Estudo mostra que Ricardo III estava infectado por vermes

Pesquisadores encontraram ovos de “Ascaris lumbricoides”, parasita conhecido como lombriga, no intestino do monarca

ROTANEWS176 E VEJA 06/06/2016  16h17

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Reprodução/Foto-RN176 Esqueleto de Ricardo III, encontrado em um estacionamento de Leicester, no centro da Grã-Bretanha (Universidade de Leicester/Divulgação/VEJA)

Um novo estudo dos restos mortais do rei britânico Ricardo III, encontrados no ano passado em um estacionamento de Leicester (centro da Grã-Bretanha), mostra que o monarca possuía uma infecção intestinal. Pesquisadores das universidades de Cambridge e de Leicester, na Inglaterra, chegaram a esta conclusão depois de analisar amostras de solo retiradas de onde ficava a bacia e o crânio do rei. O estudo foi publicado nesta quarta-feira no periódico The Lancet.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The intestinal parasites of King Richard III

Onde foi divulgada: periódico The Lancet

Quem fez: Piers D. Mitchell, Hui-Yuan Yeh, Jo Appleby e Richard Buckley

Instituição: Universidades de Cambridge e de Leicester, ambas na Inglaterra

Dados de amostragem: Amostras de solo do local onde o esqueleto de Ricardo III foi encontrado

Resultado: Os pesquisadores encontraram ovos de Ascaris lumbricoides na região do intestino do moncarca, o que indica que ele estava infectado pelo verme.

Os resultados indicam a presença de diversos ovos de vermes nos intestinos do monarca. No entanto, havia uma pequena quantidade de ovos no solo onde estavam as demais partes do corpo. Isso indica que se trata de uma infecção intestinal e não de uma contaminação posterior.

Os ovos encontrados pertencem ao verme Ascaris lumbricoides, conhecido popularmente como lombriga. A infecção por este parasita é denominada ascaridíase e pode causar enjoo e dor abdominal, entre outros sintomas, quando a quantidade de vermes presentes no organismo é elevada.

A contaminação pelo Ascaris lumbricoides ocorre por meio da ingestão dos ovos do parasita, que podem estar presentes em legumes e frutas crus que entraram em contato com fezes infectadas. Os ovos eclodem no intestino, liberando as larvas no organismo, que atravessam a parede intestinal, chegando ao fígado e aos pulmões por via sanguínea e, finalmente, subindo pela garganta. Eles são deglutidos e voltam a descer pelo tubo digestivo, onde terminam seu desenvolvimento.

A infecção, relacionada à falta de higiene na Idade Média, ainda é frequente em países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), formas graves de ascaridíase causam 60.000 mortes ao ano, principalmente entre crianças.

Estilo de vida – As análises não detectaram a presença de outros parasitas, como a tênia (nome comum dado aos vermes das ordens Pseudophilidae e Ciclophylidae), que é transmitida por meio do consumo de carne mal cozida. Para os autores, isso indica que a comida do monarca era cozida ao ponto, o que teria evitado a transmissão destes parasitas. “Apesar da origem nobre de Ricardo, parece que seu estilo de vida não lhe deixava imune a uma infecção intestinal causada por um parasita, algo muito normal em seu tempo”, afirma a pesquisadora Jo Appleby, que participou do estudo.

Os pesquisadores acreditam que o rei teria morrido em 1485, com armas nas mãos, durante a batalha de Bosworth Field, perto de Leicester. Sua morte encerrou a Guerra das Rosas, mas seu corpo nunca havia sido encontrado. Após a descoberta da ossada, cientistas concluíram, a partir de marcas observadas em seu crânio, que Ricardo III poderia ter morrido com golpes na cabeça.

Reputação – Ricardo III é um dos reis medievais mais conhecidos, devido à obra homônima de William Shakespeare, que retrata o monarca como um tirano corcunda que matou os dois sobrinhos que impediam seu acesso ao trono britânico – o que rendeu a ele uma péssima reputação histórica