Eterno 24 de agosto

ROTANEWS176 23/08/2024 09:15                                                                                                                                  ENCONTRO COM O MESTRE                                                                                                                                      Por Dr. Daisaku Ikeda

Brasil Seikyo traz trechos deste ensaio publicado no Seikyo Shimbun do dia 24 de agosto de 2011, no qual o presidente Ikeda discorre sobre diversos temas como unicidade de mestre e discípulo, missão, atuação da Divisão Sênior e relacionamento entre jovens e veteranos

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda incentiva estudantes intercambistas da Universidade Soka no Auditório Memorial Ikeda da instituição (jun. 2000) – Foto: Seikyo Press

O avanço da Divisão dos Estudantes é dinâmico. A Divisão dos Jovens se desenvolve. A ação da Divisão Feminina é igualmente dinâmica e a Divisão Sênior manifesta um espírito elevado.

O dia 24 de agosto também é Dia da Divisão Sênior. Os companheiros do Grupo Taho (Muitos Tesouros) lutam com espírito sempre jovial. A época atual é de muitos fatos e problemas, mas entre nossas famílias Soka sobram almas guerreiras imbatíveis que dedicam calorosos incentivos em quantidade cada vez maior. Parece-me ouvir claramente a voz do meu mestre, presidente Josei Toda, cheia de alegria, dizendo: “Eu agora tenho grandiosos e excelentes discípulos. E isto me faz feliz e sou uma pessoa eternamente vitoriosa”. (…)

Reprodução/Foto-RN176 Ao lado, Ikeda sensei dialoga com seu mestre, Josei Toda, no 1 Festival Esportivo dos Jovens da Soka Gakkai de Hokkaido, Japão (ago. 1957) – Foto: Seikyo Press

Curso de vida pelo caminho de mestre e discípulo

Verão do mês de agosto, dois anos após a destruição do Japão pela guerra, quando ainda se sentia a dor de ver o campo queimado pelos bombardeios, numa reunião de palestra no bairro de Ota, em Tóquio, eu me encontrei com o presidente Josei Toda, que se tornou meu eterno mestre da vida.

— Está com quantos anos?

— Estou com 19 anos.

Meu mestre me perguntou com palavras que seriam dirigidas a um velho conhecido. Na realidade, ele estava bem-informado sobre mim, pois havia se inteirado com uma pessoa da localidade. Ele sabia que eu havia perdido meu irmão mais velho na guerra, que nossa casa tinha sido incendiada pelos bombardeios aéreos e, ainda, que eu me sacrificava para continuar meus estudos acadêmicos, trabalhando para ajudar meus pais a sustentar nossa família. Eu me recordo com gratidão daquelas pessoas da localidade que informaram a Toda sensei que “em nossa comunidade há um jovem com tais características…” Atualmen­te, quando ouço um alegre comunicado sobre a realização de shakubuku, penso também na sinceridade das famílias Soka que apoiaram nos bastidores até o amigo ingressar na organização; além do entusiasmo e da oração do apresentador. Realmente, a reunião de palestra é o “espaço de propagação do budismo” em que pulsa o coração do Buda. (…)

Dez dias após meu encontro com o presidente Josei Toda, a data de 24 de agosto foi um domingo e nos registros dessa ocasião consta uma temperatura de 35,3 oC. Foi um dia muito quente, e o gongyo da cerimônia de conversão, longo e lento. Para uma pessoa como eu que não estava acostumado, foi muito doloroso sentar-me sobre as minhas pernas como era o costume da época. Ainda hoje, recordo-me do meu desconforto, tornando-se quase um sofrimento. No entanto, estabeleci meu avanço, confiando na personalidade de Toda sensei. (…)

Hastear altivamente a bandeira da justiça da verdadeira Lei pela paz da humanidade

Exatamente como o presidente Josei Toda declarava em suas explanações do escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, em reuniões de palestra, a Soka Gakkai ainda era pequena, mas nós, mestre e discípulos, hasteamos altivamente a bandeira da justiça da verdadeira Lei para iluminar a escuridão da desordem do pós-guerra. Relembro-me também de que a data de 16 de julho do primeiro ano da era Bunno, em que Nichiren Daishonin entregou esse escrito para advertir o governo. No calendário juliano, utilizado na época, correspondia possivelmente ao dia 24 de agosto de 1260.

