Filme inspirado em Arlindo Barreto, que enfrentou dramas e conflitos pessoais enquanto o personagem estourava na TV, traz à tona a face trágica do palhaço
ROTANEWS176 E VEJA 07/08/2017 00:09 Por Leandro Nomura
Reprodução/Foto-RN176 Vladimir Brichta no filme ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ (Reprodução/Youtube/Divulgação)
Na manhã de 10 de novembro de 1991, o extinto Diário Popular chegou às bancas com a manchete “A maldição do Bozo”. A reportagem de capa do jornal enumerava uma série de doenças, problemas e acidentes sofridos por atores que, na década de 1980, deram corpo ao palhaço mais famoso do Brasil. Vestir a fantasia do Bozo, que teve seu picadeiro armado no SBT, parecia promessa de desastre. Quase 16 anos depois, a aura de revés que ronda a figura do palhaço colorido será resgatada por Bingo – O Rei das Manhãs, filme que estreia dia 24 de agosto e tem como inspiração a história de Arlindo Barreto, talvez o mais conhecido dos intérpretes de Bozo na TV.
A troca de nome no título do longa, dirigido pelo estreante Daniel Rezende (da série O Homem da Sua Vida, da HBO Brasil), é uma questão de direitos autorais. Mas Bingo é mesmo Bozo – com toda a tragédia que isso possa encerrar.
No trailer para maiores de 18 anos, o protagonista, interpretado por Vladimir Brichta, enfrenta conflitos familiares e também o embate entre viver no anonimato como ator e testemunhar a enorme fama alcançada pelo seu personagem, imerso em um universo em que crianças, festas, drogas e sexo se misturam. Há cenas de uso de cocaína e frases como “70% é inspiração, 30% é uísque” e “Até audiência, para subir, tem que ter tesão”, além do figurino, da peruca e da maquiagem que caracterizaram o Bozo, um personagem da TV americana importado em 1980 por Silvio Santos ainda na TVS, emissora que mais tarde seria rebatizada como SBT.
Hoje Silvio, que manteve o palhaço no ar até 1991, não dispõe da licença para usar o personagem. Em 2013, ele chegou a reavê-la e relançar o Bozo no Brasil, mas o palhaço não pegou.
Já nos Estados Unidos, de acordo com a empresa que detém os direitos do personagem, Bozo passou incríveis 47 anos no ar, até sair de cena em 2001.
De ‘loko’ a pastor
Reprodução/Foto-RN176 Arlindo Barreto, intérprete do palhaço Bozo (//Divulgação)
“O filme corresponde bastante à realidade”, diz Arlindo Barreto, hoje com 65 anos e pastor evangélico. Ele acompanhou parte das filmagens e assistiu a uma versão preliminar do longa no começo de junho.
Barreto era o próprio Bozo junkie. Ele começou a usar cocaína e maconha nos anos 80, após a morte da mãe, a atriz Márcia de Windsor, e a separação da mãe de seu filho. O consumo, segundo ele, era uma tentativa de superar as dificuldades. “Eu havia alcançado o topo, muito sucesso, mas tudo isso perdeu o significado. Quando dei por mim, era um dependente químico.”
O ator só parou com o álcool, o cigarro e as drogas depois de sofrer um grave acidente de carro, em 1989, e se ver entre a vida e a morte. “O médico perguntou se eu acredito em Deus. Eu disse: ‘Não’. Ele respondeu, ‘Que pena, seria o único capaz de tirar você daqui’.”