ROTANEWS176 E POR IMPENSADO 09/06/2020 19:00
A NASA tem um site chamado Astronomy Picture of the Day (APOD), no qual destaca uma imagem astronômica por dia. Geralmente, é uma foto de algum objeto cósmico – galáxias, estrelas, cometas, nebulosas, entre outros -, com a explicação de um astrônomo profissional sobre ela.
Dessa vez, um dos destaques é histórico. A NASA selecionou uma imagem que não tem relação alguma com a astronomia: uma foto em alta resolução de uma célula humana sob ataque do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a ameaça que mudou o modo de vida da nossa civilização ao redor do globo.
Outros destaques também são icônicos, como a nave Crew Dragon acompanhando o trajeto da ISS logo após o lançamento da SpaceX no último sábado (30). Também não podia faltar uma incrível nebulosa, e dessa vez as escolhidas foram a Laguna e a curiosa “Galáxia Hamburguer”. Sem mais delongas, confira estas e outras imagens espetaculares e curiosidades astronômicas
Sábado (30/05) – Luzes esverdeadas
Reprodução/Foto-RN176 Imagem: Marcella Giulia Pace
As imagens do Sol, da Lua, de Vênus e de Mercúrio mostram um efeito curioso: em todas elas, há um estranho brilho esverdeado. Por que ele aparece no topo dos objetos astronômicos?
Bem, isso acontece quando olhamos para eles aqui da Terra, por causa de um efeito chamado refração da luz. Os raios de luz viajam por um longo caminho através da atmosfera terrestre antes de chegar até seu olho, e os comprimentos de onda mais curtos refratam com mais força do que comprimentos de onda mais longos. Dentre as cores visíveis, o vermelho é a onda mais comprida, enquanto a verde é bem mais curta.
Assim, a separação das cores por conta da refração faz com que a tonalidade verde seja o último vestígio visível do disco solar durante o crepúsculo. Se você olhar para o pôr do Sol em um dia limpo, e se a faixa do horizonte estiver bem distante, brilho verde poderá ser visto exatamente quando o astro desaparecer de vista.
É mais difícil ver essa faixa verde na Lua ou nos discos de Vênus e Mercúrio, mas com um telescópio ou câmera você pode contemplar esse efeito também. Da mesma forma que ocorre com o Sol, os objetos devem estar próximos do horizonte. Nas imagens, a professora e divulgadora científica Marcella Giulia Pace footografou o efeito na Sicília: no dia 18 de março de 2019 ela fotografou o Sol e no dia 8 de maio de 2020 foi a vez da Lua. Já os planetas Vênus e Mercúrio foram registrados em 24 de maio.
Domingo (31/05) – Aurora na Suécia
Reprodução/Foto-RN176 Imagem: Göran Strand
Esta imagem incrível de uma aurora foi capturada em 2016 nos arredores de Östersund, na Suécia. O panorama de quase 180º é formado por seis áreas mescladas para criar o panorama apresentado sobre o qual a aurora se estende em formato de arco.
O Lago Storsjön é visto em primeiro plano, enquanto várias constelações e a estrela Polaris são visíveis através da aurora, bem ao fundo. Por coincidência, a aurora parece estar evitando cobrir a Lua no canto inferior esquerdo, o que torna a composição ainda mais magnífica.
A aurora fotografada por Göran Strand apareceu um dia depois que um grande buraco foi aberto na coroa solar, permitindo que partículas particularmente energéticas fluíssem pelo Sistema Solar. As partículas de vento solar carregadas de elétrons que ultrapassam a magnetosfera atingem a alta atmosfera terrestre, que está carregada de gases. Então, esses elétrons colidem com os átomos dos gases, excitado-os e criando uma energia excedente que é liberada sob a forma de luz visível.
Quando vemos a cor verde em uma aurora, como é o caso desta que vemos na foto de Strand, é porque os elétrons dos ventos solares estão excitando átomos de oxigênio em baixa altitude (até 240km). Se essa altitude fosse mais elevada, veríamos um arco vermelho.
Por fim, as constelações visíveis na imagem incluem a Ursa Maior, Gêmeos, Perseus, Cassiopeia, Draconis, Camelopardalis, Lagarto e Andrômeda, além da própria galáxia de Andrômeda. Você consegue identificá-las?
Segunda-feira (1/06) – Nebulosa Laguna
Reprodução/Foto-RN176 NASA/ESA/Hubble/Diego Gravinese
A Nebulosa Laguna é uma gigantesca nuvem localizada na constelação de Sagitário, com um centro formado por um “berçário” de estrelas espetacular. No centro da imagem, há pelo menos duas nuvens em forma de funil, cada uma com cerca de meio ano-luz de comprimento. Elas são formadas por ventos estelares e pela intensa luz das estrelas que nascem por ali.
