Empenhar-se em criar um mundo de paz e de tranquilidade para a humanidade

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  27/03/2021  11:30

ENCONTRO COM O MESTRE

Ensaio da série “Irradie a Luz da Revolução Humana”

 

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda e sua esposa, Sra. Kaneko Ikeda e o  Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

  1. DAISAKU IKEDA

Permitam-me, mais uma vez, expressar sincera solidariedade às pessoas afetadas pelo terremoto de 13 de fevereiro, que provocou danos consideráveis nas províncias de Fukushima e Miyagi, em Tohoku, e nas circunvizinhanças.

Os fortes tremores no meio da noite devem ter sido assustadores e inquietantes. Minha profunda admiração e respeito pela união indestrutível da família Soka de Tohoku, que, de maneira imediata, respondeu com presteza à situação, entrando em contato uns com os outros, incentivando-se mutuamente e trabalhando juntos para ultrapassar esse mais recente desafio.

Também estou enviando orações pela segurança e pelo bem-estar de todos de Hokkaido, que enfrentaram severas nevascas.

Em Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra e em vários outros escritos, Nichiren Daishonin exprime seu anseio pela paz e tranquilidade da terra e da sociedade. Ele viveu numa época turbulenta, assolada por infindáveis desastres naturais e epidemias. Demonstrando profunda empatia pelo sofrimento das pessoas, seguiu travando uma grandiosa e perseverante luta para “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. “Desde que nasci até hoje”, escreve ele, “não conheci um único momento de tranquilidade; meu único pensamento tem sido propagar o daimoku do Sutra do Lótus [Nam-myoho-renge-kyo]”.1

No momento em que celebramos o 800º (octingentésimo) aniversário de nascimento de Nichiren Daishonin,2 como herdeiros de seu espírito, intensifiquemos nossas orações e ações para trazer paz e tranquilidade ao nosso respectivo país e para todas as pessoas do mundo, com base nos princípios de afirmação da vida do budismo.

* * *

O poeta indiano Rabindranath Tagore (1861–1941) foi contemporâneo de nosso presidente fundador Tsunesaburo Makiguchi (1871–1944), que era dez anos mais novo que ele. Tagore escreveu:

O brilho do sol

reluz na coragem humana —

seus raios dissipam

toda a escuridão da terra.3

O sol arde sem parar. Sua energia é gerada no núcleo, a partir de onde se move incessantemente por um vasto período à superfície solar até finalmente alcançar a Terra. O sol nutre a vida e ilumina tudo no planeta.

Nichiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei, adotou o ideograma “sol” (nichi, em japonês) como parte do seu nome. Ele sempre demonstrava máxima consideração e apoio a cada pessoa e a incentivava com palavras que eram como raios revitalizantes do sol. E ajudava uma pessoa após outra a evidenciar o brilho do eterno sol do estado de buda interior e a dissipar a escuridão de todas as formas de miséria de sua vida.

Hoje, estudiosos e pensadores ao redor do mundo estão voltando a atenção para as ações e o comportamento de Daishonin.

O Dr. Dennis Gira, supervisor de edição da tradução francesa da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin (CEND), afirmou ter ficado admirado com o calor do incentivo, o carinho e a consideração de Daishonin pelos outros, os quais representam um modelo de autêntico diálogo que une pessoas.4

Já o Dr. Carlos Rubio, supervisor de edição da tradução espanhola da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, apontou os pensamentos e as ações de Daishonin em relação à reforma social e ao seu calor humano como fontes de inspiração para a nossa época, em meio à qual estamos enfrentando tantos problemas mundiais urgentes.5

Incentivo que transforma desespero em esperança! Oração que transforma destino em missão! Uma rede de apoio que converte tristeza em alegria!

Por meio dos nossos esforços corajosos, unidos pelos laços de mestre e discípulo, a resplandecente luz do Budismo do Sol de Nichiren Daishonin continua a se propagar ampla e incessantemente pelo mundo.

* * *

Agora, partamos

para uma jornada,

com o coração encorajado,

para propagar a Lei Mística

aos mais distantes confins

da Índia.

