Donos da própria mente

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 12/06/2021 07:19                                                                    Por Maria Rosa Carbone

COLUNISTA

Determinação e convicção são fatores cruciais para vencer os transtornos de estresse que são comuns após situações traumáticas

Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustrativa – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Todos os dias podemos ser expostos a situações estressantes que podem ou não mexer com nosso psicológico. É normal nos sentirmos inseguros, termos memórias perturbadoras ou dificuldades para dormir após qualquer evento que, por exemplo, tenha posto nossa vida em risco. Para a maioria das pessoas, os sentimentos vão ficando mais brandos e, com o tempo, podem ser esquecidos, e a pessoa consegue se manter profissional e socialmente estável. Porém, quando o evento é intenso e fica em nossa mente por um longo tempo, provocando uma série de reações negativas, podemos estar diante de um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Como ajudar

Segundo o Manual de Doenças Mentais (DSM 5), o TEPT é uma doença de origem psiquiátrica caracterizada por um conjunto de sintomas físicos e emocionais que perduram por mais de quatro semanas. E habitualmente surgem depois da exposição — havendo casos de aparecimento de sintomas após meses e até anos — a episódios traumatizantes, como ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual. Situações como acidentes de trânsito, assassinatos, guerras, desastres ambientais, abuso sexual, ataques terroristas são exemplos de possíveis causas desse transtorno. O evento traumatizante não precisa necessariamente ter ocorrido com o paciente; ele pode simplesmente ter sido testemunha de uma tragédia, por exemplo, ao ver alguém ser assassinado — excluem-se os casos em que o conhecimento do trauma foi obtido pela mídia.

Um estudo da Universidade Flinders, da Austrália, publicado na revista científica PLOS ONE, mostra que as angústias causadas pelo contexto em que vivemos podem levar a sintomas de TEPT. E é por conta dessa possibilidade que o assunto se torna tão relevante. Precisamos de informações para nos prepararmos para ajudar parentes, amigos e vizinhos. Ao identificarmos alguns sintomas, teremos condições de incentivar essas pessoas a procurar ajuda.

Indícios de TEPT

Os sintomas são tão intensos que os pacientes de TEPT costumam ter pesadelos que trazem à mente o evento traumático passado ou medo de qualquer situação que possa lembrar o abalo. Podem ainda passar a evitar qualquer elemento que relembre o episódio chocante como pessoas, objetos, conversas e locais, causando afastamento do convívio social, alterações de humor e distúrbios do sono. A evitação — com a intenção de não “reviver” o sofrimento — provoca disfunção nas relações sociais, familiares e profissionais. Esse comportamento de evitação parece gerar um alívio momentâneo, mas é um comportamento que os mantêm presos ao transtorno, impossibilitando a correção de pensamentos, lembranças, memórias e premissas falsas. Outro sintoma comum nos pacientes de TEPT são os pensamentos negativos com relação a si e ao mundo, sentimento de culpa, vergonha, medo, horror, raiva. Muitas vezes, o paciente revive o trauma como se ele estivesse acontecendo novamente naquele exato momento.

Controle mental

O tratamento efetivo para o TEPT inclui psicoterapia, sendo a terapia de exposição a mais utilizada, gestão da ansiedade, reestruturação cognitiva e medicamentos, quando necessário. A terapia de exposição ajuda os pacientes a confrontar suas memórias de uma forma terapêutica. Reviver o trauma dessa maneira permite que o paciente processe emocionalmente seus sentimentos, tornando-os menos dolorosos. Ao confrontar repetidamente as memórias traumáticas de forma segura, colabora para o paciente entender que as lembranças em si não são perigosas e que o evento traumático real já acabou. É importante que o paciente constate que a memória não o controla, mas ele controla a memória.

Num primeiro momento, podemos fazer uma leitura muito negativa dessa situação, porém, como budistas, nós a encaramos de forma diferente — ou seja, como uma oportunidade de transformar o “carma em missão” (ganken ogo), conforme consta numa matéria sobre o tema:

Esse princípio esclarece que você, ao mudar a maneira de enxergar o carma, muda a sua realidade. O carma não é um destino imposto por uma força transcendental, e sim a missão que escolheu como oportunidade para evidenciar a força infinita que existe em você.1

Reprodução/Foto-RN176 Maria Rosa Carbone; psicoterapeuta, especialista em terapia cognitiva comportamental, supervisora do Curso de Pós-Graduação ITC, professora de comunicação e hipnoterapeuta. É vice-responsável pela Divisão Feminina da Comunidade Vila Mariana, SP –  Editora Brasil Seikyo – BSGI

O ideal é encarar a doença ou qualquer dificuldade não como carma ou destino (escuridão fundamental), mas como uma oportunidade (iluminação), com coragem e determinação.

 

Nota:

  1. Terceira Civilização, ed. 546, fev. 2014.