Gordura no fígado é perigoso? Como posso me livrar dela?

ROTANEWS176 19/11/2023 14:00                                                                                                                                  Por Dra Paola Machado

Aí um dia você chega para fazer um ultrassom e o médico diz: “você está com gordura no fígado!” Saiba que cerca de 30% da população brasileira tem fígado gorduroso. Mas é algo para se preocupar? Neste artigo responderei às suas perguntas.

RN176 Presença de gordura no hepatócito (célula do fígado) A EHNA varia desde esteatose simples a esteato-hepatite, podendo, inclusive, evoluir para um quadro de cirrose

O aumento de gordura corporal pode levar ao incremento das doenças associadas a esse acúmulo, destacando-se a gordura visceral, que é a gordura que envolve os órgãos internos e vitais, como rins, fígado e pâncreas. Por isso, fica em uma região mais profunda do abdômen quando comparada à gordura subcutânea, sendo uma gordura mais prejudicial à saúde. Ela também está intimamente relacionada ao desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas, como a esteatose hepática não alcoólica (EHNA).

O que é a esteatose hepática não alcoólica (EHNA)?

É considerada uma manifestação hepática da síndrome metabólica, sendo caracterizada pela presença de gordura no hepatócito (célula do fígado) não relacionada ao consumo excessivo de álcool (ingestão inferior a 20 gramas de etanol por dia). A EHNA varia desde esteatose simples a esteato-hepatite, podendo, inclusive, evoluir para um quadro de cirrose.

Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento e progressão da EHNA não estão ainda bem esclarecidos; porém, a resistência insulínica, o estado inflamatório, os fatores genéticos e dietéticos, bem como o estilo de vida exercem o papel-chave na gênese dessa doença.

Acredita-se que a fisiopatologia da EHNA seja resultado de diversas alterações hepáticas. A primeira hipótese envolve o desenvolvimento da EHNA devido ao quadro de resistência insulínica. Por influência de fatores genéticos e ambientais, pode ocorrer resistência insulínica periférica, a qual leva ao aumento de ácidos graxos não esterilizados. Subsequentemente, há maior influxo desses ácidos graxos no hepatócito e elevação da lipogênese, acarretando no acúmulo de gordura hepática.

Os tipos de esteatose hepática não alcoólica

Existem dois tipos de doença hepática gordurosa não alcoólica: esteatose hepática não alcoólica (EHNA) e a esteato-hepatite não alcoólica (NASH).

  • Esteatose hepática não alcoólica (EHNA). Quando você é diagnosticado com EHNA, significa que você tem gordura no fígado, mas pouca ou nenhuma inflamação e nenhum dano hepático. Embora essa condição possa causar dor devido ao aumento do fígado, normalmente não causa danos ao fígado.

 

  • Esteato-hepatite não alcoólica (NASH). NASH é uma forma mais grave de EHNA. Se você for diagnosticado com NASH, provavelmente tem uma inflamação no fígado além de gordura, e pode até ter danos hepáticos, que podem causar cicatrizes no fígado. A NASH não tratada pode eventualmente levar à cirrose, que quando não tratada pode levar ao câncer de fígado.

Em muitos casos de EHNA, não há sintomas perceptíveis. Quando os sintomas estão presentes, eles geralmente incluem: dor no lado superior direito do abdômen, fadiga ou fraqueza, perda de peso, líquido e inchaço no estômago (ascite) e nas pernas (edema), icterícia ou amarelecimento da pele e dos olhos.

Atualmente, os pesquisadores acreditam que a genética, certas condições de saúde, a dieta e o sistema digestório podem desempenhar um papel no desenvolvimento da doença. Embora alguns indivíduos diagnosticados não apresentem fatores de risco anteriores, existem alguns fatores de estilo de vida que podem aumentar a probabilidade de um diagnóstico de EHNA.

Um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento é conviver com a obesidade. Fatores de risco adicionais incluem problemas de saúde que muitas vezes ocorrem junto com a obesidade, como diabetes tipo 2 e síndrome metabólica, além de  níveis elevados de triglicerídeos, colesterol alto, uma dieta rica em açúcares e uma perturbação no seu microbioma.

A condição geralmente é diagnosticada depois que um exame de sangue encontra níveis de enzimas hepáticas acima do normal. Além disso, um ultrassom do fígado pode ajudar a revelar o excesso de gordura no fígado.

A esteatose hepática não alcoólica pode causar complicações?

O principal risco da EHNA é a cirrose, que pode limitar a capacidade do fígado de realizar o seu trabalho. Depois de ser diagnosticado com cirrose, ela já não pode ser revertida, mas existem opções de tratamento que podem retardá-la ou interrompê-la.

Se a cirrose não for retardada ou interrompida, pode resultar em insuficiência hepática, o que significa que o fígado não consegue mais fazer o seu trabalho, podendo levar, em casos mais graves, a necessidade de um transplante de fígado. Além disso, o câncer de fígado é outra complicação possível da cirrose não tratada.

Como gerenciar a esteatose hepática não alcoólica?

Não existe medicamento ou procedimento específico para tratamento, mas é necessário mudanças no estilo de vida, como:

  • Se o peso estiver elevado, é necessário redução de peso;
  • dieta rica em nutrientes, vegetais, frutas e grãos integrais;
  • limitar a ingestão de gorduras prejudiciais à saúde e açúcares de adição;
  • aumento de atividade física;
  • gerenciamento dos seus níveis de colesterol e glicose no sangue;
  • evitar consumo de álcool.

Se você foi diagnosticado com doença hepática gordurosa não alcoólica, seguir as mudanças recomendadas no estilo de vida pode ser suficiente para preservar a boa saúde do fígado por um longo tempo. Você pode até reverter os danos ao fígado nos estágios iniciais da doença.

O melhor de tudo é que as mesmas escolhas de estilo de vida que podem controlar a EHNA também podem ajudar a controlar ou reverter outros problemas de saúde, como diabetes tipo 2, colesterol alto e síndrome metabólica.

FONTE: ISTOÉ BEM-ESTAR