Democracia: um modo de viver

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 24/03/2023 09:18                                                                        ESPECIAL DO JBS  

Reflexões sobre cidadania (parte 7)

Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI.

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho ilustrativo da matéria – Ilustração: GETTY IMAGES

Nestes últimos anos, muito se tem falado sobre o termo “democracia”, mas você sabe o que isso significa? Qual a sua história? E por que é importante sabermos sobre isso?

No início dos tempos, os seres humanos viviam em pequenos grupos e sua subsistência se baseava na caça e na coleta. Eles migravam constantemente à procu­ra de alimentos, estabelecendo assim um modo de vida nômade.

Ao lidarem com a coleta, as mulheres observavam que algumas sementes caídas ao chão davam origem a novos frutos e essa descoberta possibilitava o surgimento da agricultura. A partir desse momento, os seres humanos deixaram de ser nômades e se tornaram sedentários; eles se fixavam em um lugar porque poderiam criar, dali em diante, formas de garantir seu sustento.

Aqueles pequenos grupos que antes circulavam à procura de comida, agora começaram a se juntar em torno de lugares onde a natureza propiciasse condições para um bom plantio.

A primeira questão para pensarmos é que, tanto em grupos pequenos quanto em grandes grupos, é essencial que exista um sistema de governo com um conjunto de regras e princípios para organizar a sociedade e garantir segurança e bem-estar para todos.

Ao longo do tempo, vários foram os tipos de regimes de governo, mas, segundo o filósofo grego Aristóteles, apenas três são legítimos: a monarquia, a aristocracia e a democracia.

No Brasil e em boa parte do mundo, o tipo de governo vigente nos dias de hoje é a democracia, que tem sua origem na Grécia antiga. A palavra grega demokratia representa a junção dos termos demo, que significa “povo”, e kratos, que corresponde ao “poder”.

De forma bem simples, democracia é uma organização social, ou um regime, em que o poder é exercido pelo povo.

E o que isso tem a ver com o Budismo Nichiren e a Soka Gakkai?

Nichiren Daishonin viveu no Japão feudal do século 13, em que o direito a segurança, alimentação e liberdade de expressão era garantido apenas a uma pequena parcela da população, à qual tanto ele como também as mulheres e as outras pessoas pobres não pertenciam.

Além disso, em vários momentos, Daishonin foi perseguido, exilado e ameaçado de morte por defender uma crença religiosa que não era a mesma praticada pelos governantes do Japão.

A Soka Gakkai e seus membros, mesmo depois de sete séculos, também foram alvos do militarismo japonês que, durante a Segunda Guerra Mundial, se aliou a países que perseguiram diversos grupos minoritários, chegando a ponto de corroborar com o extermínio daqueles vistos como inferiores.

Para o país garantir a vitória na guerra, o povo japonês foi obrigado a aceitar a crença no talismã xintoísta. Por se recusarem a fazer isso, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, primeiro e segundo presidentes da organização, foram presos. Makiguchi morreu na prisão e Josei Toda, embora tenha reconstruído a Soka Gakkai, faleceu em decorrência dos maus-tratos sofridos no cárcere quase treze anos após ser libertado.

Nichiren Daishonin revelou o Nam-myoho-renge-kyo para as pessoas manifestarem a iluminação e, por meio dela, conquistarem a felicidade. Ele dizia que recitar este ensinamento e ser feliz eram um direito de todos e não havia diferença entre clérigos e leigos, homens e mulheres.

Compreendendo a realidade da época, os três primeiros presidentes da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda, centraram seus esforços para que todos os membros compreendessem que não há paz ou felicidade isolada da sociedade e que, portanto, se deve pôr em prática os princípios de respeito ao outro como exposto por Daishonin.

Para tanto, Ikeda sensei afirma:

A democracia começa do diálo­go e não é mera forma de governo, mas um modo de viver repleto de um discurso livre e rico. O diálogo forma a raiz da democracia. O autoritarismo, a coação e a presunção não possuem lugar na democracia. Aqui também podemos observar a perspicácia da Soka Gakkai por haver feito do diálogo e das reuniões de palestra a base de suas atividades.2

Até aqui, muitas informações foram compartilhadas e ainda falta entrarmos nos diversos tipos de democracia, o que será feito na próxima edição. Antes, porém, é fundamental compreendermos a importância de viver em um país que garante a igualdade civil perante a lei e que fatores como a religião, a cor da pele, a origem, a identidade de gênero e a orientação afetivo-sexual não interfiram na garantia desses direitos.

O presidente Ikeda declara:

Todas as pessoas são igualmente dignas de respeito. Aquelas há muito tempo oprimidas assumem seu espaço legítimo como protagonistas da história — essa importante transmissão do poder tem sido o desejo de muitos filósofos do mundo. Concretizar esse objetivo é a verdadeira democracia.3

Diante desse contexto, pergunta-se: “Você se reconhece como detentor do direito de ser feliz e de viver dignamente?”; “Você reconhece esses mesmos direitos fundamentais nas outras pessoas?”; “Qual a importância de exercermos livremente a liberdade religiosa em um ambiente democrático?”.

Como membros da BSGI, vamos fazer uma profunda reflexão sobre esses pontos e pôr em prática o humanismo Soka em nossa própria vida diária.

Notas:

  1. Comissão de Estudos sobre Consciên­cia Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo.
  2. IKEDA, Daisaku. A Grande Correnteza para a Paz. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 3, p. 224-225, 1990.
  3. Brasil Seikyo, ed. 1.660, 20 jul. 2002, p. A3.

Ilustração: GETTY IMAGES