Toda sensei declarava com firmeza: “É de fundamental importância para o ser humano considerar em que tipo de pensamento sua vida é fundamentada e quais ações realiza. Por essa razão, os jovens da Soka Gakkai, que aprenderam sobre o supremo fundamento da humanidade e atuam pela felicidade das pessoas, devem falar de forma imponente e de cabeça erguida sobre a nossa prática da fé”. A partir daquela data de 24 de agosto, para mim, que estava com apenas 19 anos, a luta pelo estabelecimento do ensinamento para a pacificação da terra passou a ser uma constante em minha juventude e em meu curso de vida.

Sobrepujando as tempestades de grandes dificuldades

O presidente Tsunesaburo Ma­kiguchi sofreu perseguições pela Lei no período da Segunda Guerra Mundial e foi aprisionado. Seu discípulo direto, presidente Josei Toda, o acompanhou à prisão em sinal de suprema gratidão pela atitude do seu mestre. Minha determinação foi herdar essa inabalável e sublime relação de mestre e discípulo mesmo ao custo de sacrificar minha própria vida. E, mesmo quando os empreendimentos do presidente Josei Toda faliram e as condições eram de grande sofrimento causados pelo extremo mal, não havia a mínima dúvida em meu coração, enquanto outros discípulos se apressavam em fugir.

Em 24 de agosto de 1950, ao completar três anos da minha conver­são, meu mestre anunciou sua intenção de renunciar à presidência da Soka Gakkai. Cerrei meus dentes para conter minha indignação e fiz um juramento como um “conde de Monte Cristo”: “Por todos os meios, eu haverei de reverter esta situação crítica e Toda sensei, absolutamente, tomará posse como segundo presidente da Soka Gakkai!”. Na mesma data de 24 de agosto, o presidente Josei Toda e eu dialogamos sobre o plano de publicar o jornal Seikyo Shimbun e essa data se tornou o “Dia do Ponto Primordial de Publicação” do Seikyo, o castelo da imprensa falada e escrita a determinar a abertura do futuro do kosen-rufu. De toda forma, no momento de maior dificuldade é que se faz a causa da mais grandiosa vitória. Essa é a melhor representação do princípio de “transformação de veneno em remédio” [hendoku iyaku] da Lei Mística. (…)

Reprodução/Foto-RN176 Foto da cachoeira Chousi, em Oirase, província de Aomori, Japão, tirada pelo presidente Ikeda (ago. 1994), na ocasião em que compôs o poema Como a Catarata – Foto: Seikyo Press

Rota das estrelas — caminho do ser humano

Recentemente [em 2011], fui contemplado pelo jornal japonês San-yo com a publicação de um artigo meu que enviei à exposição O Meio Ambiente da Terra e Eu, rea­lizada no município de Okayama.

A mesma página desse jornal apresentava uma brilhante fotografia de duas galáxias tirada pela Nasa. A imagem é da colisão de duas galáxias distantes 450 milhões de anos-luz da Terra. A aproximação entre elas e o monstruoso choque da colisão provocou uma explosão de proporções imensuráveis que resultou em inúmeras novas estrelas. Acredita-se que as duas galáxias, com o passar de alguns milhões de anos, se fundirão para se tornar novamente apenas uma. Cada uma das estrelas que existe em quantidade inimaginável no universo possui sua órbita por onde segue sem interrupção. Essa atividade gera a energia para repetir um interminável ciclo de grandiosa e constante mutação.