Meu mestre, segundo presiden­te da Soka Gakkai, Josei Toda, compôs esse memorável poema em janeiro de 1952, ano que assinalou o 700º aniversário do estabelecimento do ensinamento de Nichiren Daishonin.6

Ele sempre nos falava do seu sonho de levar o sol do Budismo Nichiren para pessoas de toda a Ásia. A paz e tranquilidade dos países e povos da Ásia eram o seu ardente desejo.

Citando Admoestação a Hachiman, que contém o ensinamento sobre a transmissão do budismo para o oeste, Toda sensei nos conclamou a concretizar o kosen-rufu mundial. Com relação à questão de propagar a Lei Mística nos Últimos Dias da Lei, Daishonin declara: “Agora (…) é ainda mais apropriado que tais ensinamentos [os ensinamentos do Sutra do Lótus] sejam propagados (…) como alguém poderá deixar de propagá-los?.7

Chegou a hora! Este é o momento para empreender ações poderosas em prol do kosen-rufu!

Com o coração tomado pelo brado apaixonado do meu mestre para que partíssemos para uma jornada pela Ásia e pelo mundo, lancei-me à ação intrepidamente. Assumi a liderança naquela que se tornou conhecida como a Campanha de Fevereiro.8

Minha primeira medida concreta para promover o kosen-rufu foi implementada a partir de minha organização local, o Distrito Kamata [concentrado no bairro Ota, de Tóquio]. Numa importante guinada, dobramos o recorde anterior acolhendo um total de 201 novas famílias em nosso distrito em fevereiro daquele ano.

Eu havia definido pessoalmente uma meta de 200 novas famílias desde o princípio, mas, no distrito, estabelecemos o objetivo de alcançar duas novas famílias por unidade [atual bloco], o menor nível organizacional dentro da Soka Gakkai. Isso nos proporcionou um objetivo imediato individual que juramos atingir, ao contrário de alguma meta distante inatingível. Cada qual se levantou para tomar a iniciativa com o espírito de saldar nossa dívida de gratidão com o mestre. Oramos e agimos com coragem, indo ao encontro das pessoas, conversando com elas e estendendo a mão para incentivar aqueles ao redor.

Adotando o bairro de Ota como nossa base, viajávamos para as áreas vizinhas, por exemplo, os bairros de Meguro e de Shinagawa e a cidade de Kawasaki, na província de Kanagawa. Havia até mesmo os desbravadores que se aventuravam a ir além, dirigiam-se para as regiões distantes como a província de Akita [no norte do Japão] a fim de compartilhar corajosamente o Budismo Nichiren com pessoas de lá.

Por vezes, quando nossa sincera boa vontade era rejeitada ou desprezada, nós nos incentivávamos e nos animávamos mutuamente: “Você foi ótimo!”; “Todas as adversidades em prol do kosen-rufu se transformam em benefício!”; “Tentemos mais uma vez!”.

O obstáculo que suplantamos na campanha foi a barreira em nosso coração, os limites que impúnhamos a nós mesmos, a tentação de desistir, sentir que o objetivo era difícil demais e que nunca poderíamos alcançá-lo.

No fim de fevereiro, após um mês de esforços totais, no momento exato em que cada unidade e comunidade estavam finalizando seus relatórios sobre os resultados obtidos, uma integrante da Divisão Feminina (DF) entrou correndo na sala muito feliz para anunciar que havia convertido mais uma família ao Budismo Nichiren.

Com isso, o número total de novas famílias atingiu 201 — um resultado que se tornou possível pela seriedade e determinação de uma de nossas radiantes integrantes da DF, cujo espírito se mantém inalterável até hoje.

Aquele ímpeto, em perfeita sintonia com o vibrante ritmo da mudança de estações do inverno para a primavera [à medida que fevereiro foi passando e fomos avançando para o mês seguinte], gerou uma gigantesca força para nosso contínuo sucesso na propagação em março também.

* * *

E assumindo o espírito e o compromisso do meu mestre, fiz minha primeira viagem aos países vizinhos na Ásia há sessenta anos, em 1961 — aproximadamente uma década depois da Campanha de Fevereiro.

