Extraindo as forças subjacentes da sabedoria da humanidade rumo à paz do mundo!

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/03/2023 14:24                                                                    ENCONTRO COM O MESTRE                                                                                                                                    Por Dr. Daisaku Ikeda

Ensaio da série “Irradie a Luz da Revolução Humana”.

 

Reprodução/Foto-RN176 “A cada ano que chega, rumo à paz e à vitória do povo, junto com os membros e com os jovens.” Acima, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, e sua esposa, Kaneko (Auditório Memorial Makiguchi de Tóquio, Hachioji, jan. 2005). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press / BS

Meu mestre, Josei Toda, confiava profundamente nos membros da região de Tohoku, a começar pelos pioneiros do Distrito Sendai. Eles eram, segundo Toda sensei, exemplos para todo o Japão, e se dedicava de coração ao avanço deles.

No rigoroso inverno de fevereiro de 1955, ele participou de um diálogo em uma emissora de rádio de Tohoku. Quando perguntado sobre a história da Soka Gakkai, respondeu sorrindo: “Nossa Soka Gakkai remonta ao ano 1928”. Foi o ano em que os mestres Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda se converteram ao Budismo de Nichiren Daishonin.

Após a gravação, Toda sensei disse sorridente para mim que o acompanhava: “Daisaku nasceu em 1928, não é? É uma mística relação!”.

Eu também me alinhei à grande batalha dos dois mestres predecessores e, por 95 anos, vim abrindo o grande caminho do kosen-rufu que é, em si, o rissho ankoku [“estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”], com a força do povo, junto com os companheiros. O castelo de “valores humanos” Soka, que o mestre declarou em Tohoku, se expandiu de forma magnífica para o mundo.
A partida em Guam

No último dia 21 [janeiro de 2023], foi inaugurado o Centro Cultural para a Paz nas terras de Guam, onde se originou a Soka Gakkai Internacional (SGI), em um ambiente repleto de alegria e de decisão. Fica ao lado do saudoso edifício do Centro de Comércio Internacional, com suas paredes brancas. É o local em que, no dia 26 de janeiro de 1975, foi realizada a Primeira Conferência para a Paz Mundial que deu a partida da SGI.

Revivem nitidamente as lembranças do rosto de cada pessoa, inesquecíveis membros dos Estados Unidos e da ilha de Guam, que me apoiaram nos bastidores, recepcionando comigo os honrosos pioneiros de 51 países e territórios que se reuniram naquele dia.

Na época, quando finalmente a filosofia da paz e do humanismo budista começaria a se desenvolver para os cidadãos globais, eu estabelecia uma expectativa em meu coração: “Mais que nunca, devemos valorizar o intercâmbio individual de ser humano a ser humano, a minúscula escala de unidade. Vamos expandir o círculo da amizade e da contribuição a partir da comunidade local, a mais íntima terra de nossa missão”.

Estava com dor de garganta em virtude da longa viagem atravessando o território norte-americano em pleno inverno, mas incentivei sinceramente os representantes de cada país, como também os membros locais, junto com minha esposa.

A um componente da Divisão Sênior que declarou resolutamente a abertura da conferência, dediquei os versos:

No país de mar azul

e de céu altivo,

a você, que lidera o kosen-rufu

de raios contínuos de luz,

que haja felicidade.

Às integrantes da Divisão Feminina de Jovens que cumpriam brilhantemente as tarefas no grupo de bastidores, ofereci:

Às moças

de coração

belo e florido,

ofereço-lhes

a guirlanda da felicidade.

Escolhi Guam, que no passado sobreviveu aos sofrimentos da guerra, como ponto de partida. Então, viemos plantando a “semente da paz chamada Lei Mística” na vida de cada pessoa, estabelecendo a relação de incentivo no coração daquela diante diante dos nossos olhos.

