Defesa não consegue verba para compra de jatos A330 anunciados por Bolsonaro

ROTANEWS176 E POR AIRWAY 06/03/2021 04:01                                                                                                                   Por Thiago Vinholes

Para não aumentar despesas, Ministério da Economia veta liberação de crédito para a Defesa adquirir duas aeronaves de transporte, segundo reportagem do jornal O Globo

Reprodução/Foto-RN176 O jato Airbus A330

A compra de dois jatos Airbus A330 para a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro durante uma live no fim de janeiro não deve acontecer tão cedo.

Segundo reportagem do jornal O Globo, o Ministério da Economia negou um pedido da Defesa para a abertura de um crédito extraordinário de R$ 500 milhões para a aquisição das aeronaves para a FAB.

O texto do O Globo, que teve acesso a uma nota técnica do Ministério da Defesa, não menciona qual é o modelo específico da aeronave, mas cita alguns dos requisitos. Os aviões devem ser capazes de carregar entre 240 e 600 cilindros de oxigênio, 6 leitos de UTI, 16 macas e 117 assentos para equipe médica e passageiros ou 130 macas e 96 assentos. Tais características que se encaixam no perfil do A330.

Na época em que Bolsonaro anunciou a futura compra de dois A330, o sistema de saúde de Manaus (AM) entrava em colapso com o avanço de novos casos e mortes por Covid-19. O presidente ainda mencionou na live transmitida na internet que as aeronaves seriam adquiridas com recursos recuperados de casos de corrupção.

“Numa dessas traquinagens do passado estão vindo 500 milhões para nós. E estamos buscando uma maneira de atender a Força Aérea, são dois aviões de carga…A230? São dois aviões de carga que nós não temos. Olha a dificuldade que nós tivemos para levar oxigênio para Manaus”, afirmou o presidente durante a live (vídeo abaixo).

A situação de calamidade exigiu uma movimentação sem precedentes dos meios de transporte da FAB para Manaus com insumos e principalmente cilindros de oxigênio. O momento trágico na capital amazonense também evidenciou a necessidade da Força Aérea por aeronaves de maior capacidade, o que motivou o pedido de crédito da Defesa, de acordo com o jornal.

Ao justificar a urgência pelas aeronaves, a nota técnica da Defesa obtida pelo O Globo menciona pontos temerários, prevendo a possibilidade de “terceiras e quartas” ondas de infecções por Covid-19, reinfecções e a disseminação de variantes do coronavírus. O texto do Ministério também indica a necessidade de meios aéreos de longo alcance para apoiar o transporte de vacinas e insumos importados da China e Índia.

Cargueiros da FAB

Atualmente, a FAB tem utilizado seus aviões de transporte KC-390, C-130, C-105, entre outros, para levar suprimentos para os estados, mas a capacidade e alcance limitados acaba se tornando uma dificuldade logística durante a crise da pandemia.

Reprodução/Foto-RN176 Os KC-390 da FAB comportam até 26 toneladas; um A330 cargueiro leva 64 ton (Embraer)

Desde 2018, a FAB não possui um jato de grande porte para transporte, quando o contrato de leasing de um Boeing 767-300 foi concluído. A Força tenta desde 2013 adquirir substitutos para os quatro KC-137 desativados naquele ano, mas a concorrência KC-X2, vencida pela empresa israelense IAI para conversão de dois 767 acabou não sendo levada à frente.

Anos atrás, a Força Aérea tentou adquirir outro Boeing 767, mas a licitação foi alterada para um contrato de leasing. O edital acabou barrado por conta dos custos de aluguel serem praticamente equivalente ao de uma compra do mesmo avião.

Reprodução/Foto-RN176 O C-767 foi o maior avião que voou a serviço da FAB (FAB)

A citação do modelo A330 feita por Bolsonaro parece sugerir a versão militar da aeronave da Airbus, chamada de MRTT (Multi Role Tanker Transport), porém, trata-se de um jato muito caro, com preço unitário que pode chegar a US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão).

Mesmo a compra de A330 usados depende da demanda e oferta. No ano passado, o governo francês adquiriu três jatos usados por 200 milhões de euros (cerca de R$ 1,3 bilhão) para serem convertidos para o padrão MRTT.