Destemido brado pela paz

ROTANEWS176 23/08/2024 09:30                                                                                                                          ESPECIAL DIRETO DO JORNAL SEIKYO SHIMBUN

 

Há 67 anos, Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, apresentou sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares.

 

Reprodução/Foto-RN176 Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, profere sua histórica Declaração pela Abolição das Armas Nucleares – Foto: Seikyo Press

Era noite de 7 de setembro de 1957 e somente Josei Toda se encontrava na sede da Soka Gakkai. O segundo presidente da organização estava mergulhado em profundos pensamentos a respeito da questão da bomba atômica e da crise entre os blocos de países capitalistas e comunistas, tendo os Estados Unidos e a União Soviética como centro.

O horror da destruição e do sofrimento causados pelo lançamento das bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e de Nagasaki, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, decretou não apenas a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, mas intensificou a corrida armamentista por artefatos nucleares no mundo. Testes incessantes, com arsenais cada vez mais poderosos, eram feitos em diversos pontos do planeta. A sensação era de que uma nova guerra mundial poderia começar. E a quantidade de armamentos atômicos já era tão grande que o mundo poderia ser dizimado em questão de horas.

Foi na prisão, onde Josei Toda e seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi, permaneceram encarcerados durante dois anos por se oporem à guerra e defenderem a liberdade religiosa, que surgiu a ideia de preparar uma declaração. Com o desenvolvimento dos tristes fatos observados depois que foi libertado (em 3 de julho de 1945), Toda sensei focou sua indignação na declaração contra as armas nucleares.

Reprodução/Foto-RN176 O jovem Daisaku Ikeda, à esq., dialoga com seu mestre durante o Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão (8 set. 1957). Dr. Daisaku Ikeda, ele foi pacifista, filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI, era  Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press

Testamento aos jovens

O dia seguinte, 8 de setembro de 1957, seria o momento do tão aguardado Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão, o “Festival da Juventude”. O pensamento sobre as bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas doze anos antes fez o sangue de Josei Toda ferver e o levou a refletir também sobre o limite da própria existência. Por várias vezes, nos anos anteriores, ele havia adoecido gravemente. Esse pressentimento do fim da própria vida só aumentou seu carinho pelas pessoas. Ele pensou: “Deixarei esta declaração como principal testamento dedicado aos jovens”.1

Em 1957, Daisaku Ikeda era um discípulo consciente, fortalecido diariamente por dez anos, do momento em que se convertera ao Budismo de Nichiren Daishonin. Ele respirava e vivia ao lado do seu mestre, Josei Toda. Havia entendido completamente o conceito de mestre e discípulo embasado na profunda filosofia budista.

Exatamente às 9 da manhã daquele 8 de setembro foi iniciado o encontro esportivo. Mais de 50 mil jovens lotavam o Estádio de Desportos de Mitsuzawa. Desde muito cedo, os membros chegavam à estação de Yokohama e entravam nos ônibus que os levariam ao estádio. Um ônibus a cada quarenta segundos. Nessa média, rapidamen­te os participantes chegavam e aguardavam ansiosos o evento.

A expectativa geral era sobre a possibilidade de ocorrer um tufão exatamente naquele dia. Mas Josei Toda desejava ardentemente que o clima estivesse agradável para que seus discípulos desfrutassem momentos tranquilos. E assim foi. O dia estava particularmente quente e o sol brilhava com radiância. O tufão enfraqueceu e se dissipou.

O encontro iniciou com a cerimônia de abertura, que teve um desfile com representantes dos jovens sendo conduzidos pelos integrantes das bandas Ongakutai e Kotekitai. Contou também com o juramento dos atletas participantes, as palavras de líderes e as competições esportivas, que, em determinado momento, tiveram integrantes de todas as divisões.

