ROTANEWS176 E UOL 05.01.2017 07h00 Jotabê Medeiros
Reprodução/Fota-RN176 Cena do filme
Os veteranos diretores de “Moana”, Ron Clements e John Musker, são responsáveis juntos por alguns dos maiores sucessos dos estúdios Disney, como “A Pequena Sereira” (1989), “Aladim” (1992), “A Princesa e o Sapo” (2009).
Para chegar ao universo de exuberância marítima e insular de “Moana”, eles empreenderam três viagens à Oceania (uma em 2011 e duas em 2014), visitando alternadamente seis lugares: Fiji, Samoa, Taiti, Moorea, Bora Bora e Te Araroa. Criaram o Oceanic Story Trust, um bureau de consultores das ilhas da Polinésia (botânicos, cientistas, historiadores) para ficar em contato direto durante a produção, colhendo sugestões e críticas.
Ainda assim, encontraram problemas pela frente. A escolha do semideus Maui (que ganha vida com a voz do ator Dwayne “The Rock” Johnson) como protagonista da trama foi criticada por muita gente nas ilhas do Pacífico. A maior parte dessas críticas foi dirigida ao aspecto físico do personagem (gorducho e meio indolente), mas também às caraterísticas de poder do mito polinésio. As redes sociais pegaram fogo com o debate, entre junho e agosto.
“Nós sabemos quais são as nossas intenções. Fomos às ilhas, colaboramos com as pessoas que encontramos, que dividiram conosco suas histórias e as colocaram para escrutínio público da mesma forma que a gente”, diz Musker. “Tratamos a cultura das ilhas respeitosamente”, afirma. “As pessoas que conhecemos nos apoiaram no que estávamos dispostos a fazer”, acrescenta Clements.
“Soltamos um pequeno trailer antes da finalização, esse trailer foi parar na internet e apareceu um monte de gente já dizendo ‘gostei’ e ‘não gostei’. Espero que sejam menos ácidos quando virem o filme em sua totalidade”, diz Musker, acrescentando que ao “fazer um filme, qualquer filme, as mídias sociais se tornam parte de sua divulgação”.
A voz da garota Moana foi outra questão tratada com cuidado. Os produtores fizeram audições com centenas de atrizes e postulantes à vaga. “Procuramos durante meses no Havaí, em diversos lugares. Ela foi a última garota”, conta a produtora Osnat Shurer, vice-presidente de desenvolvimento da Disney, que participou da “caçada” à atriz. “Ela” é a jovem Auli’i Cravalho, 16, que conquistou a exigente banca de selecionadores por conta do seu senso de humor feito de improvisação e risadas largas.
Natureza viva
O filme faz da natureza um personagem extra como raras vezes se viu numa animação da Disney. Assim como o elemento central em “Frozen” era o gelo, em “Moana” é a água, uma das maravilhas recriadas tecnologicamente. O vilão é, na verdade, uma metáfora da atividade vulcânica, terrível presença nas ilhas. Como um Moisés da Polinésia, a menina Moana abre o oceano à sua frente ainda bebê, como uma predestinada.
A história é simples: filha de um chefe de aldeia, Tui, uma menina rebelde sai pelos mares em busca da resposta para um mistério nunca respondido do seu povo: porque o povo da Oceania navegou por todo o planeta durante 2.000 anos e, repentinamente, abandonou a navegação pelos mil anos seguintes? Ela parte da narrativa oral transmitida pela avó, Tala, um personagem crucial da história. E terá a seu favor o semideus Maui e, entre os perigos, os impagáveis piratas Kakamora, vestidos de coco.
O semideus Maui era originalmente careca, segundo contou Bill Schwab, diretor de arte do filme. Mas “como todo mundo (na Polinésia) usa cabelão, homens e mulheres”, eles lhe deram uma longa cabeleira. Maui usa uma espécie de arpão como arma, é roliço e ao mesmo tempo ágil e atlético, e suas tatuagens são fruto de outra grande pesquisa no mundo das tatuagens tribais da Oceania. Os desenhos eram tão marcantes na cultura polinésia que resolveram que uma delas seria também personagem –trata-se de um “mini Maui” que o personagem tem tatuado no peito, e que é uma espécie de Grilo Falante da divindade.
Os outros personagens são um galo e um porco. O galo, Hei Hei, foi definido pelo diretor Ron Clements como “um dos mais estúpidos personagens da história da animação”. Sua inaptidão é sua força. Mas foi difícil achar sua vocação (a princípio, ele era sagaz e sábio, mas não era bem-humorado e esteve a ponto de ser excluído do filme, segundo contou Sumnee Joh, uma das desenvolvedoras do roteiro). “Foram dois dias trabalhando extensivamente nesse problema: como salvar Hei Hei?”, diz Joh. O outro animal, companheiro inseparável de Moana, é o fofo porco Pua, certamente um dos campeões dessa corrida de merchandising que sempre sobrevém com o filme.
“Quisemos buscar um equilíbrio entre força e determinação, entre paixão e compaixão com o filme”, diz a produtora Osnat Shurer. Mas a novidade é o veículo dessa ambição: as sofisticadas técnicas de animação que a Disney pôs em marcha. Algumas ilhas e montanhas foram refeitas em moldes de gesso em estúdio, para que as dimensões fossem respeitadas. “Nosso desafio foi fazer o que há de mais inovador em termos de tecnologia”, explica Kyle Odermatt, supervisor de efeitos especiais.