Reprodução/Foto-RN176 Na foto tirada pelo presidente Ikeda, imponente peônia vermelha — graciosa, bela e refinada. Parece querer incentivar: “Tenha a personalidade de um soberano” (Tóquio, jan. 2023). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press / BS

Conforme simbolizado nas atividades comemorativas realizadas desta vez, as jovens flores humanas emergidas da terra estão bailando na amada Guam, em Saipan e em outras ilhas. Esse aspecto do desabrochar das flores da boa sorte e da confiança é a comprovação que mais me deixa feliz.

Relembrando, o local em que Nichiren Daishonin registrou as profecias denominadas “retorno do budismo para o oeste” e “kosen-rufu de Jambudvipa” foi a Ilha de Sado, onde ele estava exilado. Em meio às circunstâncias adversas que deixavam as pessoas da sociedade em pânico com a invasão mongol e os conflitos internos, com a fome e a epidemia, Daishonin escreveu: “As chances de eu sobreviver [mais este ano, ou mesmo este mês,] são de uma em dez mil”.1 Foi nessas condições que ele lançou o grande brilho do Budismo do Sol a iluminar o mundo, na distante ilha de mares revoltos, para a felicidade de toda a humanidade.

Seguindo essa trajetória, viemos abrindo a rota marítima da paz e do kosen-rufu a começar por Okinawa, Havaí, Hong Kong e por diversas outras ilhas.

Estou orando diariamente pela segurança, prosperidade e glorioso triunfo dos preciosos companheiros da família Guam, assim como dos admiráveis membros do grupo Ilhas Distantes.

A missão da Soka Gakkai

Quando a SGI nasceu, em 1975, fazia trinta anos desde que havia sido lançada a bomba atômica em Hiroshima e em Nagasaki, e também do fim da Segunda Guerra Mundial. Sob a rigorosa Guerra Fria, o mundo estava à mercê da lógica do poder e dos interesses, no meio do turbilhão dos conflitos e das divisões cada vez mais profundo.

Foi o alçar do voo para a criação de um novo valor da paz, da cultura e da educação, manifestando enfim a sabedoria do budismo para controlar a crise da humanidade.

Independentemente da existência ou não da fé, Nichiren Daishonin indica que a sabedoria budista é para “pôr um fim à miséria da população”2 e “ajudar as pessoas”.3 E ele afirma que “A pessoa de sabedoria não é a que pratica o budismo à parte dos assuntos seculares; em vez disso, ela tem plena compreensão dos princípios que regem o mundo”.4

Essa é a missão religiosa chamada propagação da Lei Mística. Ao mesmo tempo, é o desafio de se levantar pela missão social e humana chamada paz mundial. Para tanto, a SGI, como organização popular independente, criará a ponte da solidariedade dos cidadãos globais em múltiplas camadas, ultrapassando as barreiras de religião, de ideologia, dos sistemas e das nações, com base no humanismo e no caminho do meio do budismo.

Após o evento de Guam, percorri assiduamente a China, a Europa, a União Soviética e os Estados Unidos, mantendo diálogos com os líderes e os intelectuais. Queria plantar as sementes da paz sem perda de tempo.

Naquele ano, um dos pontos culminantes da viagem foi a visita a Hiroshima, realizada em novembro. Ao mesmo tempo em que depositei flores no monumento em memória das vítimas da bomba atômica, na Convenção da Soka Gakkai, prometi, junto com os companheiros, avançar, sem recuar, para a abolição das armas nucleares.

Naquela ocasião, propus que os países possuidores de armas nuclea­res declarassem que não tomariam a iniciativa de utilizar tais armamentos. Propus, também que se realizasse, em Hiroshima, uma conferência internacional para a paz visando à abolição das armas nucleares.

Na proposta emergencial que apresentei no início deste ano [2023], um dos temas urgentes é o estabelecimento da “não iniciativa do uso nuclear”, além do mais breve término da crise na Ucrânia.

