Duas vezes que a Volkswagen comeu bola perante Fiat e Chevrolet

ROTANEWS176 E POR GUIA DO CARRO 31/03/2023 04h26                                                                                      Por Sergio Quintanilha

Aconteceu de novo: sempre descolada dos desejos dos consumidores, Volks perdeu a chance de surpreender o mercado.

 

Reprodução/Foto-RN176 Volkswagen Nivus GTI: uma chance perdida Foto: VW / Divulgação

 

A Volkswagen do Brasil é seguramente a montadora que teve as três melhores ideias de carro da história no país. A primeira foi o Fusca, que chegou em 1950 pela Brasmotor e a partir de 1953 passou a ser montado pela VW do Brasil. A segunda foi a Kombi, fabricada a partir de 1957. A terceira foi o Gol, que liderou o mercado por 27 anos seguidos (1987 a 2013).

Mas o sucesso, às vezes, também pode ser o fator que atrapalha o surgimento de novas ideias. Foi assim que a Volkswagen brasileira perdeu alguns bondes na história, pois a empresa tem que defender sua posição e tem um forte paradigma. Há muitos casos, não só da Volks, mas também de outras marcas. Mas falemos aqui de duas vezes que a Volkswagen comeu bola perante a Fiat e a Chevrolet.

São casos recentes e um deles nem tem um impacto de vendas tão grande, mas servem para ilustrar a ideia de que a VW do Brasil joga como a seleção brasileira de Tite, sem surpreender ninguém e ainda refém das glórias do passado, enquanto a Fiat e a Chevrolet estão jogando como as ousadas Argentina e França fizeram na Copa de 2022.

Primeiro caso: Nivus GTI

Depois de recuperar o atraso de 10 anos no segmento de SUVs, a Volkswagen tinha a faca e o queijo nas mãos para transformar o Nivus, seu belo cupê, num modelo esportivo, aspiracional, que projetasse positivamente a imagem da marca como um dia fez o saudoso Gol GTi em 1988.

Reprodução/Foto-RN176 Volkswagen Nivus: pronto para ser um GTI Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

O Nivus tem a carroceria certa (é um crossover “altinho” que as pessoas chamam de SUV) e um design encantador. A Volks foi a primeira marca a criar um SUV cupê no mercado nacional. Projeto tão bom que chegou a ser feito também na Europa, embora com outro nome (Taigo).

Bem, o Nivus clamava por uma versão GTI. Imagine esse carro com rodas grandes, pneus largos, suspensão enrijecida, volante esportivo, bancos de competição, faróis extras e dupla ponteira de escapamentos urrando sua potência. Seria um GTI feito fora da Europa! Motor 350 TSI do Jetta GLI com 231 cavalos e câmbio Tiptronic de 7 marchas.

O conjunto de motor e câmbio poderiam vir do México, para não ter muitos custos de importação. Um Nivus GTI 350 TSI teria uma incrível relação peso/potência de 5,2 kg/cv (aproximadamente). Mas não. A Volks preferiu importar o Jetta, que é um carrão que ninguém compra e nem sequer sonha com ele, por ser inatingível.

Resultado: a Fiat lançou o Abarth Pulse. Nada mais é do que um Fiat Pulse com motor 1.3 turbo de 185 cv e câmbio automático de 6 marchas. O Abarth Pulse tem uma relação peso/potência de 6,8 kg/cv e acelera de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos. É o primeiro Abarth SUV do mundo. E muitos o desejam.

Segundo caso: picape Tarok

Este caso é ainda mais grave. Logo após o estrondoso sucesso do Fiat Toro no segmento de picapes, a Volkswagen apresentou no Salão de São Paulo de 2018 uma picape monobloco (como a Toro), porém mais compacta e com algumas soluções geniais, integrando a caçamba e a cabine dupla. Poderia usar os motores da casa: 1.0 turbo de 128 cv e 1.4 turbo de 150 cv.

Reprodução/Foto-RN176 Volkswagen Tarok: seria o que a Nova Montana é hoje Foto: VW / Divulgação

Mas não. Devido ao fracasso comercial do Up, que tinha a função de ocupar o glorioso espaço do Gol G4, a VW do Brasil se perdeu entre renovar o Gol e relançar o Polo no país. Acabou optando pelo Polo e viu o segmento de picapes explodir. Todo mundo ganhou. Até o Renault Oroch ficou mais bonito. A Ford criou a Maverick.

A Fiat veio com outra novidade retumbante, a Nova Strada. Em pouco tempo, o Fiat Strada se tornou o carro mais vendido do país. E a Volkswagen continuou deitada em berço esplêndido sem nem sequer mexer de forma radical na picape Saveiro.

O projeto Tarok foi abandonado. Depois voltou, porque viram que todo mundo queria uma picape. Mas, no final, a ideia foi mais uma vez abortada para dar vez ao Taos, um SUV tão bom quanto insosso (falta-lhe personalidade, se é que automóvel tem isso). A nova aposta foi no Polo Track e em mais três modelos. Um deles poderá ser a Nova Saveiro, mas ninguém sabe ao certo.

Resultado: a Chevrolet fez exatamente o que a Volks poderia ter feito. Assim, lançou a Nova Montana na base do Tracker, da mesma forma que a Volkswagen poderia ter lançado a Nova Saveiro com a base do T-Cross. O Chevrolet Montana posicionou-se exatamente entre as picapes de sucesso da Fiat, a Strada e a Toro.

Agora todo mundo quer ter uma picape Nova Montana. Assim como todo mundo se encanta com a esportividade incomum do Abarth Pulse, um esportivo que é, na origem, Fiat Argo anabolizado. Essas foram as duas vezes que a Volkswagen comeu bola, recentemente, perante a Fiat e a Chevrolet.