Trajado bem à vontade, com boné de beisebol, camisa esportiva e sandálias, Toda sensei, em certo momento, parou à beira do gramado para observar de perto a movimentação. Sentiu grande alegria. Depois, fitou o céu límpido. Seus olhos foram ofuscados pela luz do sol. Imediatamente, relembrou a data em que a bomba de Hiroshima fora lançada: “Naquele dia, o sol também brilhava intensamente”, pensou, mordendo os lábios com certa ira.

Ações por um mundo pacífico

Ao final das competições, as equipes vencedoras foram apresentadas. Após as palavras do líder da Divisão dos Jovens, chegou a vez de Josei Toda falar. Ele se declarou contra as armas nucleares, bradando ser a missão dos jovens erradicar o impulso dos seres humanos que as constroem. Em um trecho da declaração, o líder afirma:

Como já venho dizendo há muito, a próxima era será sustentada pelos jovens. Não preciso salientar que a missão de nossa vida é o kosen-rufu. Esse é um empreendimento que devemos conquistar infalivelmente, mas, diante das notícias de testes da bomba atômica e de hidrogênio que têm agitado o mundo, quero deixar bem clara minha posição em relação a essas questões. Se são meus discípulos, gostaria que herdassem esta minha mensagem e que propagassem pelo mundo o significado de seu conteúdo.

Mesmo que neste momento esteja sendo realizado no mundo inteiro um movimento para abolir os testes nucleares, o meu desejo é atacar o problema pela raiz, ou seja, cortar as garras ocultas exatamente na origem. (…)

Digo isso porque nós, cidadãos do mundo, temos o direito inviolável à vida. Todo indivíduo que tentar colocar esse direito em perigo merece ser chamado de criatura diabólica, um ser abominável, um monstro. Mesmo que um país conquiste o mundo por meio de armas nucleares, o conquistador deverá ser considerado um demônio, a expressão suprema do mal. Creio que a missão de cada membro da Divisão dos Jovens do Japão é difundir essa ideia em todo o mundo.2

Daisaku Ikeda, como discípulo imediato de Josei Toda, sentiu o corpo estremecer ao ouvir a declaração. Dizia a si mesmo na forma de um solene juramento: “Concretizarei a todo custo o testamento de meu mestre”. A partir de então, ele começou a planejar, com toda a seriedade, como propa­gar a ideologia de Josei Toda pelo mundo.

Conforme pressentira, seu mestre faleceu sete meses depois, em 2 de abril de 1958. Sua declaração foi traduzida em ações por Daisaku Ikeda e deu origem às iniciativas concretas da Soka Gakkai para exterminar a miséria do coração huma­no, não mais somente no campo religioso, mas com a promoção da cultura e da educação. Hoje, os membros da organização realizam diversas iniciativas para o fim das guerras e a eliminação das armas nucleares. Na essência desses esforços, com base nas palavras de Toda sensei, encontra-se o conceito da revolução humana, a mudança profunda na vida de cada pessoa, a única capaz de assegurar a paz genuína e duradoura.

Fontes:
Brasil Seikyo, ed. 2.617, 27 ago. 2022, p. 10-11.
Terceira Civilização, ed. 469, set. 2007, p. 8-11.

Notas:
1. Terceira Civilização, ed. 292, dez. 1992, p. 11.
2. Brasil Seikyo, ed. 1.906, 8 set. 2007, p. B5.

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Reprodução/Foto-RN176 Exposição promovida pela Soka Gakkai alerta para a ameaça das armas nucleares no mundo atual (Hiroshima, Japão, ago. 2012) – Foto: Seikyo Press

Esforços pelo desarmamento

A abolição das armas nucleares é um dos principais focos das atividades de promoção da paz realizadas pela Soka Gakkai no Japão e no mundo, tendo como ponto primordial a declaração proferida pelo presidente Josei Toda em 8 de setembro de 1957.

