ROTANEWS176 E POR TERRA 20/01/2023 21h51
Em depoimento à Polícia Civil, a jovem revelou o uso do dinheiro para aluguéis de apartamento e de um carro.
Reprodução/Foto-RN176 Alicia Muller, estudante de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)Foto: Reprodução/USP
Alicia Muller, estudante de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), de 25 anos, confessou à polícia nesta quinta-feira, 19, que desviou cerca de R$ 927 mil arrecadados pelos alunos para a formatura da turma. A informação foi confirmada pelo Terra com a delegada Zuleika Gonzales Araújo, que investiga o caso.
Em depoimento à Polícia Civil, a jovem afirmou que retirou o dinheiro da empresa contratada para arrecadar a verba para a festa, por achar que ele não estava sendo bem administrado, mas acabou fazendo “péssimas aplicações” e perdendo dinheiro. Ela disse que tentou recuperar o valor perdido fazendo apostas em uma lotérica.
Entenda como tudo começou:
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A estudante revelou também que usou parte do dinheiro que tinha sido arrecadado para “benefício próprio”, para pagar aluguel de apartamento e de carro, cometendo o crime de apropriação indébita. A pena máxima para esse tipo de crime é de quatro anos de prisão e multa.
Por volta das 16h (horário de Brasília), Alicia chegou ao 16ª Distrito Policial acompanhada do advogado, mas não quis falar com a imprensa.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que “a suspeita está prestando depoimento, na tarde desta quinta-feira (19/01), no 16º Distrito Policial (Vila Clementino), que investiga o crime de apropriação indébita por meio de inquérito policial” e que “diligências estão em andamento e os documentos estão em análise para auxiliar no esclarecimento dos fatos e responsabilização da autoria”.
Além disso, que “paralelamente, a Delegacia Especializada em Investigações Criminais (DEIC) de São Bernardo do Campo investiga a jovem pelos crimes de estelionato e lavagem de dinheiro contra uma lotérica” e que “a unidade analisa a movimentação das contas para esclarecer a origem do dinheiro e a suspeita também será ouvida, após a coleta de todas as provas e a oitiva de todas as testemunhas”.
Entenda o caso
A aluna da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, acusada de desviar quase R$ 1 milhão de verba da comissão de formatura, fez apostas na loteria após transferir o dinheiro dos estudantes para uma conta pessoal no fim de 2021. Ela chegou a ganhar cinco vezes na Lotofácil em 2022, faturando, no total, R$ 326 mil, segundo o jornal Estadão.
A mulher, de 25 anos, fazia jogos de alto valor em uma lotérica da zona sul de São Paulo. Na última vez que ela tentou fazer uma aposta, porém, ela teria dado um golpe de R$ 192 mil no comércio.
Um boletim de ocorrência, de julho do ano passado, foi aberto contra ela na Delegacia Especializada em Investigações Criminas (Deic) de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), uma representante do estabelecimento compareceu ao Deic e relatou que a mulher vinha realizando apostas diariamente, sempre pagas por meio de transferência via Pix.
No dia 12 de julho, no entanto, “a mulher teria deixado um prejuízo de R$ 192.908,47, após ter feito o agendamento do valor via Pix, sem pagar efetivamente pelas apostas que realizou”.
Foi tentando descobrir a origem do dinheiro usado nas apostas da jovem que a delegada Katia Regina Cristofaro Martins, do Deic, descobriu que ela tinha ganhado na loteria. Mas, na ocasião, os investigadores ainda não sabiam da informação de que ela teria supostamente desviado dinheiro dos alunos de Medicina da USP. “Fiquei sabendo desse fato novo na última sexta-feira. Agora temos uma pista da origem do dinheiro e pretendo colher depoimento dos alunos da comissão de formatura e da empresa envolvida”, afirmou a delegada ao Estadão.
Dinheiro desviado
No dia 10 de janeiro deste ano, um aluno do curso de Medicina da USP registrou um boletim de ocorrência contra a estudante. Segundo a SSP, ele informou aos policiais que a mulher se apropriou da quantia aproximada de R$ 920 mil, que seria usada para a formatura dos futuros médicos no final deste ano.
A SSP informou que, ainda de acordo com a vítima, ele e os demais alunos descobriram a farsa somente no dia 6 de janeiro, quando a própria aluna suspeita teria contado para os colegas em um grupo no WhatsApp que o fundo para a formatura havia sido perdido. O caso foi registrado no 14.º DP, em Pinheiros, e na sequência encaminhado ao 16º DP, na Vila Clementino, que passou a investigar.
Em comunicado a professores a que o Estadão teve acesso, a diretoria da faculdade diz que foi informada que “a Comissão de Formatura e, portanto, os alunos aderentes à formatura da Turma 106ª, foram vítimas de fraude após investimento do recurso arrecadado para organização das festividades de celebração, que ocorrerá ao final de 2023. Os fatos estão sendo apurados, buscando-se identificar os responsáveis pela fraude e a Diretoria está apoiando na orientação aos alunos envolvidos”.
De acordo com membros da comissão de formatura que conversaram com o jornal, o dinheiro para a formatura vinha sendo arrecadado pela empresa Ás Formaturas há quatro anos e, no fim de 2021, a estudante, que era presidente da comissão, solicitou a transferência dos valores para uma conta pessoal sem o aval de outros alunos. Essa movimentação só foi decoberta no início deste ano.
Aos colegas, a estudante disse que decidiu investir o dinheiro na corretora Sentinel Bank e, depois, teria sofrido um golpe. Ela afirma que a corretora sumiu com cerca de R$ 800 mil e o restante do valor ela gastou com advogados para reaver o valor. Sobre comprovantes, a aluna afirmou que foram levados em um assalto.
Ao Estadão, a empresa Ás Formaturas disse que “todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais” e disse estar “à disposição das autoridades para o fornecimento de contratos, documentos, e-mails e demais informações”.
A reportagem não conseguiu contato com a estudante e com representantes do Sentinel Bank.