Ainda nessa região central, a estrela Herschel 36, ilumina a área com seu brilho extremo, enquanto outras estrelas jovens são escondidas por vastas colunas de poeira. À medida que a energia dessas estrelas entra na nuvem de poeira e gás, podem ocorrer grandes diferenças de temperatura nas regiões adjacentes, gerando ventos que acabam por criar esses formatos de funil nas nuvens.
A nebulosa, localizada a cerca de 5000 anos-luz de distância, foi descoberta pelo astrônomo italiano Giovanni Battista Hodierna antes de 1654, e pode ser vista com um bom par de binóculos. Esta imagem, com cerca de 15 anos-luz de comprimento, apresenta duas cores detectadas pelo Telescópio Espacial Hubble que foram então processadas por Diego Gravinese.
Terça-feira (2/06) – A humanidade sob ataque
Reprodução/Foto-RN176 Imagem: NIAID
Esta imagem é histórica no site APOD porque não se trata de algo relacionado à astronomia, nem a registros de grandes eventos. Pelo contrário, é uma imagem microscópica – o vírus que colocou a humanidade em confinamento em todas as regiões do planeta.
Em todo o planeta Terra, o modo de vida dos seres humanos foi alterado. Medidas de distanciamento social foram tomadas e, agora, é necessário viver de um modo pouco natural, considerando o modo com que evoluímos ao longo das eras – somos seres sociais, necessitados de contato e aproximação, e agora precisamos nos adaptar ao distanciamento até que uma vacina seja criada.
O novo coronavírus (SARS-CoV2), que nos causa uma doença conhecida como COVID-19, é especializado em reprogramar as células de seres humanos baseados em DNA e transformá-las em “zumbis” que fabricam e liberam cópias de si mesmas. Na imagem em altíssima resolução, uma célula humana está coberta por inúmeros vírus (laranja).
Quarta-feira (3/06) – Conjunção entre Terra e Vênus
Toda vez que Vênus passa pela Terra, nos mostra a mesma face – e os astrônomos descobriram isso há apenas 50 anos, quando os radiotelescópios se tornaram capazes de observar por baixo das nuvens espessas do planeta vizinho e monitorar sua superfície de rotação lenta.
Essa conjunção ocorreu na última quarta-feira, por isso a NASA decidiu publicar este vídeo que mostra como essa curiosa “coincidência” (se é que podemos chamar assim, já que isso ocorre devido à influência gravitacional da Terra sobre o planeta vozinho). A animação mostra as posições do Sol, Vênus e Terra entre os anos de 2010 a 2023, com base nos dados baixados pela NASA.
No vídeo, sempre que a conjunção entre os dois planetas ocorre, um “braço” amarelo ilustrativo mostra que o mesmo ponto da superfície de Vênus estava voltado para nós. O encontro acontece a cada 1,6 anos e prova que a influência da Terra domina de modo surpreendente o efeito das marés do Sol.
Quinta-feira (4/06) – Galáxia Hambúrguer
Reprodução/Foto-RN176 Imagem: Stefano Cancelli/Paul Mortfield
A NGC 3628 é uma galáxia espiral localizada a cerca de 35 milhões de anos-luz, e nesta imagem o disco galáctico é dividido por faixas de poeira escura. Por causa deste formato curioso que a posição da galáxia em relação à Terra nos proporciona, ela é conhecida pelo apelido de Galáxia Hamburguer.
A imagem também revela uma pequena galáxia próxima, provavelmente uma galáxia satélite da NGC 3628, e uma “cauda” fraca, mas extensa. Essa cauda, que é a parte branca que escapa do disco em direção ao cosmos, se estende por cerca de 300.000 anos-luz, e vai para além dos limites do canto direito da imagem.
A Galáxia Hamburguer é vizinha de outras duas outras grandes galáxias espirais, a M65 e a M66. Provavelmente, a longa cauda é formada devido às interações gravitacionais entre este grupo. Ao todo, a NGC 3628 tem cerca de 100.000 anos-luz de diâmetro.
Sexta-feira (5/06) – Crew Dragon sobre o Central Park
A Crew Dragon, da SpaceX, foi lançada no último sábado (30) levando dois astronautas da NASA ao espaço. No domingo (31), a Dragon chegou na Estação Espacial Internacional (ISS), mas antes disso, as duas atravessaram o céu noturno de Manhattan, lado a lado.
Movendo-se da esquerda para a direita, a ISS estava visível no céu, e deixou uma trilha brilhante ao ser capturada nesta imagem, composta por uma série de fotografias feitas com exposições de 5 segundos. Cada interrupção dentro da trilha representa um intervalo de tempo entre uma fotografia e outra. As estrelas também deixaram trilhas curtas, já que as fotos em exposição prolongada também capturam o movimento aparente delas no céu.
Perseguindo a ISS, a Crew Dragon também deixou sua trilha nesse cenário urbano, mas como ela é bem menor e menos reflexiva, foi necessário ampliar a imagem para ver melhor o rastro da cápsula, apelidada de Endeavour. As imagens foram capturadas cerca de 6 horas após o lançamento da SpaceX.