Força para romper os limites

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 14/03/2020 10:01

RELATO

Com o budismo, Vicente faz dos desafios um trampolim para avançar e criar novos caminhos

Reprodução/Foto-RN176 Vicente acumula vitórias a cada dia com o apoio da família. Acima, com a esposa, Solange; e o neto, Arthur, na Praia Balneário Paquetá, Praia Grande, SP

Vicente mora na Praia Grande, SP, onde, junto com a esposa, Solange, se esforça para cuidar dos membros da BSGI da localidade. “Tudo o que fiz nesses 38 anos praticando o budismo me tornou um ser humano melhor. Passei a compreender os sofrimentos das pessoas e a orar para que elas solucionassem seus problemas com a prática da fé, como fiz”, ressalta.

 

Encontrar um caminho

 

Na juventude, Vicente era um rapaz triste, que não entendia os próprios desafios. “Eu não tive contato com meu pai biológico e minha mãe estabeleceu nova família aqui no litoral. Teve mais cinco filhos e, apesar de eu ter boa relação com meus irmãos, sentia-me discriminado pelo meu padrasto e ficava revoltado. Isso piorou quando descobri que ele não era meu pai. Então, ele faleceu, minha mãe arrumou outro marido e eu fiquei ainda mais revoltado. Eu era agressivo o tempo todo.”

A situação melhorou quando Vicente teve o primeiro contato com o budismo, em 1981. “Eu queria ser artista profissional e, ao participar de um encontro teatral, conheci Solange. Na época, por um mal entendido, fazia uso de remédios controlados, o que me deixava disperso. Meu papo não ia além de ‘Pode crer, falô’ (risos). Com paciência, ela conversou comigo, ensinou-me sobre o Nam-myoho-renge-kyo, o carma e a lei de causa e efeito. Começamos a namorar. Confiante, passei a recitar daimoku com o objetivo de parar de tomar os remédios e pouco tempo depois, tive alta médica. Eu estava mais calmo e os atritos com meu padrasto melhoraram. Hoje, temos um bom convívio”, conta.

 

Realizar uma grande luta

 

Após seis meses de namoro, Vicente e Solange se casaram. “Foi em 1982. Recebemos o Gohonzon e fomos morar nos fundos da casa da minha mãe, pois fiquei desempregado. Estava decidido a trabalhar em uma grande empresa, mas não conseguia ficar ao menos três meses num emprego. Com a prática budista, percebi que deveria vencer essa tendência”, diz.

Na organização, ele havia assumido a liderança da Divisão Masculina de Jovens (DMJ) de um bloco e ingressara no grupo de bastidores Gajokai. “Foi um treinamento e tanto, pois aprendi a me dedicar em prol da felicidade das pessoas e a lapidar meu coração.”

Tais esforços impulsionaram o casal a dar um novo passo ao montar um pequeno negócio. “Solange fazia salgados e eu os vendia. Com esse trabalho, conseguimos alugar nossa primeira casa, e em dezembro de 1984, entrei na empresa que almejava. Que alegria!”

Com a nova fase vieram as filhas, Gabriela, em 1986, e após três anos, Naiara. “A família aumentou, então compramos uma casa aqui na Praia Grande. Eu me esforçava no trabalho e, em paralelo, atuava na DMJ. Era um desafio! Tempos depois, quando ingressei na Divisão Sênior, nós dois nos tornamos líderes de comunidade.”

A esposa, Solange, ressalta: “No começo, como ainda não havia muitas famílias atuantes, realizávamos visitas para os membros com o sentimento de que se desenvolvessem na fé”.

Esse aprimoramento foi importante para que o casal enfrentasse os desafios adiante. A filha Gabriela, então com 9 anos, contraiu meningite meningocócica, correndo o risco de ficar com graves sequelas ou até mesmo de morte. “Estava preparado para tudo, e decidi que seguiria praticando o budismo. No coração, gravei o trecho do escrito de Nichiren Daishonin: ‘O Nam-myoho-renge-kyo é como o rugido de um leão. Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?’ (CEND, v. I, p. 431-432). Com essa determinação, recitamos daimoku até que ela se recuperou e teve alta, sem nenhuma sequela.”

 

Recomeçar

 

As batalhas de Vicente não param por aí. Quando assumiu a liderança da RM Praia Grande, em 2011, ele já havia sido diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (Ela) anos antes. Algo difícil para toda a família. “Essa é uma doença degenerativa que atrofia os músculos e pode matar rapidamente. Quando soube que não existe remédio nem tratamento para a doença, desabei.”

Solange conta detalhes: “Ele perdeu o brilho, não queria conversar. E eu senti que precisava fazer alguma coisa. Recitei firme daimoku e, conversando com ele, disse-lhe que precisava levantar da cama e reagir, pois a luta pelo kosen-rufu não podia parar. Afinal, quem recita Nam-myoho-renge-kyo é mais poderoso que qualquer coisa deste universo! Ele tinha de vencer!”.

Emocionado, Vicente comple­men­ta: “Passei a recitar ainda mais daimoku. Com isso, refleti que a doença me tornou mais humano e fez surgir uma grande força dentro de mim; ela se transformou num trampolim para um novo direcionamento para minha vida”.

Então seguiu com tal convicção, inspirando as pessoas ao redor e transformando o destino. “Recorri ao pilates e a um ritmo de vida saudável. Em fevereiro de 2019, fiz alguns exames médicos pelos quais foi constatado que, apesar de ser uma pessoa com essa doença, a degeneração se estabilizou.”

Ele finaliza: “Eu que quis ser ator, hoje atuo no palco da vida, feliz e vitorioso, junto com meus preciosos amigos Soka no local em que nosso mestre não pode estar. É como Nichiren Daishonin cita: ‘Eu e meus discípulos, ainda que ocorram vários obstáculos, desde que não se crie a dúvida no coração, atingiremos naturalmente o estado de buda’” (Ibidem, p. 296).

Vicente Sales de Oliveira, 58 anos. Aposentado. Resp. pela Sub. Imigrantes, CGSP, CGESP.