ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 23/06/2023 15:45 CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA Por Ho Goku
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
PARTE 21
Às 15h20 do dia 25 de maio, pelo horário da Bulgária, a comitiva de Shin’ichi que partiu do aeroporto internacional de Sófia continuou a viagem rumo a Viena, capital da Áustria.
Dentro da aeronave, Shin’ichi refletiu: “As mudas da amizade e do intercâmbio cultural plantadas nessa visita à Bulgária haverão de criar profundas raízes no grande solo e de desenvolver troncos que no século 21 expandirão, com certeza, seus enormes ramos pelos céus. De acordo com os sagrados escritos, chegará, infalivelmente, a época em que nesse país, também, bodisatvas da terra surgirão em sucessão. A época se transforma. O amanhecer do kosen-rufu da Bulgária chegará sem falta!”.
Três anos depois dessa primeira visita de Shin’ichi à Bulgária, em 1984, foi firmado o acordo de intercâmbio educacional entre a Universidade Soka e a Universidade de Sófia. A partir de então, começaram intensas atividades de intercâmbio, com a ida de estudantes da Universidade Soka à Universidade de Sófia, e a vinda de professores e alunos da Universidade de Sófia. Além disso, na primavera de 1992, a exposição de fotografias Diálogo com a Natureza de Shin’ichi foi realizada no Palácio da Cultura na capital Sófia (com patrocínio do Museu de Arte Fuji de Tóquio e de outros). Na abertura da exibição, participou o presidente da Bulgária, Jelyu Jelev.
Em novembro de 1999, foi publicado o diálogo A Beleza do Coração do Leão, realizado com a renomada intelectual da Bulgária Dra. Axinia Dzurova, professora da Universidade de Sófia. No ano seguinte, a edição em búlgaro desse diálogo foi concluída. Trata-se de um diálogo entre duas culturas distintas embasadas no budismo e na ortodoxia grega. Shin’ichi desejava estabelecer um novo caminho da seda espiritual capaz de unir o Japão e o Leste Europeu.
Outro ponto digno de nota é que vinte anos depois da primeira visita de Shin’ichi, no descortinar do século 21, foi fundado um distrito da SGI na Bulgária, comemorando o dia 3 de maio de 2001. O responsável pelo distrito era ex-aluno da Universidade Soka que foi à Universidade de Sófia como primeiro estudante intercambista. A época começava a se mover exatamente conforme os ditos dos escritos de Nichiren Daishonin: “Poderia haver alguma dúvida de que a grande Lei pura do Sutra do Lótus será amplamente propagada no Japão e nas demais nações de Jambudvipa…?”.1
PARTE 22
O Danúbio azul percorre como se costurasse as árvores verdes da bela paisagem campestre.
Às 16 horas (horário local) do dia 25 de maio, Shin’ichi Yamamoto e comitiva desceram no aeroporto de Viena. Shin’ichi visitava a Áustria depois de vinte anos desde a sua primeira viagem à Europa. Na ocasião, não havia nenhum membro, porém agora fora constituído um distrito, e seu responsável Yoshiharu Nagamura recepcionava a comitiva. Era um jovem líder de 39 anos, e trabalhava em uma gráfica.
Nagamura nasceu na província de Niigata e estudou em Tóquio em uma escola especializada em design. Trabalhou também em uma empresa de artes em papel. Ele se converteu ao budismo em 1962 e se dedicou como membro da Divisão Masculina de Jovens (DMJ) quando realizou a propagação [desse ensinamento] para vinte pessoas. Aos 27 anos, com a decisão de viver em prol do kosen-rufu mundial, mudou-se para a Áustria utilizando a estrada de ferro transiberiana.
Ele ficou seis meses sem trabalho, período que culminou com a véspera de ser deportado para o Japão, caso não conseguisse emprego. Já era época de rigoroso inverno e a temperatura externa era de 10 graus Celsius negativo. O rapaz orava intensamente em seu apartamento, sem dormir, com o desejo de lutar pelo kosen-rufu da Áustria.
Ao amanhecer, Nagamura deixou o quarto com sua bagagem, pensando: “Só me resta voltar ao Japão”. Então, ele se encontrou com um homem de meia-idade que surgiu de um quarto vizinho, o qual lhe disse, repentinamente: “Ei, e o seu trabalho? Não quer trabalhar comigo?”. O homem administrava um posto de gasolina e um jovem morador vizinho, que trabalhava com ele, ficou doente. Disse-lhe que estava com dificuldades por falta de mão de obra.
Nagamura saiu do dilema. Ele ficou convicto de que, enquanto houvesse oração com forte determinação, não haveria impasses na vida.
Em 1972, carregando um cartão com a assinatura de quatro membros residentes em Viena, ele voltou temporariamente ao Japão e se encontrou com Shin’ichi. Havia marcado um passo concreto para a construção do kosen-rufu. O ato de corresponder ao mestre com ações e comprovações é o caminho do discípulo.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
Nagamura casou-se com uma integrante da Divisão Feminina de Jovens (DFJ) do Japão. O casal jurou se tornar o alicerce do kosen-rufu da Áustria. Toda vez que Shin’ichi visitava Paris, o jovem ia ao seu encontro viajando dezoito horas de trem. Nagamura pensava: “Se eu que sou líder não buscar o mestre e não me desenvolver, absorvendo o máximo de coisas, não haverá progresso da organização”.
