ROTANEWS176 E POR AH 15/01/2023 06:25
Enedina Alves participou da construção da maior hidrelétrica subterrânea do sul do Brasil
Reprodução/Foto-RN176 Foto de Enedina Alves Marques – Reprodução / Vídeo
Nesta sexta-feira, 13, o Google amanheceu com uma homenagem a Enedina Alves Marques, que foi a primeira engenheira negra do Brasil. Nesta data, ela completaria 110 anos. Filha de lavrador e de uma empregada doméstica, Enedina se formou em engenharia civil em 1945, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.
Enfrentando muitos obstáculos no caminho, a paranaense não desistiu da educação. Desde a adolescência, Marques se dividia entre o trabalho e os estudos, e aos 32 anos conseguiu se graduar.
A fascinante história da mulher se tornou inspiração para um livro infantil escrito pela professora pós-doutora em estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismos,Lindamir Salete Casagrande. Lindamir explica que o contexto histórico no qual Enedina viveu torna o pioneirismo dela muito mais relevante.
A universidade não era pensada para mulheres e nem para pretos. Pense: foi uma mulher preta, pobre, filha de escravos libertos que sobreviveu em uma turma com homens brancos da elite. Foi uma batalha muito árdua e significativa”.
Inspiração familiar
A educação se tornouinspiração familiar, sua sobrinha, Lizete Marques, de 84 anos, disse que a tiaEnedina serviu de exemplo para ela. A sobrinha insistiu na educação e se formou na profissão que seguiu durante a vida toda, sendo professora de Educação Física.
Lizete contou que “a vida dela não foi fácil. Ela lutou muito para se formar. Foi a única dos sete irmãos, todos homens. Ela era a única mulher. Eles todos trabalhavam e ela foi a única que estudou. Só que antigamente o estudo não era valorizado como é agora”.
Reprodução/Foto-RN176 Enedina Alves Marques, primeira engenheira negra do país – Crédito: Arquivo Público Municipal Maria da Glória Foohs
Obras de Enedina
Enedina colaborou com diversas obras significativas no Paraná. Uma delas foi a maior central hidrelétrica subterrânea do sul do Brasil, a Usina Capivari-Cachoeira, chamada atualmente de Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina.
Segundo a professora pós-doutora em filosofia contemporânea Maria Rita de Assis César, a biografia de Marques mostra o quanto foi preciso ela ter pulso firme para conquistar um espaço que, por direito, já era dela.
Imagine o que significa uma mulher negra tocar a obra da usina em um campo no meio do mato? Como dizem, é bem provável que ela carregasse um revólver na cintura, e que de vez enquanto ela desse uns tiros para o alto. Era uma necessidade muito grande de se fazer respeitar”.
Portas abertas
Ainda segundo Lindamir, via G1, a trajetória de Enedina foi possível devido às oportunidades que ela teve ao longo do caminho, e também sua habilidade em saber aproveitá-las com muita inteligência e dedicação.
Nascida em Curitiba, fez toda formação em Curitiba, com muita luta e algumas oportunidades. A gente não pode esquecer disso, porque se não, vai cair naquela história da meritocracia: ‘Olha, se esforçando todo mundo consegue’. Não. Ela se esforçou muito, ela tinha capacidade, mas ela teve oportunidade”.
Reprodução/Foto-RN176 Enedina Alves, à esquerda da foto – Crédito: Arquivo Público Municipal Maria da Glória Foohs
A biografia da engenheira revelou que, durante a infância, Enedina ajudava a mãe com o serviço doméstico na casa do militar Domingos Nascimento, em troca de estudos. “A primeira oportunidade foi dada pelo patrão da mãe dela que matriculou ela em uma escola, porque se ele não tivesse feito isso, ela não teria como ter essa trajetória tão bacana e tão importante para a sociedade”.