Na verdade, o dia 11 de janeiro, data da publicação dessa proposta, coincidiu com o aniversário de falecimento do meu irmão mais velho, que morreu aos 29 anos, há 78 anos, no campo de batalha após ser recrutado para o serviço militar. Era meu amado irmão mais velho, e ele sempre contava que a guerra não era de forma alguma uma bela história.

Não há ato mais bárbaro e trágico que a guerra. Não se deve permitir que jovens e crianças sejam vítimas da natureza maligna, fazendo as mães chorarem. Não posso deixar de bradar isso enquanto houver vida.

Juramento de uma mãe, vítima da bomba atômica

Lembro-me com muita dor de ter ouvido sobre a vida de uma senhora residente na região de Kansai que sofreu os danos da bomba atômica sobre Hiroshima.

Quando ela estava com 16 anos, foi exposta à bomba atômica. Milagrosamente, saiu ilesa, mas acabou comendo tomates encharcados com a “chuva negra” junto com a mãe. Então, foi acometida de uma intensa dor e sofrimento. Dois anos após o lançamento da bomba, a mãe faleceu.

Ouvi atentamente cada palavra que ela expressava. Afirmava que, por muito tempo depois do término da guerra, não conseguia relatar suas experiências amargas. Porém, quando soube da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares para a qual Toda sensei dedicou a vida, decidiu que ela também daria seu testemunho.

A partir de então, com o desejo de que nunca mais as pessoas do futuro sentissem o mesmo que ela, passou a relatar constantemente que a “a bomba atômica não possibilita a morte digna para o ser humano, e é a arma do demônio”.

O movimento pela paz da Soka Gakkai está enraizado na vida de cada pessoa, e é sustentado pela oração e ação oriundas da crença no respeito à dignidade da vida.

Minhas diversas propostas, tais como a do “imediato cessar-fogo na Guerra do Vietnã”, da “imediata devolução de Okinawa” e da “normalização das relações diplomáticas entre Japão e China”, nada mais são que o rugido do leão da união de “diferentes em corpo, unos em mente” de todos os membros, sempre com o espírito de unicidade de mestre e discípulo com ambos os mestres, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda.

Propostas para abrir o futuro

Foi no ano de 1983 que comecei a publicar as propostas de paz em comemoração do dia 26 de janeiro, Dia da SGI.

Na época, as duas superpotências, Estados Unidos e União So­vié­tica, estavam em uma corrida frenética para o desenvolvimento de armas nucleares, elevando a apreensão sobre o importante ponto crítico de transição entre a paz e a escalada das tensões. Decidido a aceitar o desafio contra tal crise, anunciei a Nova Proposta para a Paz e o Desarmamento.

Naquela ocasião, indicando que “a desesperança e a resignação não abririam a perspectiva”, apresentei a proposta, com sentimento de lançar a primeira pedra, da mais breve realização da Conferência de Cúpula entre os Estados Unidos e a União Soviética. Dois anos mais tarde, em 1985, Mikhail Gorbachev foi nomea­do secretário-geral da União Soviética, e concretizou-se a Conferência de Cúpula com o presidente norte-americano, Ronald Reagan. É profundamente comovente o fato de a mudança ter começado a partir do diálogo direto, levando à conclusão do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) entre Estados Unidos e União Soviética.

O diálogo incorpora a passagem “Vamos analisar minuciosamente a questão”5 do tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, e é o caminho que tem sido consistentemente defendido e praticado pelos mestres e discípulos das três gerações Soka.

Não há nada que não possa chegar a um entendimento por meio do diálogo em que se conversa sob a dimensão da vida, como seres humanos iguais, em especial olhando juntos para o sofrimento de “nascimento, envelhecimento, doença e morte”.

Pensando bem, quando visitei o Centro de Treinamento de Okinawa, propus que a base de lançamento de mísseis de alcance intermediá­rio, Mace B, do Exército americano naquele local fosse preservada como “base de transmissão da paz”, sem removê-la. Isso aconteceu dois meses após a publicação da Proposta de Paz de 1983.

