Daimoku de juramento

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  02/10/2021 09:23

REDE DA FELICIDADE

O Dia da BSGI é celebrado em 19 de outubro, data em que desembarcou no Brasil a comitiva liderada pelo presidente da Soka Gakkai, Shin’ichi Yamamoto [pseudônimo do Dr. Daisaku Ikeda na obra Nova Revolução Humana]. No dia seguinte, foi realizada a fundação do Distrito Brasil, o primeiro fora do Japão. Ikeda sensei incentiva os membros participantes, que haviam imigrado para o país e se tornaram os pioneiros da organização, entre eles um homem que enfrentava os desafios de trabalhar como agricultor

  1. DAISAKU IKEDA

No dia seguinte, 20 de outubro, foi realizada uma reunião de palestra. O local escolhido foi um salão no segundo andar do restaurante Chá Flora, localizado num bairro oriental de São Paulo, utilizado frequentemente para eventos da colônia japonesa.

Reprodução/Foto-RN176 Desenhos ilustrativo de pessoas em um auditório ou salão em reunião – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Embora o início da reunião estivesse marcado para as 13 horas, os membros começaram a chegar de várias localidades muito antes do meio-dia. O semblante de todos estava radiante de alegria. Entre os participantes havia uma pessoa que viera de uma localidade distante 1.500 quilômetros, que teve de viajar de trem e de ônibus por três dias e três noites até chegar a São Paulo.

Trinta minutos antes do início, as dezenas de cadeiras perfiladas para a ocasião já estavam tomadas e as pessoas que chegavam depois tinham de ficar de pé no fundo do salão. Quando Shin’ichi Yamamoto e os demais líderes da comitiva entraram no recinto, irrompeu uma salva de palmas.

A maioria dos presentes vinha mantendo tenazmente a chama da fé acesa, numa luta solitária nas regiões distantes da cidade, sem ninguém para pedir apoio. (…)

Shin’ichi dirigiu-se até a frente do salão, cumprimentou os presentes curvando-se levemente e sentou-se à mesa longa e estreita que havia sido montada.

— Muito obrigado por terem comparecido. Vamos iniciar a reunião?

Shin’ichi procurou dedicar mais tempo que das vezes anteriores às perguntas e respostas dos membros. Ele sabia das grandes dificuldades que os imigrantes enfrentavam. Por isso, desejava incentivar principalmente aqueles que não tinham a quem recorrer ou com quem compartilhar seus sofrimentos.

— Por favor, perguntem o que quiserem. Estou aqui justamente para isso — disse o presidente Yamamoto procurando deixar todos à vontade.

De imediato, quatro ou cinco pessoas levantaram a mão. Elas estavam aguardando ansiosamente por aquela oportunidade. A maioria das perguntas era sobre questões relacionadas à própria sobrevivência. Um homem, aparentando ter pouco mais de 40 anos de idade, começou a falar:

— Profissão: agricultor! — disse o homem bastante nervoso e com um tom semelhante ao de um soldado apresentando sua patente.

— Por favor, fique à vontade — pediu Shin’ichi. — Não estamos no exército. Somos todos amigos, somos uma família. Sinta-se como se estivesse em sua própria casa.

Todos riram. Um sorriso também iluminou o rosto queimado de sol do agricultor. Ele explicou que havia pouco tempo iniciara o cultivo de hortaliças, mas que a colheita fora um fracasso total. Como resultado, encontrava-se naquele momento atolado em dívidas. O agricultor queria saber, portanto, o que fazer para superar a situação.

Após ouvir atentamente a explicação do homem, Shin’ichi Yamamoto perguntou-lhe:

— Qual foi o motivo do fracasso na colheita?

— Acho que o clima influenciou um pouco — respondeu hesitante o agricultor.

Shin’ichi procurou instigar o homem perguntando:

— O senhor saberia dizer se alguém obteve êxito no plantio e na colheita dessas mesmas espécies de hortaliças?

— Sim — foi a resposta –, mas a maioria fracassou.

— Será que houve algum problema com a adubação? — indagou uma vez mais Shin’ichi. Porém, a resposta do agricultor foi:

— Não sei…

— E quanto aos cuidados com o cultivo, será que foram adequados?

Ante essa pergunta o homem ficou em silêncio.

— O solo é adequado para o cultivo desse tipo de hortaliça? — inquiriu o presidente Yamamoto.

— Não tenho certeza…

O homem não soube responder satisfatoriamente a nenhuma das perguntas feitas por Shin’ichi. Como os demais agricultores, ele trabalhava duro dando o melhor de si. Mas ao pensar que isso bastava, acabou se descuidando do resto.

Então, Shin’ichi começou a falar com mais firmeza:

— Antes de tudo, para não repetir o erro, deve avaliar o que causou o insucesso na colheita. O senhor pode consultar os agricultores que tiveram êxito na colheita e anotar o que eles têm para dizer. Procure também tomar as devidas providências para evitar outros fracassos. As pessoas que levam realmente a sério o que fazem, constantemente estudam e empregam a criatividade para resolver os problemas. Se negligenciar tudo isso, não obterá sucesso. É um grande erro pensar que terá uma colheita farta só porque está se empenhando na prática da fé. O budismo é um ensinamento da mais suprema razão. Portanto, a força de sua fé deve se manifestar no estudo, no planejamento, na criatividade e nos esforços redobrados. A recitação do daimoku com toda a seriedade é a fonte da energia para enfrentar esses desafios. O daimoku do senhor também deve ser um juramento.

— Juramento? — perguntou o homem. Ninguém nunca ouvira falar de tal conceito.

— Sim, um daimoku de juramento — respondeu Shin’ichi. — Significa fazer um juramento espontâneo e orar para cumpri-lo.

