nem um chimpanzé, mas seria mais parecido com eles dentro todos os primatas, incluindo nós mesmos. Em algum momento da ramificação das espécies, nossos ancestrais se destacaram, adotaram o bipedalismo e andaram até onde estamos hoje. Imaginar uma aparência mais definitiva dos nossos ancestrais antes disso dependerá do encontro de novos fósseis.
Fonte: Science Advances e Nature
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