Enguia gigante pode estar por trás do mito do Monstro do Lago Ness

ROTANEWS176 E POR BBC NEWS BRASIL 05/09/2019 14h56

Estudo de DNA das águas escocesas descarta antigas teorias relacionadas à criatura, como a de que ela seria um plesiossauro ou um esturjão.

 Avistado inúmeras vezes, o famoso Monstro do Lago Ness pode ser, na verdade, um tipo de enguia gigante que vive nas águas do lago escocês.

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Reprodução/Foto-RN176 Foto acima, dos anos 1930, deu força à lenda do Monstro do Lago Ness, mas ela foi forjada com um submarino de brinquedo Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Pesquisadores da Nova Zelândia catalogaram as espécies vivas no Lago Ness e extraíram amostras de DNA da água.

Ao analisar as amostras, os cientistas descartaram que haja ali grandes animais que possam ser confundidos com o monstro.

Não foram encontradas evidências, por exemplo, de répteis marinhos pré-históricos chamados plesiossauros (que tinham 4,5 metros de comprimento e hoje estão extintos), ou de peixes enormes como o esturjão (que chega a alcançar 8 metros de comprimento) – que são algumas teorias relacionadas ao Monstro do Lago Ness.

Os cientistas também descartaram que o monstro possa ser um bagre ou algum tubarão vindo da Groenlândia, como também já foi cogitado.

Mas eles encontraram amostras de DNA de enguias europeias, que chegam às águas de rios e lagos britânicos após migrarem mais de 5 mil quilômetros, vindas do Mar dos Sargaços, perto das Bahamas – onde os animais botam suas ovas.

Reprodução/Foto-RN176 Neil Gemmell e sua equipe coletaram amostras da água do lago, para catalogar as espécies animais presentes ali Foto: University of Otago / BBC News Brasil

O objetivo principal da pesquisa não era desvendar o segredo do Monstro do Lago Ness, mas sim melhorar o conhecimento a respeito dos animais e plantas que vivem ali.

“(Mas) as pessoas adoram um mistério, e usamos a ciência para acrescentar mais um capítulo à mística do Lago Ness”, afirmou Neil Gemmell, geneticista da universidade neozelandesa de Otago.

“Não encontramos nenhuma prova de criatura viva que seja remotamente parecida (a um monstro) em nossos dados de sequenciamento de DNA. Então, sinto muito, mas não acho que a teoria do plesiossauro se sustente, com base nos dados que coletamos. Tampouco há DNA de tubarão nas nossas amostras, nem de bagres ou esturjões. O que há é uma quantidade significativa de DNA de enguias, que são abundantes no lago.”

Isso é suficiente, então, para concluir que o grande monstro é na verdade uma enguia?

“Bem, nossos dados não revelam o tamanho dessas enguias, mas a grande quantidade de material (genético) mostra que não podemos descartar a possibilidade de que haja enguias gigantes no Lago Ness. Portanto, não podemos descartar a possibilidade de que o que as pessoas veem e acreditem ser o Monstro do Lago Ness seja uma enguia gigante.”

De onde vem a lenda do monstro

O Monstro do Lago Ness é uma das lendas mais antigas e persistentes da Escócia, que inspirou filmes, livros e programas de TV, além de sustentar uma grande indústria turística em torno do local.

A lenda sustenta que o monstro é avistado há 1,5 mil anos – o primeiro a vê-lo teria sido o missionário irlandês São Columba no ano 565 d.C.

Muito depois, em 1933, o jornal Inverness Courier reportou que uma mulher chamada Aldie Mackay disse ter visto o que seria o monstro do lago, parecido a uma baleia, enquanto as águas “se agitavam”.

À época, Evan Barron, editor do jornal, sugeriu que a besta fosse descrita como um “monstro”, dando início ao mito moderno do Monstro do Lago Ness.

No ano seguinte, um respeitado cirurgião britânico, o coronel Robert Wilson, afirmou ter fotografado o monstro enquanto dirigia pela costa norte do lago.

Conhecida como a “fotografia do cirurgião”, a imagem foi publicada pelo jornal The Daily Mail, despertando curiosidade no mundo inteiro. Logo começou-se a especular que o “monstro” da foto poderia ser um plesiossauro, exinto há 65,5 milhões de anos.

Só que, 60 anos mais tarde, veio à tona que o “monstro” da foto era, na verdade, um submarino de brinquedo.

Reprodução/Foto-RN176 Uma das especulações é de que o monstro seria um plesiossauro, mas nenhum DNA da criatura foi encontrado nas águas do lago Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

Até mesmo elefantes nadadores circenses foram usados como possíveis explicações para o monstro.

Em sua pesquisa sobre a criatura, o paleontólogo Neil Clark afirmou que era comum que Inverness, onde fica o lago, recebesse quermesses e circos no início dos anos 1930, e que o mais provável é que elefantes circenses devem ter se banhado nas águas do lago.

Outra teoria é que grandes troncos de árvores flutuantes tenham sido confundidos com animais.

Vigília

O mistério do monstro captura há 30 anos a imaginação de Steve Feltham, britânico que se mudou décadas atrás para essa área da Escócia para procurar a criatura marinha.

O Livro Guiness dos Recordes aponta Feltham como o mais persistente “caçador” em vigília no Lago Ness.

E Feltham não está convencido pela nova pesquisa, que sugere a enguia por trás do mito.

“Um menino de 12 anos pode confirmar que há enguias no lago, porque eu peguei enguias no lago quando tinha 12 anos”, diz ele, acrescentando que ainda acredita que outra criatura seja o monstro do lago.

Reprodução/Foto-RN176 Há cerca de dez relatos anuais de gente que diz ter visto o Monstro do Lago Ness Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Gary Campbell, homem encarregado de registrar online os relatos de pessoas que dizem ter avistado o monstro, recebe em média 10 relatos do tipo por ano.

Ele elogiou a pesquisa neozelandesa e disse esperar que mais cientistas analisem as águas do Lago Ness.

“O Monstro do Lago Ness se tornou um ícone mundial”, afirmou ele, sem acreditar que o turismo na região vá ser afetado pelas descobertas recentes.

Chris Taylor, do Escritório de Turismo da Escócia, também acredita que a lenda continuará a atrair visitantes.

“A investigação científica oferece mais informações sobre o que está abaixo (da superfície das águas), mas as dúvidas permanecem e os visitantes certamente continuarão a ser atraídos ao lago, para buscar eles mesmos suas respostas.”

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