Em entrevista, meninos falam sobre fome, medo e como ficaram presos na caverna

ÁSIA

Os Javalis Selvagens ainda revelaram quais são os desejos para o futuro. Em um momento emocionante, um dos meninos chorou ao prestar uma homenagem ao mergulhador aposentado da marinha, que morreu enquanto levava oxigênio para a caverna

ROTANEWS176 E POR AFP 18/07/2018 10h17

Reprodução/Foto-RN176  Os Javalis Selvagens em sua primeira entrevista. Meninos receberam alta nesta quarta-feira, um dia antes do esperado – AFP

Tailândia – Os doze meninos e seu treinador resgatados da caverna na Tailândia em uma operação espetacular deixaram o hospital e concederam pela primeira vez uma coletiva de imprensa, em que aparecem com o aspecto saudável. As perguntas foram previamente selecionadas pelos psicólogos, que acompanharam toda a entrevista.

Um dos meninos afirmou que foi um milagre que ele e seus colegas tenham sido encontrados depois de passar nove dias presos na caverna. Além disso, informaram que não tinham comida, conforme havia sido informado anteriormente, e que sobreviveram nove dias bebendo água da chuva que escorria pelas pedras das paredes.

Eles ainda revelaram que tentaram sair da caverna, mas não tiveram sucesso: “Nós tentamos sair porque achamos que não podíamos esperar que as autoridades nos resgatassem”, explicou o técnico Ekkapol Chantawong. Sam-On, de 14 anos, disse que “foi um milagre”  eles terem sido encontrados pelos mergulhadores.

Usando uma camiseta com o desenho de um javali, em referência ao nome da equipe de futebol “Javalis Selvagens”, os adolescentes se apresentaram de forma individual, depois de terem improvisado passes com uma bola onde foi realizada a coletiva de imprensa.

No momento da chegada dos mergulhadores, o treinador pediu que todos eles ficassem calmos e quietos. A princípio, os meninos não estavam vendo os mergulhadores, até que um deles pegou uma tocha e foi em direção às vozes. Um dos meninos contou que não conseguia responder às perguntas porque estava bem chocado com a chegada deles, mas que eles pareciam felizes por terem achado o grupo. Ainda houve um problema com a língua, já que apenas um integrante do time falava em inglês e passou, então, a ser o intérprete.

Na entrevista, eles ainda contaram que assistiram a final da Copa do Mundo da Rússia pela TV do hospital e que a maioria deles torceu para a França. Os médicos disseram que ver a partida era uma “tarefa” e o time ainda fez elogios ao ataque da seleção francesa e comentários gerais sobre a partida.

Os meninos ainda contaram como que o grupo acabou preso na caverna. Segundo eles, depois de jogar uma partida de futebol, decidiram ir até o local, que é aberto ao público, porque alguns não a conheciam e estavam ansiosos. Eles ainda planejavam ir a uma festa após o fim da exploração.

Reprodução/Foto-RN176  Os Javalis Selvagens em sua primeira entrevista. Meninos receberam alta nesta quarta-feira, um dia antes do esperado AFP

Eles chegaram a nadar dentro da caverna mas, a certa altura, acharam que era a hora de sair e continuar o passeio outro dia. Segundo eles, havia somente um caminho de acesso à caverna, então não havia a possibilidade de eles se perderem. Um dos meninos afirmou que se sentiu medo quando percebeu que não poderia voltar para casa, enquanto outros achavam que estava tudo bem e que só teriam que esperar mais um pouco para saírem da caverna.

Segundo o treinador, eles ainda tentaram achar um outro caminho, mas o nível da água parecia não diminuir. Foi ai que perceberam que deveriam passar a noite na caverna. Eles decidiram, então, ir para um lugar que parecia mais seguro. Segundo o treinador, neste momento, eles não estavam assustados porque acreditavam que o nível da água estaria mais baixo pela manhã.

Eles afirmaram que alguns tentaram cavar um caminho para fora da caverna, mas não tiver sucesso por conta da distância. O grupo ainda mudou de local para escapar do nível da água, que não parava de subir, e que tentavam sempre dormir o mais próximo possível da fonte de água.

Por fim, os meninos prestaram homenagens ao mergulhador aposentado da marinha, que morreu enquanto levava oxigênio para os meninos dentro da caverna. Eles mostraram a pintura que fizeram de seu retrato, no dia que souberam de sua morte ainda no hospital.  Um menino ainda chorou emocionado no final da homenagem.

Os “javalis Selvagens” ainda contaram sobre os planos para o futuro. Um deles falou do sonho de se tornar um jogador profissional de futebol, enquanto outros desejam aproveitar “cada segundo” da vida e trazer orgulho para seus pais. Um garoto contou que quer se preparar para ser um “cidadão de qualidade” e outro falou sobre a vontade de ajudar ao próximo e, talvez, até se tornar mergulhador da marinha.

Os meninos também mandaram um pedido de desculpa aos pais por não terem avisado que iriam até a caverna. Um deles ainda manifestou um desejo de retornar ao local.

A recomendação médica é para que sigam suas vidas normalmente e que evitem falar com jornalistas durante ao menos um mês após o retorno para casa. Por isso, a entrevista coletiva desta quarta-feira foi autorizada pelos especialistas para tentar saciar a curiosidade sobre a história. Alguns deles ainda podem sofrer algum tipo de transtorno por conta da intensa experiência na caverna.