ROTANEWS176 E POR 08/05/2019 19:00
Se os resultados têm um gosto amargo para a empresa, as descobertas dos pesquisadores são enterradas e nunca chegam a conhecimento público
Há tempos a Coca-Cola investe milhões de dólares em pesquisa científica nas universidades, mas até então não estava muito claro o custo disso para o conhecimento público. De acordo com uma análise publicada hoje no Journal of Public Health Policy, a gigante das bebidas usa os contratos para influenciar os estudos em saúde pública que apoia financeiramente – grande parte relacionada à nutrição e atividade física.
O documento explica que a Coca-Cola usa contratos cuidadosamente construídos para garantir que a empresa tenha acesso antecipado a descobertas de pesquisas e possa encerrar estudos por qualquer motivo. Pesquisadores dizem que isso permite à companhia encobrir descobertas de pesquisas desfavoráveis, como estudos que conectam o consumo de bebidas açucaradas à obesidade.
O relatório foi baseado em contratos de pesquisa da Coca-Cola obtidos por meio de vários pedidos de Liberdade de Informação, que revelaram mais de 87.000 páginas de documentos com quatro universidades: Louisiana State University, Universidade da Carolina do Sul, Universidade de Toronto e a Universidade de Washington.
Os autores do estudo são afiliados à Universidade de Cambridge, Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Universidade de Bocconi e ao US Right to Know, uma organização sem fins lucrativos que defende uma maior transparência no sistema alimentar.
A análise se concentrou na Coca-Cola, mas os pesquisadores alertam que esses tipos de contratos são praticados por muitas outras empresas (como POM, Monsanto e PepsiCo) cada vez mais, à medida que o governo dos EUA gasta menos em pesquisa.
Mas ao revelar como apenas uma empresa pode influenciar e até mesmo matar estudos, os autores defendem maior transparência nesse processo. Eles estão convidando a Coca-Cola e outros patrocinadores a publicar suas listas de estudos concluídos.
Em comunicado, a Coca-Cola disse que “nós concordamos que a transparência e a integridade da pesquisa são importantes”, mas não comentou detalhes específicos para a Discover, que publicou reportagem a respeito.