Na época, não havia membros da Soka Gakkai na Índia, terra natal do budismo. Com o desejo de que meu daimoku penetrasse profundamente naquela terra eterna, plantei as sementes da Lei Mística e fiz a causa para criar o tempo certo para o desenvolvimento do nosso movimento. Com o tempo, surgiu um fluxo crescente de “valores humanos” dedicados ao kosen-rufu. Hoje, contamos com uma magnífica rede de mais de 250 mil bodisatvas da terra na Índia.

Recebi recentemente a inspiradora notícia de que, no ano passado, apesar da pandemia da Covid-19, cerca de 25 mil novos membros ingressaram na organização na Índia, muitos deles jovens. Qual a força propulsora por trás desse desenvolvimento? Os líderes na Índia são unânimes em declarar que tudo se deve ao interesse e à preocupação com o crescimento de cada membro.

Uma pessoa se levanta e, então, ajuda outra a fazer o mesmo. O kosen-rufu sempre é um movimento constante e gradual.

O espírito da Campanha de Fevereiro continua vivo hoje.

Laços de pessoa a pessoa — isso é o que conta acima de tudo.

Por trás de cada pessoa com quem interagimos existe uma legião inteira de familiares e amigos. Essa rede de relações humanas é infinita. Encorajar sinceramente e transmitir esperança a uma única pessoa representa uma causa incrível para encorajar incalculáveis outras.

Meu mestre declarou: “A Soka Gakkai prosseguirá se tornando cada vez maior, mas contanto que jamais nos esqueçamos do espírito de prezar cada pessoa, a organização permanecerá sólida e unida”.

O grandioso rio do “estabelecimento do ensinamento para a pacificação da terra” é criado mediante nossos perseverantes esforços para estreitar laços com uma pessoa após outra, mantendo esse firme espírito no coração.

* * *

Daishonin escreve: “Quando a fonte [ou nascente] seca, o rio deixa de fluir”.9 Trata-se de uma rigorosa advertência para nunca nos esquecer da fonte, ou origem.

Na Soka Gakkai, nossa fonte, ou nascente, é o caminho de mestre e discípulo. Consiste em conhecer e compreender o coração e o espírito do nosso mestre e levantar-se com esse mesmo sentimento. É dar um passo para o futuro com o pensamento constante de encontrar a melhor forma de tornar realidade o ideal do mestre.

Toda sensei expressou: “O kosen-rufu é um grande movimento cultural. Significa ‘estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra’”.

Herdei esse ideal do meu mestre. E durante minha primeira viagem aos países asiáticos há seis décadas, tive a ideia de fundar a Associação de Concertos Min-On e o Instituto de Filosofia Oriental. Ao visitar Hong Kong, Sri Lanka, Índia, Mianmar, Tailândia e Camboja, ocorreu-me que seria maravilhoso aprender com a cultura e com o pensamento de outros países e regiões e promover a amizade por meio de intercâmbios culturais que aproxime mais o coração das pessoas. O sonho de ver esse movimento cultural se desenrolando tornou-se fonte de inspiração propícia de ilimitada esperança para a paz.

A exposição Sutra do Lótus — Mensagem de Paz e Coexistência Harmoniosa do Instituto de Filosofia Oriental foi vista por cerca de 900 mil pessoas em dezessete países e territórios.

A Associação de Concertos Min-On consolidou laços de confiança com músicos e organizações musicais de 110 países. A fonte original dessas várias ideias que concebi remonta à década de estudo e treinamento com Toda sensei, naquela que foi por mim denominada “Universidade Toda”. As lições incomparáveis que aprendi, em espírito de unicidade com meu mestre naquela época, agora estão sendo passadas adiante por meio do romance Nova Revolução Humana, onde registro as profundezas da minha alma, a todos os “Shin’ichis Yamamoto do século 21”.

Quando nosso coração está unido ao do mestre, uma infinita coragem, sabedoria e força irrompem na vida. Enquanto vivermos em diálogo com o mestre, sempre nos perguntando o que ele faria se estivesse em nosso lugar, jamais nos abalaremos ou ficaremos confusos.

