Gene desativado em humanos poderia explicar a parcela de doenças cardíacas causadas por aterosclerose em pessoas que não apresentam nenhum fator de risco
ROTANEWS176 E POR PLANETA 30/07/2019 11:06
Reprodução/Foto-RN176Gene perdido pode explicar propensão dos humanos a sofrer ataques cardíacos / Foto: Imagem de Pexels por Pixabay
Um gene perdido há dois ou três milhões de anos em nossos ancestrais pode ter resultado em um risco elevado de doenças cardiovasculares para os humanos, e aumentado esse risco ainda mais em pessoas que comem carne vermelha. Foi o que revelou uma pesquisa da Universidade da Califórnia em São Diego.
A aterosclerose, que é o entupimento das artérias com depósitos de gordura, é a causa de um terço das mortes pelo mundo por causa das doenças cardiovasculares. Existem muitos fatores de riscos para as doenças cardiovasculares, como colesterol, sedentarismo, idade, hipertensão, obesidade e tabagismo. Mas, em cerca de 15% dos casos de doenças cardiovasculares causadas por aterosclerose, esses fatores não se aplicam. Ou seja, esses casos ocorreriam devido a uma propensão genética.
Infartos por aterosclerose não ocorrem em outros mamíferos, incluindo os chimpanzés, que são nossos parentes próximos e que dividem fatores de riscos cardíacos com os humanos, como hipertensão e sedentarismo. Porém, infartos em chimpanzés acontecem por outro motivo: uma inexplicável cicatrização do músculo cardíaco.
Os cientistas da Universidade da Califórnia envolvidos neste estudo já pesquisam o motivo pelo qual as doenças cardiovasculares por aterosclerose atingem apenas humanos há uma década.
Neste último estudo, eles modificaram ratos geneticamente para desativar o gene CMAH, que metaboliza uma molécula chamada Neu5Gc, imitando uma condição encontrada no organismo dos humanos. Os pesquisadores acreditam que alguma mutação inativou o gene CMAH alguns milhões de anos atrás nos nossos ancestrais hominídeos.
Esses animais modificados apresentaram o dobro da incidência de aterogenese, que é a formação de lesões nas paredes arteriais, quando comparados aos ratos que não passaram por essa modificação.
Ao consumir carne vermelha, que é abundante em Neu5Gc, os humanos são expostos repetidamente a essa substância, que desencadeia uma resposta imune e inflamação crônica. Outros estudos já demonstraram uma ligação entre a ingestão de Neu5Gc e progressão do câncer.
Mas, como o risco cardíaco é multifatorial, isso poderia explicar por que mesmo pessoas vegetarianas, que não apresentam outros fatores de risco cardiovasculares, ainda são propensas a infartos e derrames, enquanto outros parentes evolucionários não são.
Ou seja, a predisposição à aterosclerose inclui fatores intrínsecos, como essa mudança genética, e extrínseco, como a dieta de cada indivíduo.