Sobre esse romance do grande universo, desenvolvi um abrangente diálogo com o astrônomo brasileiro Dr. Ronaldo Mourão. Nessa con­versa, um ponto sobre o qual mais concordamos foi: “Assim como as estrelas têm sua rota, o ser humano também possui seu caminho”. O Dr. Mourão enfatizou que o caminho de mestre e discípulo é a órbita mais verdadeira que o ser humano deve seguir. (…)

A expansão impressionante da “estrutura de valorosos seres humanos da Terra” ocorreu de forma semelhante ao desenvolvimento de uma grande nebulosa e faz parte da gloriosa história de mestre e discípulo Soka, que teve como base o dia 24 de agosto de todos os anos como um de seus pontos primordiais. (…)

Recordo-me ainda de que, no dia 24 de agosto de 1947, a Divisão Sênior (DS) e a Divisão dos Jovens (DJ) eram uma só. Eu era um jovem de 19 anos, e meu mestre, presiden­te Josei Toda, verdadeiramen­te um integrante da Divisão Sênior, estava com 47 anos. Determinei me tornar seu discípulo para estabelecer o primeiro passo da minha luta pela paz e pela justiça. Ele era um “sênior” que transbordava energia para trabalhar.

A luta conjunta era travada com a unicidade de mestre e discípulo, uma batalha em que a Divisão Sênior e a Divisão dos Jovens eram uma só. A capacidade dos membros da DS somada e unida de maneira extraordinária à energia que desconhece o cansaço dos integrantes da DJ fez surgir a fortaleza dourada da Soka Gakkai. A data de 24 de agosto, por ter sido definida como Dia da Divisão Sênior, também guarda um significado histórico muito profundo. Estabelecendo essa data como um marco, a Divisão Sênior do Japão e de todo o mundo apresenta um avanço com transbordante energia. O ambiente financeiro de altos e baixos (…) que envolve o sênior é extremamente rigoroso. No entanto, os integrantes da Divisão Sênior, firmes e persistentes, desenvolvem ações, tais como incentivar um amigo por meio do diálogo, com poderes de fazer qualquer pessoa se levantar determinada. A ação pelos jovens e pela expansão de uma nova era derramando suor junto com os componentes da DS merece meu manifesto de supremo louvor e de respeito por esse espírito guerreiro e imbatível. (…)

O Sutra do Lótus descreve os bodisatvas emergindo da terra. São seres que acreditam na possibilidade de manifestação da vida humana; e independentemente do caos em que a humanidade possa estar mergulhada, acreditam sempre na vitória da justiça e surgem espontaneamente na grande terra do povo para transmitir esperança. Por ser esta uma época em que a sensação das pessoas é de impotência diante de pesados fardos e da pressão ante a estagnação, devemos despertar nossa energia de bodisatvas da terra. (…)

Reprodução/Foto-RN176 Ikeda sensei diante da cachoeira (out. 1976) – Foto: Seikyo Press

O mestre confia no discípulo

Jamais, nem por um momento, me esqueci do meu mestre. Percorri o grande caminho da unici­dade de mestre e discípulo e o caminho do discípulo sempre em prontidão, com retidão absoluta até o fim.

E, atualmente, os jovens discípulos de puríssima sinceridade são meus sucessores. Não me arrependo de absolutamente nada. Esse é o nosso grande caminho de elevado orgulho. (…)

Dediquei todas as minhas forças para abrir o caminho do grandioso futuro do kosen-rufu mundial. Enfrentei e sobrepujei todas as maldades, destruí e venci os três fortes inimigos. Vou me empenhar ainda mais agora e no futuro para criar e desenvolver os preciosos seres humanos Soka, para que a respeitável estrutura do kosen-rufu atue sem reserva e registre sua história de vitórias. Estou decidido a orar e a lutar todos os dias até o fim, erguendo-me na essência do princípio de “budismo é vitória ou derrota” com o mesmo juramento que eu tinha aos 19 anos.

A unicidade de

mestre e discípulo

é a lei da vitória no budismo.

Sem temer,

vença absolutamente!

Conquiste todas as vitórias!

Fontes:
Artigo publicado na íntegra no Brasil Seikyo, ed. 2.098, 3 set. 2011, p. A3 e ed. 2.099, 10 set. 2011, p. A3.

Fotos: Seikyo Press

No topo: Presidente Ikeda incentiva estudantes intercambistas da Universidade Soka no Auditório Memorial Ikeda da instituição (jun. 2000).

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO