Convicção, esperança e coragem

ROTANEWS176 16/12/2023 08:20                                                                                                                                  CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA                                                                                                                Por Ho Goku

 

Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida

PARTE 67

Para outubro desse ano estava prevista a visita de Shin’ichi Yamamoto ao Canadá durante a sua viagem de orientações para a América do Norte. Porém, logo antes da partida do aeroporto de Chicago, houve problemas técnicos e ele foi obrigado a suspender a viagem para o Canadá. Ao pensar nos companheiros que o aguardavam, sentiu uma dor no seu coração. Nessa ocasião, Shin’ichi enviou um poema waka à presidente do conselho orientador, Teruko Izumiya:


Impossível esquecer,

você se levantou nas terras

do Canadá.

Finalmente chegou o

amanhecer do kosen-rufu.

Além disso, convidou representantes do Canadá para o seu próximo destino em Los Angeles, e criou momentos para dialogar. Nesse grupo, encontrava-se junto com Teruko Izumiya o seu esposo, Hiroshi Izumiya. Era um cavalheiro educado de aparência gentil. Dizia ter a mesma idade de Shin’ichi.

Com um forte aperto de mãos, Shin’ichi o felicitou do fundo do coração pela decisão de iniciar a prática budista, e tirou uma foto junto com ele. Nos olhos de Teruko, que observava a fisionomia do marido, brilhavam as lágrimas.

Passados oito meses a partir de então, realizou-se a visita de Shin’ichi ao Canadá. E, desta vez, o casal Izumiya recebeu a comitiva no aeroporto de Toronto. Durante a sua estada em Toronto, Shin’ichi se empenhou para se movimentar junto com Hiroshi Izumiya. Seu desejo era que ele, que ocupava a função de diretor-geral do ponto de vista administrativo da entidade oficial do Canadá, aprendesse com sua vida o espírito de proteger os membros.

E para Teruko, presidente do conselho orientador, que veio abrindo o caminho do kosen-rufu como líder central da organização, Shin’ichi disse:

— Se não fosse o apoio do seu esposo, creio que não teríamos chegado até aqui. Foi graças a ele que a organização do Canadá se desenvolveu de forma tão grandiosa.

Quando as pessoas alcançam sucesso em algo, tendem a pensar que foi graças à sua capacidade. Mas, por trás de algum sucesso, sempre existem esforços de muitas pessoas. Quando o indivíduo não se esquece desse ponto e consegue viver com humildade e sentimento de gratidão a todos é que se pode tornar um líder de contínuas vitórias.

Em 22 de junho, segundo dia de visita ao Canadá, foi realizada a convenção comemorativa dos vinte anos do kosen-rufu do país, reunindo cerca de mil membros participantes em um grande salão de hotel na cidade de Toronto. Foi um encontro que marcou uma nova partida, repleta de esperanças, rumo ao novo século.

PARTE 68

Nessa reunião, Shin’ichi manifestou a alegria de estar no Canadá depois de 21 anos, relatando algumas lembranças de sua primeira visita. Ele citou a importância de uma única pessoa se levantar.

— “Zero” multiplicado por qualquer número, mesmo que enorme, é sempre “zero”. Mas se o fator multiplicador for “um”, inicia-se a partir daí um desenvolvimento ilimitado. A história do kosen-rufu do Canadá começou com o levantar resoluto da Sra. Izumiya, presidente do conselho orientador, e se desenvolveu de forma extraordinária, chegando hoje a reunir cerca de mil membros. Tudo se inicia a partir de uma única pessoa. Quando esse único indivíduo ensina e transmite o princípio da felicidade denominado “Lei Mística” para as pessoas, criando-as como leões que superam a si próprios, constrói uma fileira de “valores humanos”. Esse é o significado de “emergir da terra”.1 Tornar real cada passagem dos escritos de Nichiren Daishonin, como essa, é missão da nossa Soka Gakkai. E assim se pode ler o Gosho com a própria vida.

Em seguida, Shin’ichi citou os encontros e diálogos realizados com autoridades governamentais e intelectuais da União Soviética e de cada país que visitou durante essa viagem.

— Nesses encontros, continuei bradando que o mais importante para a humanidade é a paz. O budismo, que prega a igualdade de todas as pessoas como possuidoras do estado de buda, é o princípio filosófico que sustenta o respeito à dignidade da vida e é a base fundamental da ideologia da paz. Ao mesmo tempo, aí pulsa o espírito de tolerância e de compaixão com outras pessoas. Fundamentalmente, não há como essa ideologia deixar de confrontar os poderes que louvam a guerra, subordinam o povo e conduzem as pessoas à morte. Por essa razão, na época da Segunda Guerra Mundial, a Soka Gakkai sofreu opressão do governo militarista que promovia a guerra tendo como sustentação espiritual o xintoísmo do Estado. Não sou político nem diplomata, nem uma pessoa do mundo da economia. Entretanto, como cidadão comum e ser humano, continuo promovendo diálogos visando à concretização da paz tendo como base o budismo. Tenho a convicção de que o caminho certeiro para a paz se encontra no fortalecimento dos laços de solidariedade da amizade que ultrapassam as fronteiras entre nações, compartilhando o espírito do budismo que prega que os seres humanos são todos iguais e de incomparável dignidade com as pessoas dos mais variados países.