Em sua visita a esse centro de treinamento, dias atrás, o ex-presidente Jim Garrison da Sociedade John Dewey, dos Estados Unidos, expressou sua admiração, dizendo: “É realmente a comprovação do princípio budista da transformação de veneno em remédio”. E manifestou as seguintes palavras de louvor: “Tal como a flor de lótus nasce do pântano, a Soka Gakkai está iluminando a época obscura com a luz da esperança”.
Plantando a semente por meio do diálogo

As propostas de paz, mesmo considerando somente aquelas apresentadas em comemoração do dia 26 de janeiro, que submeti ao mundo, somam quarenta [até 2022]. Dentre os diversos temas propostos, como a “Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, “Carta da Cidadania Global”, “Proibição da Militarização Infantil” e “Fundo Global de Solidariedade para a Erradicação da Miséria”, não são poucos os que foram materializados de alguma forma por entidades como as Nações Unidas.

Reprodução/Foto-RN176 Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, recebe título de doutor honoris causa pela Universidade de Guam. Naquele auspicioso ano do 25º aniversário de fundação da SGI, a mais elevada instituição acadêmica da “terra da origem [da SGI]” ofereceu um caloroso reconhecimento pelas ações de Ikeda sensei em prol do desenvolvimento da educação e da paz do mundo (Auditório Memorial Makiguchi de Tóquio, Hachioji, jan. 2000). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press / BS

Em particular, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPAN) é um grande passo para a realização do desejo do meu venerado mestre [Josei Toda]. Não tenho palavras para expressar a gratidão aos preciosos companheiros do mundo que expandem as ondas do espírito da paz à comunidade local e à sociedade com o mesmo coração que o meu.

De toda forma, a humanidade possui o poder inerente para superar os sofrimentos, não importando o tamanho das dificuldades que ela venha a enfrentar. Conforme o Dr. Arnold J. Toynbee indicou da perspectiva da história, de “desafio e resposta”, a sabedoria para criar valor é ilimitada.

O ato de confiar, convocar, extrair e reunir as forças subjacentes das pessoas, tais como a indomabilidade, a coragem, a fraternidade, a solidariedade, a sabedoria e a perseverança, se encontra no diálogo do rissho ankoku.

Nos sagrados ensinamentos, Nichiren Daishonin afirma: “Mesmo diante de tudo isto, ainda não fui desencorajado. O Sutra do Lótus é como a semente; o Buda é como o semeador, e as pessoas são como o campo”.6

Nossa voz corajosa, sincera e persistente de oração e de diálogo se torna as sementes da esperança. As sementes haverão de florescer infinitamente e espalhar seus frutos, criando o campo fértil para um mundo pacífico.

Junto com os companheiros emergidos da terra da SGI que continuam surgindo em profusão, vamos plantar, hoje e amanhã, as sementes da paz da Lei Mística no grande solo do nosso próprio juramento com altivo orgulho de que “ainda não fui desencorajado”.7

No topo: “A cada ano que chega, rumo à paz e à vitória do povo, junto com os membros e com os jovens.” Acima, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, e sua esposa, Kaneko (Auditório Memorial Makiguchi de Tóquio, Hachioji, jan. 2005)

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 421, 2014.
  2. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 390, 2019.
  3. Ibidem.
  4. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 389, 2019.
  5. Ibidem, v. I, p. 7, 2014.
  6. Ibidem, v. II, p. 5, 2019.
  7. Ibidem.

Leia mais

Veja, na Central de Notícias do aplicativo BS+ e do site www.brasilseikyo.com.br , texto completo da proposta emergencial para a crise da Ucrânia e para as questões das armas nucleares de autoria do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, com o título Reunindo a criatividade histórica para restaurar a paz, mencionada no texto.

Publicado no Seikyo Shimbun de 26 de janeiro de 2023.

Fotos: Seikyo Press