Reprodução/Foto-RN176 Foto tirada pelo presidente Ikeda retrata as saudosas águas de sua cidade natal. Vista da ponte que cruza o rio Tama, no bairro de Ota, Tóquio, (reformada em 2000). Na margem oposta do rio está a cidade de Kawasaki, Kanagawa (Japão, dez. 1990)  – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

O vasto rio da paz, cultura e educação gerado pela Soka Gakkai agora nutre o espírito da humanidade e promove a união global, fluindo para o amplo oceano da criação de pessoas valorosas.

Estou orando de maneira mais profunda e fervorosa do que nunca, convicto de de que estamos ingressando numa década crucial para assegurar essa grandiosa correnteza do humanismo budista.

* * *

Foi entre fevereiro e março que Nichiren Daishonin, após suportar as provações da Perseguição de Ta­tsu­nokuchi e do exílio à Ilha de Sado por quase dois anos e meio, recebeu indulto e retornou vitoriosamente a Kamakura.

Referindo-se às dificuldades indescritíveis pelas quais passou tendo sua própria vida ameaçada, ele escreve: “Durante esse período, tenho enfrentado adversidades dia após dia e mês após mês, (…) As chances de eu sobreviver mais este ano, ou mesmo este mês, são de uma em dez mil”.10 No entanto, ele triunfou sobre todas as circunstâncias, e seu espírito invencível persiste como inspiração para as gerações futuras.

Daishonin louvou uma sincera discípula que se manteve firme na fé em meio a tais tribulações [e chegou até a viajar para visitá-lo na Ilha de Sado]. Ele expressou estar profundamente impressionado com a devoção dela e que seu exílio deve ter sido designado especificamente para que ela pudesse demonstrar tão admirável fé.11

Nós, como verdadeiros discípulos de Daishonin, também permanecemos invencíveis diante de variadas espécies de adversidades e dificuldades.

Vençamos em vários âmbitos e proclamemos ao mundo a chegada da triunfal primavera do Budismo do Sol, que ilumina a vida das pessoas de todos os recantos.

Que a venturosa primavera

de meus preciosos amigos

seja perfumada

de flores de ameixeira.

No topo: Encontro comemorativo do 25º aniversário de fundação da SGI. Ikeda sensei — na foto ao lado de sua esposa, Kaneko — incentiva os amigos pioneiros com a missão pelo “retorno do budismo para o oeste” (Hong Kong, fev. 2000)

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 231, 2014.
  2. Nichiren Daishonin nasceu em 16 de fevereiro de 1222. De acordo com o método de contagem tradicional japonês, considera-se que, no dia do nascimento, a pessoa tenha um ano.
  3. Traduzido do japonês. TAGORE, Rabindranath. Mattaki Sugata [Visão Completa]. Tradução: Tatsuo Morimoto. In: Tagoru Chosaku-shu VII [Obras de Tagore, Volume VII]. Tóquio: Aporon-sha, 1960. p. 254. O poema original estava escrito em bengalês.
  4. Traduzido do japonês a partir de um artigo da edição do Seikyo Shimbun de 28 de abril de 2021.
  5. Traduzido do japonês a partir de um artigo da edição do Seikyo Shimbun de 1º de janeiro de 2019.
  6. De acordo com o método de contagem tradicional japonês. Nichiren Daishonin proclamou publicamente seu ensinamento em 28 de abril de 1253.
  7. The Writings of Nichiren Daishonin, v. II, p. 931.
  8. Campanha de Fevereiro: Em fevereiro de 1952, o presidente Ikeda, na época consultor do Distrito Kamata de Tóquio, iniciou dinâmica campanha de propagação. Junto com os membros de Kamata, ele quebrou o recorde mensal de adesões anterior, com a conversão de 201 novas famílias ao Budismo Nichiren.
  9. The Writings of Nichiren Daishonin, op cit, p. 763.
  10. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo v. I, p. 421.
  11. cf. The Writings of Nichiren Daishonin, v. II, p. 1030.

Fonte: Jornal Seikyo Shimbun, de 25 de fevereiro de 2021.