Filha diz ter certeza que Flordelis foi mandante do crime

ROTANEWS176 E POR O DIA 10/11/2022 13:31

Roberta dos Santos afirmou que a ex-deputada estava aliviada após a morte do pastor Anderson do Carmo

 

Reprodução/FotoRN176 Ex-deputada federal Flordelis durante julgamento BRUNNO DANTAS-TJRJ – 07.11.2022

A primeira testemunha a depor nesta quinta-feira (10) no  quarto dia de julgamento de Flordelis foi a filha afetiva, Roberta dos Santos, que afirmou ter certeza de que a ex-deputada foi a mandante do assassinato de Anderson do Carmo .  Em depoimento, ela relatou ainda que a mãe era “soberana” dentro da casa da família e que nada teria acontecido ao pastor se ela não tivesse permitido. Também são réus a filha biológica da parlamentar cassada, Simone dos Santos Rodrigues, os afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, além da neta Rayane dos Santos de Oliveira.

De acordo com a testemunha de acusação, a insatisfação dos membros da família era motivada pela rigidez do pastor, que ordenava que todos trabalhassem na igreja, na casa ou fora dela. Entretanto, ainda que todos os filhos e netos não gostassem de Anderson, nada mudaria se as atitudes do marido não incomodassem Flordelis.

“Com certeza ela (Flordelis) mandou matar o pastor. O Niel (Anderson) estaria vivo hoje com toda a certeza, se ela quisesse que ele estivesse vivo. Se 99% (dos familiares) quisesse ele morto e ela não, ele ia estar vivo hoje. Niel só foi assassinado porque ela permitiu”, declarou Roberta.

Apesar de ter optado por depor na frente dos réus, a testemunha se emocionou em diversos momentos. “Eu vou pedir a paciência de vocês, porque eu não sei como eu tive a coragem de vir aqui. Não sei de onde eu tirei forças para vir aqui falar na frente deles, porque dói na alma, de verdade. Essas pessoas que estão aqui do meu lado, são pessoas que me fizeram crescer, eu cresci do lado dessas pessoas. Dói na minha alma de ver a que ponto chegou a situação. Eu não vim aqui para aparecer, para ver a desgraça deles. Me dói muito, eu não estou nem um pouco feliz. Eles não deixaram de ser minha família, se eu conseguisse deixar de ter esse amor, não me doeria tanto”, disse.

Na oitiva, Roberta também lembrou que soube da morte do pastor por volta das 6h do dia do crime, por telefone, e no momento, já sabia que Flordelis tinha sido a responsável. “Foi ela, foi ela, foi ela, tenho certeza que foi ela, Flordelis”, disse. A testemunha também relatou que quando encontrou com a ex-deputada, ela parecia aliviada. “Quando você olha, a pessoa está leve. Fisionomia de completo alívio”.

Roberta disse também que não esteve no enterro do pastor, para não participar do “espetáculo” que foi criado pela mãe e outros familiares, mas que foi ao velório e Rayane teria chorado com ela junto ao caixão. “Foi horrível, porque eu vi o corpo do Niel naquele caixão e eu tinha certeza de quem tinha feito aquilo. Tem gente aqui (no Tribunal) hoje que chorou comigo, que eu nem desconfiava que fazia parte do plano”, afirmou.

Ainda no depoimento, ela contou que Rayane chegou a fazer uma homenagem a Anderson do Carmo em suas redes sociais, poucos dias após ao assassinato, agradecendo ao carinho que ele tinha com ele e seu filho. Ao saber do envolvimento dos filhos da ex-deputada no crime, Roberta decidiu excluí-los de suas redes sociais, com exceção da neta de Flordelis, para não perder contato com o filho dela, de quem é madrinha, mas acabou sendo bloqueada pela mesma.

Pouco depois do assassinato, Roberta conta que foi procurada pela também filha afetiva de Flordelis, Érica Souza, que a contou que Rayane havia pedido uma indicação de “um bandido bom” meses antes do assassinato do pastor, e deduziu que fosse para matar Anderson.

Ao ser questionada pela defesa sobre possíveis abusos sexuais cometidos pela vítima, Roberta negou e lamentou a acusação. “Me dá um embrulho no estômago. É um deboche contra as mulheres que sofrem abuso sexual, a mulher tem que provar, ainda é questionada o que fez para ser abusada. Uma pessoa abusada é uma pessoa marcada, frígida, toma nojo da presença, do cheiro, Simone convivia dentro do quarto do Niel”, disse ela. “Abuso sexual eu nunca ouvi falar naquela casa, é uma casa grande, o que mais tem é fofoca, e a pessoa consegue transparecer. Como uma pessoa que é abusada sexualmente, consegue viver com a pessoa? Simone sempre estava perto do pastor”, concluiu.

A defesa também exibiu um vídeo de outro depoimento de Roberta em que ela dizia estranhar o pastor ter um ciúme de todos os relacionamentos que Simone manteve após a separação de André e questionou se ela sabia o motivo, já que havia afirmado que Anderson respeitava a todos os filhos. Entretanto, a juíza Nearis Arce indeferiu a pergunta porque não conseguiu encontrar relação entre os dois fatos. O depoimento foi encerrado pouco depois, às 11h07.

Durante todo depoimento, Flordelis não estava na sala. Ela saiu um pouco antes da audiência começar. O motivo ainda não foi esclarecido. A próxima testemunha de acusação a depor será Rebeca Vitória Rangel, neta da ex-deputada.

No Fórum, o namorado da ex-deputada, Allan Soares e a família estiveram presentes, assim como nos dias anteriores. Ainda não há previsão de quando o julgamento será encerrado. Ainda nesta quinta-feira (10), advogados dos réus esperam que testemunhas de defesa sejam ouvidos.

Outros depoimentos

Durante o terceiro dia de julgamento, quatro testemunhas foram ouvidas, sendo: Raquel da Silva, neta da ex-deputada e também filha de Carlos Ubiraci, um dos envolvidos no crime e já julgado; Dayane Freires, filha adotiva, que trabalhava como tesoureira na igreja; Daniel dos Santos de Souza, filho adotivo; e Luana Vedovi Rangel Pimenta, nora de Flordelis e casada com Wagner Pimenta, também conhecido como Misael, filho adotivo.

Na terça-feira (8), durante segundo dia de oitivas, prestaram depoimento o inspetor da DHNSGI, Tiago Vaz de Souza, que atuou nas investigações quando o delegado Allan Duarte assumiu o caso, e os filhos adotivos Alexsander Felipe Matos Mendes, o Luan, e Wagner Pimenta, batizado por ela como Misael.

Já durante o primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (7), foram ouvidos a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime.

Acusações

Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.