Shin’ichi Yamamoto prosseguiu dizendo com mais ênfase:

— Em se tratando de oração, existem naturalmente várias formas de orar. Alguns oram para que tudo caia do céu, sem que tenham de se esforçar. A religião que incentiva esse tipo de oração conduz as pessoas à ruína. No Budismo de Nichiren Daishonin a oração é originalmente um juramento e sua essência é o kosen-rufu. Em outras palavras, essa oração significa recitar daimoku com a seguinte determinação: “Eu vou realizar o kosen-rufu do Brasil. Para isso, vou mostrar uma prova irrefutável em meu local de trabalho evidenciando as minhas melhores habilidades”. É assim que nossas orações devem ser. Com essa disposição, precisamos estabelecer objetivos claros do que desejamos realizar a cada dia, e orar e nos desafiar para concretizá-los. É dessa séria determinação que surgem a sabedoria e a criatividade que levam ao sucesso. Em síntese, para vencer na vida precisamos de decisão e oração, esforço e planejamento. É um erro ficar à espera de um lance de sorte ou de uma oportunidade de enriquecer fácil e rapidamente. Isso não é fé; é mera fantasia. O trabalho é o esteio de nossa vida. Se não vencermos em nosso trabalho, não conseguiremos comprovar o princípio de que o “budismo é a própria vida diária”. Por favor, livre-se da postura acomodada e empenhe-se no trabalho com renovada decisão.

— Sim. Farei o melhor! — disse o homem. Seus olhos brilhavam com uma nova determinação.

Shin’ichi sabia perfeitamente das dificuldades que todos aqueles imigrantes estavam enfrentando. Para serem bem-sucedidos naquelas circunstâncias, teriam de combater o próprio conformismo. O inimigo estava dentro deles.

Quanto maior a adversidade, mais forte deve ser a determinação de que agora é o momento para se conquistar a vitória e continuar desafiando a si mesmo. É exatamente nessa hora que o poder benéfico do Gohonzon se manifesta. Por essa razão, as adversidades são uma oportunidade para comprovar a força do budismo.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Fonte:

IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 234-238, 2018.

Transformar carma em missão

Entre as pessoas que fizeram perguntas ao presidente Ikeda durante a reunião de fundação do Distrito Brasil, estava uma senhora imigrante japonesa cujo marido havia adoecido e falecido. Quando já pensava em suicídio devido à difícil situação, a mulher ouviu sobre o Budismo de Nichiren Daishonin de um membro da Soka Gakkai que morava perto dela. Ikeda sensei incentivou-a e a todos de forma rigorosa, mas também calorosa. Veja a seguir trechos destes incentivos:

Não se aflija. Contanto que continue praticando o budismo, a senhora será feliz, sem falta. Esse é o propósito do budismo. A senhora está passando agora por todos esses sofrimentos e infortúnios justamente para cumprir uma nobre missão, que é só sua. Se ficar apenas se martirizando com o carma, tudo em sua vida acabará em derrota e infelicidade. (…)

O budismo elucida um princípio chamado ganken ogo [carma adotado por desejo próprio]. Segundo esse princípio, os praticantes do budismo escolhem, por vontade própria, nascer em circunstâncias desfavoráveis para que possam ajudar os outros. Isso significa que, embora tenhamos acumulado benefícios por meio da prática budista para renascer em circunstâncias favoráveis, escolhemos propositadamente renascer em meio aos que sofrem para propagar a Lei Mística. (…)

Por exemplo, se alguém que sempre viveu como uma rainha, sem grandes dificuldades ou problemas, dissesse que se tornou feliz graças à prática do budismo, ninguém lhe daria ouvidos. Contudo, se uma pessoa doente, de família pobre, menosprezada pelos outros, consegue transformar a vida por meio da prática budista, tornando-se feliz e ainda uma líder na sociedade, isso será uma esplêndida prova da grandiosidade do budismo. (…)

Como vê, quanto maior e mais profundo o sofrimento, mais magnífica será a prova dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que carma é outro nome para missão. Eu sou filho de um pobre beneficiador de algas marinhas. Trabalhei ao lado do Sr. Toda durante as amargas provações resultantes da falência da empresa, apesar de estar com a saúde frágil devido à tuberculose. Por ter experimentado dificuldades e sofrimentos como todo mundo, pude assumir a liderança do movimento do kosen-rufu como representante das pessoas comuns. (…)

Talvez os senhores estejam pensando que vieram para o Brasil por causa das circunstâncias de cada um. No entanto, a razão não é bem essa. Os senhores nasceram como bodisatvas da terra para realizar o kosen-rufu do Brasil, para conduzir as pessoas deste país à felicidade e para construir aqui a terra da eterna paz e tranquilidade. Ou melhor, os senhores foram escolhidos por Nichiren Daishonin para estarem aqui. Quando se conscientizarem de sua sublime missão como bodisatvas da terra e dedicarem a vida ao kosen-rufu, o sol que existe dentro dos senhores desde o tempo sem início começará a brilhar. Todas as ofensas que cometeram em vidas passadas serão dissipadas como a bruma e os senhores iniciarão uma vida maravilhosa permeada pela profunda alegria e felicidade. (…)

O Brasil tornou-se agora, fora do Japão, o país pioneiro do movimento pelo kosen-rufu mundial. Aqui existe um potencial ilimitado. Como pioneiros da paz e da felicidade, solicito aos senhores que abram o caminho do kosen-rufu do Brasil em meu lugar. Por favor, façam o melhor que puderem. Conto com os senhores!

Fonte:

IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 239-242, 2018.

Leia também:

Especial sobre a fundação da BSGI nesta edição do Brasil Seikyo.

Relato da família Nascimento no Brasil Seikyo, ed. 2.536, de 17 out. 2020, p. 10 e 11.