PARTE 23
No aeroporto de Viena, Shin’ichi disse a Nagamura, responsável pelo Distrito Áustria:
— Vim me encontrar com você. Como o discípulo está se empenhando desesperadamente, quero corresponder com todo o meu ser.
Viena vivia justamente a estação das festividades musicais e recebia pessoas do mundo inteiro.
No dia seguinte, 26 de maio, Shin’ichi se encontrou com Bryan Ronald Wilson, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, nas dependências do hotel em que estava hospedado. Foram realizados os últimos acertos para a publicação do diálogo Sociedade e Religião, que estava em andamento.
À noite, reuniram-se cerca de vinte membros da localidade na sala de conferências do hotel para uma reunião de diálogo sobre a prática da fé. Respondendo às perguntas de todos, Shin’ichi Yamamoto falou sobre como conduzir o kosen-rufu da Áustria.
— Como budistas que almejam a felicidade das pessoas, gostaria que atuassem protegendo a paz e a cultura, e em prol do respeito à dignidade da vida. Tendo em mente que a fonte dessa atividade se encontra na recitação do daimoku, por favor, desafiem com coragem cada assunto da vida diária. Esta é uma existência repleta de alegria e de esperança. Outro ponto importante é que cada um dos senhores, que se encarregam do kosen-rufu, valorizem a si mesmos e a seus lares, e contribuam para a comunidade local e a sociedade, tornando-se bons cidadãos amados e respeitados pelas pessoas à sua volta. Não há budismo afastado da vida diária. O fato de cada pessoa manter boa saúde, física e mental, com personalidade estimada por todos, demonstrando brilhantes comprovações na sociedade, se tornará a força para o kosen-rufu. Não há necessidade de se apressarem. Visando o século 21, ampliem concretamente a rede de confiança e construam agora o alicerce de um grande progresso no futuro.
Nessa ocasião, foi fundada a tão aguardada Regional Áustria. Era uma nova partida com a estrutura de uma regional com dois distritos. Nagamura se tornou o responsável pela regional.
No dia 27, Shin’ichi visitou a Ópera Estatal de Viena, onde dialogou com seu diretor, Egon Seefehlner. Como fundador da Associação de Concertos Min-On, queria manifestar os agradecimentos pela apresentação realizada no Japão em outubro do ano anterior a convite da Min-On. A atitude sincera cria o núcleo da amizade.
PARTE 24
Nesse dia, ele ainda fez uma visita de cortesia ao Ministério da Educação e dialogou com Fred Sinowatz, vice-primeiro-ministro (ministro da Educação). Mais tarde, ele se tornou o primeiro-ministro.
No diálogo com o vice-primeiro-ministro Sinowatz, a apresentação da Ópera Estatal de Viena no Japão foi um assunto bastante comentado. Shin’ichi falou sobre sua crença pela paz:
— Daqui para a frente, gostaria de continuar contribuindo para paz do mundo por meio de intercâmbios culturais e educacionais.
Na sequência, Shin’ichi visitou o apartamento de Nagamura, localizado na Rua Belvederegasse a alguns minutos da Ópera Estatal. A sala utilizada para reuniões possuía algumas dezenas de metros quadrados. Era o local principal das atividades da organização em Viena. A família dele era formada pelo casal, um filho de 7 anos e uma filha de 4. Era uma sala modesta, mas se tornou o berço da criação de “valores humanos” que sustentava o kosen-rufu da Áustria. A partir desse local, foi criada a nova história popular de paz e de felicidade.
Com um sentimento solene, Shin’ichi recitou gongyo junto com os familiares de Nagamura e alguns membros que ali se encontravam. Ele orou pela saúde e pelo desenvolvimento deles e também pelo progresso do kosen-rufu da Áustria: “Quero que a canção triunfal da felicidade ecoe altivamente”.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
Depois de tirar foto comemorativa com todos num jardim próximo, visitou o museu do grande músico Beethoven, situado em Heilingenstadt.
Beethoven havia morado nesse apartamento e, quando se encontrava no abismo do desespero com a perda da audição aos 31 anos, escreveu um testamento endereçado aos seus irmãos mais novos. Por essa razão, esse local é conhecido como a Casa do Testamento de Heilingenstadt.
É um museu pequeno com apenas duas salas em dois andares. A visita foi conduzida por uma senhora idosa que dizia ter cuidado do lugar durante 35 anos. Em uma das salas estava exposta a réplica do testamento.
Como grande músico, a perda de audição fez com que Beethoven perdesse a esperança, chegando a pensar em tirar a própria vida. Nesse testamento, ele registrou: “O que me deteve foi unicamente a ‘arte’. Imaginei que não poderia me afastar desse mundo sem completar o trabalho para o qual havia me conscientizado como minha missão”. 2
A consciência da missão é a força para vencer quaisquer tipos de adversidade. Quando se vive pela missão, surge uma infindável coragem.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Notas:
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 574, 2020.
- ROLLAND, Romain. Vida de Beethoven. Tradução: Toshihiko Katayama. Editora Iwanami Shoten.
Ilustrações: Kenichiro Uchida