ROTANEWS176 E POR EU ATLETA 15/04/2020 10h10 Por Juliana Baptista
Segundo estudo italiano, a vitamina D é uma aliada no combate ao coronavírus. Nutrólogo e endocrinologista explicam a sua importância para quem pratica atividade física e dão dicas
Recentemente foi publicado um estudo italiano da Universidade de Turim que sugere que a vitamina D pode contribuir para a redução do risco de agravamento na infecção por Covid-19, doença respiratória causada pelo coronavírus. Muitos dos pacientes hospitalizados observados pelo estudo, principalmente os idosos, apresentaram hipovitaminose D, ou seja, a deficiência da substância em seu organismo. Como a vitamina D tem um papel importante em nossa imunidade, a pesquisa conclui que manter bons níveis de do nutriente pode ajudar o sistema imunológico a combater o vírus e reduzir a possibilidade de agravamento da doença. Vale ressaltar que o objetivo do controle dos níveis de vitamina D não é um tratamento específico para o Covid-19 nem evita que ela se instale. Ela pode, no entanto, ser uma ferramenta importante para que os pacientes respondam melhor à inflamação que ela causa. Mas durante o confinamento, sem passeios ou exercícios ao ar livre, como manter os níveis adequados da vitamina D, já que nosso organismo precisa de sol para sintetizá-la?
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Reprodução/Foto-RN176 Durante o confinamento, é importante abrir as cortinas e se expor ao sol — Foto: Istock Getty Images
Os raios UV do sol são responsáveis por estimular a produção da vitamina D na pele. A Organização Mundial de Saúde afirma que a melhor forma de manter concentração ideal de vitamina D é com a exposição solar. Mas não se preocupe com o risco de câncer de pele: cerca de 15 minutos diários são suficientes para garantir a produção da substância.
– O colesterol da pele produz formas inativas até chegar na forma ativa da vitamina D, e é o aquecimento da pele que vai estimular a formação do pró-hormônio e, assim, chegar à vitamina D que conhecemos. Por isso, o sol é importante neste processo. A melhor fonte de vitamina D é a da síntese endógena, ou seja, aquela que nós mesmos produzimos pela exposição solar. E o melhor horário para exposição é das 10 às 14 horas, que é quando ocorre a maior incidência de sol direto. E não é necessário ficar exposto durante horas para produzir vitamina D, basta aquecer os braços ou pernas durante 15 minutos por dia – recomenda a endocrinologista Victória Borba, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explicam e dão dicas.
Mas, com o isolamento social, muitas pessoas têm passado a maior parte do tempo em ambientes fechados, sem exposição solar. O médico nutrólogo e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UNESP Botucatu Sérgio Rupp recomenda que pessoas com pouca ou nenhuma exposição devem conversar com seus médicos para avaliar a necessidade de suplementação de vitamina D. O ideal, no entanto, é procurar aquele cantinho da casa onde há uma janela onde bata sol.
Dicas para manter a Vitamina D em dia
Reprodução/Foto-RN176 São poucos alimentos da nossa dieta comum que possuem doses significativas de vitamina D, explica o nutrólogo. — Foto: Shutterstock
Os especialistas comentam que os únicos meios para adquirir vitamina D são alimentação, exposição solar e, nos casos específicos, suplementação com recomendação médica. Durante o isolamento você pode seguir algumas dicas para evitar a deficiência da vitamina no seu organismo:
- Alimentação. Não são muitos alimentos que possuem quantidades expressivas de vitaminas D2 e D3, então é necessário incluir esses itens na dieta com frequência, mas lembrando que não adianta comer peixe e ovo, mas não se expor ao sol para que ele sintetize a vitamina D no organismo:
- Salmão selvagem
- Salmão de cativeiro
- Sardinha em lata
- Cavala em lata
- Atum em lata
- Cogumelo shitake (de preferência o seco ao sol)
- Gema de ovo
- Carne
- Reserve um tempinho para o sol. Mesmo durante este tempo em casa, reserve 15 minutos para se expor ao sol. Se você tem quintal, passe um tempo brincando com o cachorro ou com os filhos. Faça alguma atividade física ou até mesmo confira as notificações do celular. Se não tem quintal e mora num apartamento, analise em qual janela bate sol, e em que horário. Fique próximo à sacada ou à janela para trabalhar, leia livros ou até mesmo faça suas refeições próximo ao sol.
- Converse com seu médico sobre a necessidade ou não se suplementação de vitamina D. Mas mesmo nesse caso a exposição ao sol é importante para evitar risco de intoxicação.