PARTE 69

Quando as raízes são profundas e firmes, os ramos e as folhas se desenvolvem. O mesmo acontece com o movimento pela paz. Há muitas pessoas que desejam a paz e bradam por ela. Porém, um movimento sem uma filosofia que sirva como raiz é efêmero. O movimento pela paz da nossa Soka Gakkai possui como raiz uma grandiosa filosofia chamada budismo que elucida o respeito à vida.

Do ponto de vista dos princípios do budismo, que considera cada ser humano como “Buda”, não é possível de forma nenhuma tirar das pessoas o direito à vida. Aos olhos do budismo, que prega a igualdade de todas as pessoas e sua incomparável dignidade, ultrapassando as fronteiras de ideologia, de etnia, de nação e de religião, não há discriminação nem desprezo por outros. E ainda, para o budismo, que ensina a compaixão, não há qualquer forma de exclusão de pessoas de quaisquer categorias.

Shin’ichi estava fortemente convencido de que o ato de continuar plantando esse princípio de respeito à dignidade da vida, isto é, a semente da paz chamada “Lei Mística” no coração das pessoas, nada mais era que a ação prática do kosen-rufu. Essa era a própria base da paz mundial.

Na sequência, ele disse que o objetivo da vida era a felicidade no verdadeiro sentido. Para tanto, era imprescindível solucionar a questão da “morte”. O Budismo de Nichiren Daishonin resolveu fundamentalmente essa grande questão e elucidou de forma clara os princípios de eternidade da vida e de causa e efeito. Ao se levantar embasado nesse budismo, pode-se estabelecer uma inabalável concepção de vida, fazendo surgir a capacidade e a sabedoria para superar as dificuldades e adversidades, e criar a condição de felicidade absoluta.

Ao fazer desse dia uma nova partida rumo aos próximos vinte anos, Shin’ichi concluiu sua fala desejando que todos levassem uma vida plena de satisfação como uma bela e límpida família Soka.

No final da convenção foi cantada a música favorita deles. Vinte componentes da Kotekitai subiram ao palco e iniciaram a apresentação. Os membros tinham vindo de Vancouver, de Calgary e de Montreal para participar do evento. A apresentação da Kotekitai com a participação de membros de todo o Canadá acontecia pela primeira vez. A líder desse grupo era Karen, a filha mais velha do casal Izumiya. Uma nova geração estava se criando.

Todos os membros da plateia se levantaram e se entrelaçaram ombro a ombro. Uma grande onda formada pelas pessoas balançava de um lado para o outro. As vozes que cantavam a música expandiam alegremente como o som das marés.

PARTE 70

No dia 23, pouco mais de mil membros se reuniram na cidade de Caledon, nas cercanias de Toronto, onde foi realizado radiantemente o intercâmbio cultural da amizade com o grupo vindo do Japão.

O local ficava em uma colina envolta por árvores, e no inverno diz ser utilizado como pista de esqui. O verde dessa pista, sob o brilho dos raios solares, era deslumbrante.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida

O intercâmbio foi promovido na forma de uma festa ao ar livre, e as pessoas participavam enquanto almoçavam.

Enfim, descortinava o minifestival cultural com a atuação do coral dos meninos e das meninas do Canadá. O grupo de intercâmbio do Japão entoou as canções japonesas Atsutamura [Vila de Atsuta] e Konomichi-no-uta [A Canção dessa Estrada], uma música da região de Chubu. Foram apresentadas também danças ao ritmo de músicas como uma variante de Sakura [Cerejeira] e Takedabushi [Canção de Takeda]. Enquanto isso, os companheiros do Canadá apresentaram uma dança folclórica de Quebec, como também a canção Morigasaki Kaigan [Praia de Morigasaki], entoada por membros que eram músicos. As integrantes da Divisão Feminina cantaram a canção Kofu-ni-hashire [Corra pelo Kosen-rufu] em coro. Seguiram-se apresentações repletas de paixão e de emoção.

Ao se levantar para os cumprimentos, Shin’ichi Yamamoto manifestou sua gratidão, dizendo:

— Maravilhosos corais, apresentações de elevado teor artístico, o bailar sincero das danças e outras fizeram-me viver um momento de sonhos.

Então, ele apresentou uma proposta de construir o Centro Cultural do Canadá e expressou sua expectativa de que aqueles mil membros se tornassem o sol e, contribuindo para o bem da comunidade local, abrissem um vasto futuro do kosen-rufu do Canadá.

Naquele dia, tanto antes como depois do minifestival cultural, ele conversou com muitos membros e os encorajou. Agradeceu também ao administrador da pista de esqui que havia oferecido o local para a realização da atividade.

O ato de manter diálogo amplia a relação com o budismo.

A madrasta desse administrador era membro da organização. Ela era integrante da Divisão Feminina a quem Shin’ichi havia incentivado por ocasião de sua visita a Teerã, Irã, em 1964.

Naquela ocasião, Shin’ichi e comitiva procuraram por uma senhora, membro da Soka Gakkai, chamada Miki Ota, administradora de um restaurante chinês. Porém, de acordo com a proprietária do estabelecimento, ela já havia deixado o trabalho por ter encerrado o contrato e naquele momento estava viajando. Foi quando uma funcionária iraniana, ao ver Shin’ichi, se espantou e trouxe um álbum de fotos dos fundos do restaurante. Era a revista Seikyo Graphic. Ela abriu algumas páginas e encontrou uma foto de Shin’ichi. Então, com sorriso no rosto, apontou para a foto, e admirada, disse: Mister Yamamoto!.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Nota:

  1. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 404, 2020.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO