ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 06/08/2020 19:01
ENCONTRO COM O MESTRE
Reprodução/Foto-RN176 Da direita para esquerda Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista e atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI
A propagação da filosofia budista da dignidade da vida por todo o mundo é a missão dos membros da Soka Gakkai Internacional (SGI). No Encontro com o Mestre desta edição, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, aborda a coragem como ponto central da luta dos membros da organização para a transformação da sociedade.
- DAISAKU IKEDA
Meus parabéns à Divisão Sênior (DS), pela realização de sua reunião de líderes [em março de 2004]! Na atual recessão que assola o Japão, suas atividades — incluindo, por exemplo, a campanha para desenvolver dez membros ativos da DS em cada distrito ou comunidade — são realmente uma fonte de força e de encorajamento. Até mesmo os membros da Divisão Feminina (DF) passaram a enxergá-los de forma diferente, reconhecendo os grandes esforços que têm realizado ultimamente!
O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, incentivava os componentes da Divisão Sênior com rigorosidade, mas também com calor humano, dizendo:
Sejam quais forem os problemas ou dificuldades que enfrentarem, eles se tornarão consequentemente um imenso benefício para sua vida. Triunfar sobre quaisquer sofrimentos que enfrentarem é um sinal do poder da fé; é uma demonstração da prova real da fé.
Manifesto meus sinceros agradecimentos aos integrantes da DS por todo o seu árduo trabalho e proclamo: “Três vivas à Divisão Sênior!”. Por favor, cuidem bem da saúde e tenham uma vida longa e vigorosa.
O escritor e ativista francês Romain Rolland (1866–1944) declarou: “Não há nada de grande em ser uma boa pessoa; o mais importante é ser uma pessoa corajosa!”1. Não basta ser somente uma pessoa tranquila e de boa natureza. É preciso ter coragem para combater a injustiça e as más ações. As pessoas verdadeiramente grandiosas e genuínas defensoras da justiça são aquelas possuidoras de coragem.
Vocês, membros da Divisão Sênior, são líderes heroicos e notáveis; são pilares dourados da Soka Gakkai.
Vamos, todos, avançar com o espírito de respeito e apoio mútuos e com sincera oração.
Distinguir entre o bem e o mal
“A verdade sempre prevalece sobre a perseguição”2 — essas são palavras do escritor francês e filósofo Voltaire, que viveu no século 18. Elas manifestam uma das regras imutáveis da história. Voltaire foi um pensador de grande influência na Revolução Francesa. Levado por uma ira justificável, também defendeu com paixão os casos de cidadãos que sofriam abusos e ofensas e eram acusados pelas autoridades por crimes que não haviam cometido. Ele lançou uma saraivada de palavras para denunciar essa injustiça. Foi um defensor do discurso que utilizava a voz e a pena para empreender uma incansável batalha pela verdade e pela justiça. Não há nada mais forte nem mais precioso que a verdade. (…)
O historiador britânico Thomas Carlyle (1795–1881), que viveu no século 19, declarou: “Ninguém tem, em hipótese alguma, a liberdade de mentir”.3 Ele está totalmente certo. Para assegurarmos a verdadeira liberdade de discurso, a dignidade humana e o progresso cultural, não devemos fazer vista grossa para as mentiras maldosas nem permiti-las. Vamos lutar. Lutar com coragem contra essas mentiras, não importa onde, não importa quanto pareçam ser mínimas.
Recordo-me do grande escritor chinês Ba Jin (1904–2005), com quem me encontrei e conversei demoradamente em Tóquio e em nosso Centro de Conferência de Shizuoka. Nunca esquecerei também da calorosa recepção que recebi quando o visitei em sua residência em Xangai.
Ba Jin foi duramente perseguido durante a Revolução Cultural, um movimento instigado pelo conluio da chamada Gangue dos Quatro. Esse escritor chinês é um invencível guerreiro que lutou com tenacidade em uma época de extremo perigo e dificuldade — sem nunca saber se continuaria vivo ou se algum dia voltaria para sua família.
