ROTANEWS176 E POR CNN 24/06/2023 07:54
Destroços do submersível Titan foram encontrados na quinta-feira (23) e indicam que a embarcação implodiu após perda de pressão na cabine.
Reprodução/Foto-RN176 Submersível Titan operado pela OceanGate ExpeditionsOceanGate Expeditions/Handout via REUTERS
Os destroços do submersível Titan – que estava desaparecido desde domingo (18) após iniciar uma expedição até os destroços do Titanic – foram encontrados na quinta-feira (23) e indicam que a embarcação implodiu após perda de pressão na cabine.
A empresa responsável pelo submersível e pela expedição, a OceanGate Expeditions, passou a receber questionamentos sobre seus procedimentos de segurança e relatórios sobre problemas mecânicos, expedições canceladas e um suposto desrespeito aos processos regulatórios começaram a vir à tona.
A morte dos cinco passageiros do submersível foi confirmada pela Guarda Costeira em entrevista à imprensa. Estavam a bordo: o empresário britânico Hamish Harding; o mergulhador Paul-Henri Nargeolet; o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Sulaiman Dawood; e o CEO e fundador da OceanGate, Stockton Rush.
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Embora não esteja claro o que causou a implosão, a OceanGate já havia recebido críticas sobre possíveis falhas de segurança. Confira cinco delas:
- Fibras de carbono
A embarcação era composta de duas partes distintas: um casco feito de fibra de carbono, que deveria suportar a altíssima pressão existente a quatro quilômetros de profundidade no mar, e a cabine na qual ficam os passageiros. Na teoria, a cabine deveria estar protegida da pressão exercida pela água, pois esta seria suportada pelo casco.
O casco do Titan era feito principalmente de fibra de carbono — fibras de alta resistência que são mais leves, disse Doug “DJ” Virnig à CNN. Ele trabalhou no projeto por cerca de um ano em uma função operacional.
Em vídeos online, Rush explicou o design não convencional do Titan, que ele disse incluir fibra de carbono para aumentar a flutuabilidade da embarcação. Ela “nunca foi usada em um submersível tripulado antes”, afirmou em um vídeo no ano passado.
“Se você usa [fibra de carbono] em uma aplicação convencional, como na fuselagem de um avião, onde elas estão sob tensão, essa é uma aplicação convencional e conhecida para esse material. Mas sob compressão, as forças são exatamente opostas”, disse Virnig. “Essa é uma aplicação bastante experimental ou não convencional para esse material.”
O casco do Titan passou no teste ao qual foi submetido, com a pressão similar à encontrada na profundidade onde o Titanic está. A questão, porém, era como isso se manteria ao longo do tempo, pontuou Virnig.
“Se você fizer isso repetidamente, o que acontece?” ele disse. “Esses são os tipos de perguntas que, se você tem um longo programa de pesquisa e desenvolvimento, consegue responder. Mas se você realmente está indo além, não há tempo para isso — você vai responder a essas perguntas em tempo real.”
- Espessura do casco
Pelo menos dois ex-funcionários da OceanGate, anos atrás, separadamente, também expressaram preocupações de segurança sobre a espessura do casco do Titan.
David Lochridge trabalhou como contratado independente para a OceanGate em 2015, depois como funcionário entre 2016 e 2018, de acordo com documentos judiciais.
A empresa rescindiu seu contrato de trabalho e processou Lochridge e sua esposa em 2018, alegando que ele compartilhou informações confidenciais, se apropriou indevidamente de segredos comerciais e usou a empresa para assistência imigratória e, em seguida, inventou um motivo para ser demitido.
A ação de Lochridge diz que ele foi encarregado pelo CEO da OceanGate, Stockton Rush, para realizar uma inspeção do submersível.
Reprodução/Foto-RN176 / Arte CNN
Lochridge levantou preocupações de que nenhum teste não destrutivo foi realizado no casco do Titan para verificar “delaminações, porosidade e vazios de adesão suficiente da cola usada devido à espessura do casco”. Ele foi demitido pouco tempo depois.
Outro ex-funcionário da OceanGate, que trabalhou brevemente para a empresa durante o mesmo período em que Lochridge, falou à CNN sob condição de anonimato porque não está autorizado a falar publicamente.
Ele disse que ficou preocupado quando o casco de fibra de carbono do Titan chegou, ecoando as preocupações de Lochridge sobre sua espessura.
O ex-funcionário afirmou que o casco foi construído com apenas pouco mais de 12 centímetros de espessura, enquanto ele disse que os engenheiros da empresa recomendaram cerca de 17 centímetros de espessura.
- Sistema de monitoramento
Segundo o site da OceanGate, o Titan também possuía um “recurso de segurança incomparável” que monitorava a integridade do casco da embarcação durante cada mergulho.
Lochridge também questionou o sistema de monitoramento na embarcação, que serviria para detectar o início da quebra do casco. Seu processo judicial argumenta que “esse tipo de análise acústica só mostraria quando um componente está prestes a falhar — geralmente milissegundos antes de uma implosão — e não detectaria nenhuma falha existente antes de colocar pressão no casco”.
Arquivos judiciais da OceanGate sugerem que mais testes foram feitos depois que Lochridge deixou a empresa. Não é possível dizer se suas preocupações foram abordadas ou solucionadas.
