Rede Manchete se despediu em 10 de maio de 1999, há 17 anos
ROTANEWS176 E NATELINHA 10/05/2016 18:59:50 Por Gabriel Vaquer
Reprodução/Foto-RN176 A emissora fazia parte do grupo bloch
Não há uma hora exata, mas na madrugada do dia 10 de maio de 1999, a “emissora de primeira classe” saía do ar. Há 17 anos, a Rede Manchete, que popularizou animações e programas japoneses, produziu grandes novelas e tinha um jornalismo considerado exemplar na TV, acabou nos deixando.
Seu fim foi extremamente conturbado, principalmente no que tangeu sua venda. Vários interessados foram cogitados, como a Editora Abril, Grupo Ongoing – dono do jornal O Dia – e até mesmo Edir Macedo, que já era proprietário da Record.
Pedro Jack Kapeller, o Jaquito, que herdou a emissora do seu tio, o saudoso Adolpho Bloch (foto/abaixo), estava desesperado.
Todos os dias, segundo o jornal Folha de São Paulo de 2 de janeiro de 1999, ele ligava para fontes do mercado para procurar um comprador para a falida rede. E até conseguiu: no dia 4 de janeiro, Kapeller surpreendeu a todos dizendo que fez uma parceria com a Igreja Renascer em Cristo, de Estevan Hernandez e Sônia Hernandez.
Reprodução/Foto-RN176 O presidente do Grupo Adolpho Bloch
Pelo contrato firmado na época, a produtora passou a dividir a responsabilidade pela produção, operacionalização e comercialização das cinco emissoras que compunham a rede, sob pagamento mensal de 60 parcelas fixas de R$ 4,8 milhões, por 15 anos. A produtora passou a deter o controle da rede e prometeu pagar em 90 dias os salários atrasados dos funcionários da Manchete e de todo o Grupo Bloch.
Na época, Jaquito também prometeu que também pagaria a dívida com o INSS e a Embratel, consideradas prioritárias. Na ocasião, o bispo Antonio Carlos Abbud, sócio de Estevan Hernandez, afirmou que não se tratava da compra da rede e sim, de uma sociedade.
Porém, o contrato durou pouco. No dia 12 de fevereiro, a Manchete rompeu com a Renascer, que não pagou a primeira parcela do valor acordado. Em 23 de fevereiro, depois de uma guerra de ações na Justiça, os Bloch reassumiram o controle da Rede Manchete. O arrendamento da TV com a RGC, da Fundação Renascer (pertencente à Igreja Renascer em Cristo) pelo grupo, se revelou maior prejuízo para a emissora na ocasião.
Após duas semanas em desespero, no dia 10 de março, Amílcare Dallevo disse estar interessado em comprar a Rede Manchete. Ele era dono da TeleTV, que explorava o serviço 0900 para as redes de televisão de todo o Brasil. E em 9 de abril, o fato se confirmou: Amílcare adquiriu a emissora e, segundo o jornal Folha de S.Paulo na época, um grupo ligado ao mesmo afirmou em reunião com o Sindicato dos Radialistas de São Paulo, que faria o pagamento parcelado, em 12 meses, dos salários atrasados dos funcionários.
A TeleTV também propôs o cancelamento das demissões ocorridas em setembro de 1998 (cerca de 600) e estabilidade de 90 dias, a partir da volta ao trabalho dos profissionais que estavam em greve. Nesse dia, Kapeller se reuniu com Amílcare Dallevo em São Paulo. Em assembleia à tarde, os funcionários da Manchete de São Paulo aceitaram a proposta, mas os sindicalistas afirmavam que iriam tentar negociar a redução do prazo do pagamento dos atrasados para oito meses. Os honorários estavam estrasados, na época, desde outubro de 1998 na capital.
No início de maio, Amílcare reforçou este posicionamento em entrevista ao programa “Show Business”, apresentado por João Dória Jr na própria Manchete: “Nós assumimos todos os débitos com o governo e as dívidas trabalhistas, que estão na ordem de 250 milhões de reais”. Para lançar a RedeTV!, em novembro de 1999, o executivo investiu cerca de 100 milhões de reais em novas instalações e em programação.
Entre o fim da Manchete e a inauguração da RedeTV!, de maio a novembro, o que ficou no ar foi a TV!, um canal de transição que mostrava poucas atrações, como o fim da reprise de “Pantanal”, seriados japoneses como “Jiraiya”, videoclipes e o telejornal “Primeira Edição”, feito por Augusto Xavier e Claudia Barthel, que estão na RedeTV! até hoje.
Até hoje, Amílcare Dallevo não teria pago as dívidas trabalhistas, assumidas em contrato para obter a emissora. Em 9 de setembro de 2009, o empresário obteve uma vitória na Justiça neste sentido.
A Justiça Federal afirmou que a RedeTV! não poderia ser considerada sucessora da Manchete, portanto, não era de sua responsabilidade pagar as dívidas trabalhistas do canal dos Bloch.
“Na prática, os ministros tornaram inválidos os bloqueios em contas bancárias da RedeTV! para efeito de penhora, determinados pela Justiça Trabalhista em ações de ex-funcionários da falida Rede Manchete. A discussão é decorrente de dois conflitos de competência que chegaram ao STJ após decisões divergentes entre o juiz da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e o juiz da Justiça Trabalhista. Em 2003, a 9ª Câmara Cível do TJ-RJ decidiu que a RedeTV! (TV Ômega) não deveria suportar as dividas deixada pela Manchete”, afirmava em comunicado a Justiça Federal.
Reprodução/Foto-RN176 Amílcare Dallevo e Marcelo de Carvalho são os donos da RedeTV! Que era a extinta Rede Manchete
A decisão revolta até hoje alguns funcionários, tanto que em 2013 a RedeTV! teve parte de sua verba publicitária bloqueada pelo jornalista Berto Filho, que trabalhou no canal e ficou sem receber por 15 meses. O valor bloqueado foi de 500 mil reais.
Outro que se irrita com a situação é Josemar Cabral da Silva, que aceitou falar com o NaTelinha nesta terça (10). Ele foi iluminador em várias novelas da Manchete, como “Ana Raio e Zé Trovão”, “Xica da Silva”, “Mandacaru” e “Brida”, a fatídica produção que culminou no fim da emissora de vez. Ele se recorda bem das negociações: “Eu devo ter uns 35, 40 mil reais para receber, pelo menos, dessa massa falida da Manchete. Na época, o pessoal que manda na RedeTV! prometeu pagar, mas deu no que deu, o Supremo disse que eles não deviam assumir a dívida…. Eu já perdi a esperança, assim como vários colegas. Nunca vou ver esse dinheiro, já me conformei”.
A Manchete terminou em 1999, mas o canal que prometeu chegar aos anos 2000 continua vivo. Por bons e por maus motivos. Trabalhar na Manchete, como definem seus ex-funcionários, não foi apenas um trabalho. Foi uma experiência de vida.