O Dr. Daisaku Ikeda atendeu ao chamado do seu mestre e, desde 1983, encaminhou Propostas de Paz anualmente à Organização das Nações Unidas (ONU), apresentando sugestões concretas para várias questões que desafiam a humanidade, incluindo a eliminação das armas nucleares. Em uma delas, sugeriu quatro pontos para nortear os esforços pelo desarmamento nuclear:

  1. Edificar a solidariedade na sociedade civil para a oposição às armas nucleares por meio da voz ativa;
    2. Enfatizar a desumanidade das armas nucleares nas discussões pela abolição;
    3. Promover a adoção de acordos internacionais no foro das Nações Unidas;
    4. Garantir que as vozes das vítimas de armas nucleares (hibakusha) reflitam no espírito fundamental de tais acordos.

Os integrantes da Soka Gakkai têm empreendido esforços constantes para despertar a opinião pública e criar uma rede global de pessoas dedicadas à paz por meio de iniciativas como palestras, campanhas, expo­sições, coleta de assinaturas, além de parcerias e participações em eventos promovidos pela ONU e por instituições dedicadas à abolição das armas nucleares.

Saiba mais

Conheça as iniciativas da Soka Gakkai pela paz e pelo desarmamento acessando: https://www.sokaglobal.org/in-society/action-on-global-issues.html.

Reprodução/Foto-RN176 Coleção com os trinta volumes do romance Nova Revolução Humana publicados em português pela Editora Brasil Seikyo – Foto: Seikyo Press

Bússola para a humanidade

Ikeda sensei concluiu o romance Nova Revolução Humana em 8 de setembro de 2018

Há seis anos, em 8 de setembro de 2018, foi publicada no Seikyo Shimbun a última parte do capítulo “Juramento Seigan”, do volume 30, do romance Nova Revolução Humana (NRH), de autoria do Dr. Daisaku Ikeda. Foram mais de 6 mil partes divulgadas nas páginas do periódico, as quais foram compiladas na forma de livros em diversos idiomas e países. A data marcou também os 61 anos desde que o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, proferiu sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares no Encontro Esportivo dos Jovens do Leste do Japão, em 1957.

A NRH descreve o drama da própria transformação do ser humano, detalha os passos da jornada pelo kosen-rufu mundial e eterniza a profunda unicidade de mestre e discípulo, base do avanço da Soka Gakkai e do budismo. O romance narra também fatos marcantes da trajetória dos discípulos, perpetuando suas vitórias por meio da prática da fé.

Na manhã de 6 de agosto de 1993, no Centro de Treinamento de Nagano, em Karuizawa, Japão, Ikeda sensei deu início à Nova Revolução Humana. Em seu prefácio, encontramos:

Mestre e discípulo são inseparáveis. Assim, meu mestre segue junto comigo, em meu coração, enquanto percorro o mundo abrindo o caminho para um caudaloso rio de paz e felicidade. A grandiosidade de um rio demonstra a imponência de sua nascente. Inspirei-me para escrever a Nova Revolução Humana — como continuação da Revolução Humana — em razão de o kosen-rufu ter alcançado tamanho progresso mesmo depois do falecimento de meu mestre; e esse fato serve como prova genuína de sua grandiosidade. Além disso, para que a posteridade conheça a essência do Sr. Toda, concluí que seria preciso registrar o caminho que seus discípulos e sucessores seguiram.1

Em novembro de 2023, Ikeda sensei encerrou sua nobre existência e a Nova Revolução Humana se consolida como o guia da prática da fé para a transformação da vida e da sociedade, uma base perene para que os discípulos avancem com gratidão e confiança pela jornada da concretização do kosen-rufu com o Mestre sempre no coração.

Nota:
1. IKEDA, Daisaku. Prefácio. Nova Revolução Humana, v. 1. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 6.

No topo: Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, profere sua histórica Declaração pela Abolição das Armas Nucleares.

Fotos: Seikyo Press

FONTE: JORNAL SEIKYO SHIMBUN