- Falta de certificação
O submersível Titan não tinha certificação de nenhuma agência reguladora. Como o Titan estava mergulhando em águas internacionais, a embarcação parecia operar em uma lacuna regulatória.
A OceanGate afirmava que a documentação não existia por ser uma tecnologia totalmente nova, sem parâmetros de autorização. Rush já havia declarado que, para ele, inovação significava: “Escolher as regras que você quebra que agregarão valor aos outros e agregarão valor à sociedade”, disse ele a Alan Estrada, um youtuber que documentou sua viagem ao Titanic, incluindo uma tentativa abortada em julho de 2021 antes de uma visita bem-sucedida em 2022.
Essa declaração ecoa outras da empresa de Rush, que reconheceu em um post de 2019 em seu site que a embarcação não havia sido classificada porque a classificação de projetos inovadores geralmente requer um processo de aprovação de vários anos, o que impediria a inovação rápida.
A maioria das operações marítimas, disse o post, “exige que as embarcações fretadas sejam ‘classificadas’ por um grupo independente, como o American Bureau of Shipping (ABS), DNV/GL, Lloyd’s Register ou um dos muitos outros”.
Mas essas agências não “garantem que os operadores sigam procedimentos operacionais adequados e processos de tomada de decisão”, que o post disse serem “muito mais importantes para mitigar os riscos no mar” porque a maioria dos acidentes ocorre devido a erro do operador.
Reprodução/Foto-RN176 Interior do submersível Titan da OceanGate, visto em 2018 / CNN/Komo
Uma das empresas de certificação marítima, Lloyd’s Register, disse à CNN que “recusou um pedido” da OceanGate Expeditions para certificar o Titan.
O Comitê de Veículos Subaquáticos Tripulados da Marine Technology Society escreveu uma carta a Stockton Rush em 2018 que expressava preocupação com a falta de certificação e dizia: “Nossa apreensão é que a atual abordagem ‘experimental’ adotada pela Oceangate possa resultar em resultados negativos (de menores a catastróficos) que teriam sérias consequências para todos na indústria.”
Will Kohnen, que participou da carta e falou com o CEO da OceanGate sobre suas preocupações, disse à CNN: “Existem 10 submarinos no mundo que podem atingir 12 mil pés ou mais. Todos eles são certificados, exceto o submersível da OceanGate.”
- Incidentes anteriores
Segundo registros judiciais, a OceanGate enfrentou uma série de problemas mecânicos e condições climáticas adversas que forçaram o cancelamento ou adiamento de viagens nos últimos anos.
Uma empresa de viagens com sede em Londres, Henry Cookson Adventures Ltd., acusou a OceanGate de não ter um “navio em condições de navegar” após ter fechado um acordo em 2016 para levar até nove passageiros ao Titanic em 2018.
A empresa de viagens tentou recuperar cerca de US$ 850.000 pagos à OceanGate, de acordo com uma ação civil movida em 2021. A OceanGate não respondeu às reivindicações no tribunal e não pôde ser contatada para comentar sobre.
Uma postagem no site da OceanGate em 2018 afirmou que “atrasos causados pelo clima e raios” impediram a empresa de concluir uma série de mergulhos, mas o processo da Henry Cookson Adventures questionou essa justificativa. “A alegação de raios não foi verificada e o verdadeiro motivo pode ser… porque o navio submersível não pôde ser certificado no momento para operações seguras”, alegou a empresa turística.
O caso foi encerrado em julho passado pela empresa de viagens Cookson Adventures, cujo porta-voz se recusou a comentar o litígio e disse que a empresa decidiu não prosseguir com nenhum projeto envolvendo a OceanGate.
Mais recentemente, um casal da Flórida alegou em uma ação judicial deste ano que não conseguiu obter um reembolso depois que sua planejada expedição ao Titanic em 2018 com a OceanGate foi repetidamente adiada. A súmula online do caso não mostra resposta ao processo.
Algumas expedições foram adiadas depois que a OceanGate foi forçada a reconstruir o casco do Titan porque apresentava “fadiga cíclica” e não seria capaz de viajar fundo o suficiente para alcançar os destroços do Titanic, de acordo com um artigo de 2020 da GeekWire, que entrevistou o CEO da empresa.
Em outro cancelamento de alto nível, a OceanGate, no ano passado, levou David Pogue, da CBS News, para um mergulho em seu submersível, mas cancelou a viagem devido a um mau funcionamento do equipamento após descer apenas 11 metros, disse Pogue na transmissão.
Em um mergulho posterior, a embarcação perdeu contato com o navio e não conseguiu encontrar os destroços. “Ficamos perdidos por duas horas e meia”, disse um passageiro que falou com a CBS News.
Durante um mergulho em 2022, o submersível encontrou um problema de bateria e teve que ser “anexado manualmente à sua plataforma de elevação”, o que levou a “danos modestos sustentados em seus componentes externos”, de acordo com um processo judicial de novembro de um consultor da empresa.
A OceanGate cancelou uma missão subsequente “para reparos e aprimoramentos operacionais”, mas chegou ao naufrágio em outras posteriores, afirmou o documento.
*Publicado por Fernanda Pinotti