O papel da vitamina D em nosso corpo
Sérgio Rupp explica que o papel mais conhecido da vitamina D está relacionado à saúde óssea, além de também exercer diversas funções no organismo.
– A ação clássica da vitamina D é regular o metabolismo de cálcio e fósforo no organismo. Dessa forma, ela atua nos ossos, no intestino e nos rins. Sabe-se que ela tem função essencial no equilíbrio de vários outros órgãos e células do corpo. Estudos têm mostrado que a deficiência de vitamina D está associada ao maior risco de várias doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, tumores e doenças imunológicas e infecciosas – esclarece Rupp.
Segundo a endocrinologista Victória Borba, além da função na absorção e regulação do metabolismo do cálcio no nosso organismo, a vitamina D também tem um papel importante no sistema imunológico.
– A vitamina D ajuda no combate à inflamação e à infecção. Essa função ficou conhecida com os casos de tuberculose, já que ela ajuda a combater o microrganismo da bactéria da tuberculose e também auxilia o organismo a reagir melhor à inflamação. E quando você tem deficiência de vitamina D, é comum que o corpo apresente menor defesa e menor ativação de células que ajudam a combater à inflamação – explica a endocrinologista.
Atletas devem ficar atentos
Reprodução/Foto-RN176 A deficiência da vitamina D no atleta pode acarretar prejuízos à saúde óssea, ao músculo e ao sistema imunológico — Foto: Istock Getty Images
A endocrinologista Victória Borba explica que qualquer indivíduo com deficiência de vitamina D vai apresentar uma resposta muscular inferior. Isso vale não só para atletas profissionais, mas também para amadores e para qualquer um que pratique atividade física.
– Como qualquer outra pessoa, o atleta tem que estar com a saúde em dia e deve ter níveis normais de vitamina D, mas não há a necessidade que ele tenha uma concentração maior do que 20 nanogramas por ml da vitamina no sangue – ressalta Victória.
Sérgio Rupp ressalta que é importante para os esportistas manterem o equilíbrio para conseguir um bom desempenho e que é necessário cautela para evitar também o excesso.
– A deficiência da vitamina D no atleta pode acarretar prejuízos à saúde óssea, ao músculo e ao sistema imunológico. Isso pode atrapalhar na recuperação de lesões musculares e aumentar o risco de infecções. Por outro lado, muitos atletas agora utilizam de suplementos, geralmente consumindo doses elevadas da vitamina. Este excesso pode causar problemas de saúde. Como em tudo na vida, devemos prezar pelo equilíbrio, e esse raciocínio se estende à vitamina D: não devemos criar uma nova doença (toxicidade) para evitar outra (deficiência) – ressalta o médico nutrólogo.
Os perigos da deficiência e superdosagem
Geralmente, quem mais sofre com a deficiência de vitamina D são idosos acima dos 60 anos, pessoas que sofrem quedas e fraturas recorrentes, diabéticos, obesos, pessoas que fizeram cirurgia bariátrica ou aquelas que têm problemas com absorção de nutrientes, além de pacientes de doenças renais.
A concentração recomendada para um adulto jovem é de 20 nanogramas por ml de hidroxivitamina D no sangue para ter uma boa saúde óssea. Os indivíduos que fazem parte do grupo com maior probabilidade de apresentar deficiência da vitamina precisam controlar os níveis da substância com exames frequentes. Entretanto, Sérgio Rupp alerta sobre os perigos da superdosagem durante a suplementação da vitamina.
– Com relação ao tratamento da deficiência de vitamina D, verificamos que, para manter a concentração de 20ng/mL, muitas vezes são prescritas altas doses de suplementos. Porém, na tentativa de corrigir a carência, é comum provocar uma situação de toxicidade. O excesso de vitamina D pode ser tóxica ao organismo. – destaca o médico.
Sérgio Rupp comenta que seu grupo de estudos na Universidade Estadual Paulista analisa o impacto da vitamina no sistema cardíaco e demonstra preocupação com as consequências de doses altas nesse contexto.
– Nosso grupo de pesquisa na UNESP trabalha com o papel da vitamina D no sistema cardiovascular. Em experimento sobre a deficiência de vitamina D em ratos, vimos que apareceram alterações importantes na forma e na função do coração, o que reforça a importância da substância para esse órgão. Em outro estudo, ofertamos doses crescentes de vitamina D aos ratos (doses que não provocavam riscos ou toxicidade) e analisamos o coração e a artéria aorta deles. Observamos que essas doses levaram ao aparecimento de hipertensão e alterações na aorta, aumento do músculo cardíaco e piora da função do coração – explica Rupp.