Ele escreveu estas palavras:
A melhor maneira de lidar com as fraudes é expô-las, capacitar as pessoas com os meios para enxergá-las com clareza e assim aumentar a vigilância das pessoas contra elas em todas as horas e lugares.4
Em outras palavras, a única solução para cada um de nós é nos tornarmos sábios e fortes. Devemos ter a capacidade de distinguir entre o bem e o mal. Devemos proclamar a verdade com uma razão penetrante, com energia e profundidade.
O presidente Josei Toda disse: “Nunca se esqueça do espírito de combater o mal! Nunca perca esse espírito! Pois, se isso acontecer, não poderemos concretizar o kosen-rufu e acabaremos caindo na desordem e desunião!”. São as palavras importantíssimas de orientação do meu mestre.
E para realizar também uma transformação fundamental no ambiente de debilidade espiritual no Japão de hoje, vamos manter nosso compromisso de falar com convicção e de manifestar nossas opiniões com base em nossas crenças.
No capítulo “Analogia e Parábola”, do Sutra do Lótus, consta:
Não há segurança
no mundo tríplice;
é como uma casa em chamas,
repleto de sofrimentos infindáveis,
realmente temíveis,
assolado constantemente
por aflições e dores
do nascimento, do envelhecimento, da doença e da morte,
que são como chamas
alastrando-se com fúria
e sem cessar.5
São palavras que também descrevem a situação do mundo hoje.
Estou atualmente [março de 2004] realizando um diálogo, a ser publicado, com o Prof. Nur Yalman, da Universidade Harvard, famoso antropólogo cultural. Recentemente, ele fez alguns comentários a respeito de sua profunda compreensão sobre a SGI e sobre o nosso movimento.
O Prof. Yalman observou que os conceitos primordiais do budismo estão essencialmente de acordo com as pessoas, pois todas elas têm de lidar com os sofrimentos universais de nascimento, envelhecimento, doença e morte.
Ninguém pode escapar disso. Todo o poder, toda a riqueza e a fama do mundo não são suficientes para livrar a pessoa desses sofrimentos fundamentais. Sem compreender a verdadeira causa, ela fica destinada a sofrer à mercê das vicissitudes da vida, que são efêmeras e estão em constante mudança. Somente o budismo confronta essas urgentes questões da condição humana e proporciona respostas claras e profundas as quais todas as pessoas conseguem compreender e realmente pôr em prática na vida.
Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente consta:
Os quatro lados [da Torre de Tesouro] representam os quatro sofrimentos — nascimento, envelhecimento, doença e morte. Esses quatro aspectos da vida adornam a torre da vida de cada um de nós. Com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo ao longo do nascimento, do envelhecimento, da doença e da morte, a fragrância das quatro virtudes [eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza] emanarão [de nossa vida].6
Aceitando a fé e praticando o Budismo de Nichiren Daishonin, transformamos uma vida cheia dos sofrimentos de nascimento, envelhecimento, doença e morte em uma vida imbuída da alegria de eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. Nós, da SGI, conhecemos bem isso, o que nos enche de energia positiva e convicção.
Notas:
- ROLLAND, Romain. Inde: Journal (1915–1943). Paris, Editions Vineta: 1951. p. 238.
- VOLTAIRE. Convulsionaires. A Philosophical Dictionary [Dicionário Filosófico]. Londres: E. Truelove, v. I, p. 341 [s.d.].
- CARLYLE, Thomas. On Heroes, Hero-Worship, and the Heroic in History [Sobre os Heróis, o Culto aos Heróis e o Heroico na História]. NIEMEYER, Carl (ed.). Lincoln e Londres: University of Nebraska Press, 1966. p. 238.
- JIN, Ba. Zhenhuaji. Hong Kong: Sanlian Shudian, 1982.
- LSOC, cap. 3, p. 105.
- OTT, p. 90.
Fonte:
Este conteúdo é composto por trechos do discurso do presidente Ikeda proferido na 36a Reunião de Líderes de Regional, realizada em conjunto com a Reunião de Líderes da Divisão Sênior e com a 6a Reunião de Líderes da Divisão dos Jovens, no Auditório Memorial Makiguchi em Hachioji, Tóquio, no dia 4 de março de 2004. Essa atividade integrou o Curso de Aprimoramento de Primavera da SGI daquele ano. Esse discurso foi originalmente publicado no Brasil Seikyo, ed. 1.742, 3 abr. 2004.