ROTANEWS176 21/03/2016 00h00 Por JC
Em 2003, estas mulheres uniram-se para exigir a libertação de 75 presos políticos – e seus maridos. Hoje, são o movimento de oposição ao regime castrista mais consistente e contam com o apoio dos dissidentes
Reprodução/Foto-RN176 As Damas de Branco faz protesto para soltar os preso politico e é repreendida pela policial
À mesma hora que Obama, a mulher, as filhas e a sogra partiam dos EUA, em Havana, a polícia prendia dezenas de militantes e simpatizantes das Damas de Branco durante mais um dos habituais protestos de domingo. “A viagem de Obama a Cuba não é por diversão. Não às violações dos direitos humanos” ou “Obama, nós temos um sonho: ver Cuba sem os Castros” diziam os cartazes que empunhavam.
Entre os cerca de 60 detidos estavam a actual líder do movimento, Berta Soler, o seu marido e antigo preso político, Ángel Moya, o activista Antonio González Rodiles, o músico Gorki Águila e o artista de graffiti Danilo Maldonado “El Sexto”, que foram libertados horas depois. Segundo Soler, nas últimas 46 semanas as marchas de domingo das Damas de Branco terminam sempre com detenções.
Mas, afinal, quem são estas mulheres e mães que tanto provocam e irritam o regime cubano?
Há 13 anos que as Damas de Branco se tornaram no movimento mais emblemático de oposição ao regime de Cuba – quando surgiram, reuniam as familiares de 75 pessoas que, em Março de 2003, foram detidas e condenadas a penas de prisão até 28 anos por “atentarem contra o Estado e os princípios da Revolução”. Foi um dos momentos mais complicados da chamada Primavera Negra de Cuba que só terminou em 2011, quando as autoridades cubanas libertaram os dois últimos prisioneiros políticos do “Grupo dos 75”.
Sem saberem o que fazer, as mulheres dos detidos, lideradas por Laura Pollán, começaram a reunir-se aos domingos numa igreja para protestar contra as detenções – iam vestidas de branco e levavam cartazes com os retratos dos detidos. “Também fazíamos encontros mensais para lermos as cartas que os nossos familiares nos mandavam da prisão, contou ao Alô.com Gisela Sánchez Verdecia, que em Julho de 20110 se exilou em Espanha com o marido, António Díaz, ex-preso de consciência.
Pollán, nascida a 13 de Fevereiro de 1948, foi professora até se dedicar ao activismo político quando o marido, Héctor Maseda, foi preso e condenado. Liderou as Damas de Branco até morrer em Outubro de 2011. A filha, Laura, deixou o grupo em 2014.
Dissidentes nas manifestações
Esta segunda-feira, o Presidente cubano, Raul Castro, recusou a existência de presos políticos em Cuba – uma posição que o regime comunista defende aguerridamente há muitos anos. “Se há esses presos políticos, antes que chegue a noite eles vão ser soltos”, disse, num tom exaltado. Mas as Damas de Branco têm uma opinião diferente: em 2013, Soler dizia que o grupo lutava pela “libertação de 50 condenados por crimes políticos”. E é por isso que continuam a sua luta, à qual se começaram a juntar os dissidentes libertados. Em Cuba, advoga-se que esses presos não deviam ser considerados “detidos de consciência” porque incluíam terroristas, sequestradores e antigos militares ou agentes de serviços estrangeiros condenados por espionagem.
A liderança de Soler é contestada por apoiantes do regime, que garantem que a acção das Damas de Branco é “patrocinada” pelos EUA. Porém, ao longo do seu percurso, o movimento foi conquistando apoios e reconhecimentos. Em 2005, o grupo recebeu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento atribuído pelo Parlamento Europeu a quem se distingue na área dos Direitos Humanos. O governo cubano reagiu e não permitiu que as Damas de Branco saíssem do país para receberem a distinção. No ano seguinte, foi-lhes atribuído o prémio da Human Rights First, organização não-governamental com sede em Nova Iorque – e mais uma vez não lhes foi dada autorização para saírem do país.
Em Março de 2010, Andy Garcia, Gloria Estefan e Luis Posada Carriles participaram em manifestações de apoio ao movimento que se realizaram em cidades como Los Angeles, Nova Iorque, Miami e Madrid. Recentemente, as mulheres anti-Castro fizeram parte de um documentário da Human Rights sobre a luta que lideram em Cuba.
Apesar dos apoios internacionais, uma das maiores críticas veio da Argentina. Hebe Pastor de Bonafini é uma das fundadoras do movimento Mães da Praça de Maio, composto por mulheres que se reúnem neste local emblemático de Buenos Aires em busca de notícias dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar. Muitas pessoas fizeram comparações entre os dois movimentos. Bonafini rejeitou-as a todas: “as chamadas Damas de Branco defendem o terrorismo dos EUA. Nós, as Mães da Praça de Maio”, simbolizamos o amor aos nossos filhos assassinados por tiranos impostos pelos EUA.