ROTANEWS176 E AGEÊNCIA BRASIL 23/08/2017 17h31 Por Sueli de Freitas
Reprodução/Foto-RN176 Estátua em homenagem a Nelson Rodrigues na Praça Manoel Campos da Paz, em Copacabana Fernando Frazão/Agência Brasil
Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues completaria 105 anos nesta quarta-feira, 23 de agosto. Dramaturgo, jornalista, cronista esportivo, autor de folhetins, romancista, foram muitas as denominações para o “anjo pornográfico”, que fez história ao lançar a peça Vestido de Noiva, em 1943, considerada um marco no teatro moderno brasileiro.
Pernambucano, que foi para o Rio de Janeiro ainda criança, Nelson Rodrigues era o quinto de uma família de catorze filhos. Antes de dramaturgo, foi jornalista. Aos 13 anos, começou a trabalhar no jornal do pai, Mário Rodrigues, que havia fundado A Manhã. Em 1929, já trabalhando no segundo jornal do pai, chamado Crítica, Nelson Rodrigues viveu uma tragédia familiar que marcou toda a sua trajetória: a morte do irmão Roberto Rodrigues, que levou um tiro, na redação do jornal, dado por uma mulher da alta sociedade inconformada com a publicação de uma matéria sobre seu divórcio.
Em 1936, ele começou a atuar como comentarista esportivo no Jornal dos Sports, quando o irmão Mário Filho se tornou sócio da publicação. Nelson passou a fazer contribuições sobre futebol. Trabalhou em diversos veículos, como Correio da Manhã, O Jornal, Última Hora, Manchete Esportiva e Jornal do Brasil, mas não se restringiu ao futebol. Foi repórter policial, escreveu crônicas, contos, folhetins – sob o pseudônimo de Suzana Flag -, artigos de opinião e a famosa coluna A Vida Como Ela É, depois encenada na televisão.
A primeira peça de Nelson Rodrigues, A Mulher Sem Pecado, estreou em 1942. Foi, no entanto, com a segunda peça, Vestido de Noiva, cuja primeira montagem ocorreu em 1943, no Teatro Municipal do Rio, que veio a consagração como dramaturgo. No teatro, foram 17 peças. Para o cinema, foram 23 adaptações.
Autor de frases famosas e conhecido pelas opiniões polêmicas, o dramaturgo nem sempre foi bem compreendido pela sociedade da época em que viveu. “Ele foi um escritor genial, não só introduziu o modernismo no teatro brasileiro, mas foi um intérprete do seu tempo, queria chocar, colocava o dedo na ferida falando da hipocrisia do mundo de forma bem-humorada”, afirma Adriana Armony, escritora carioca, professora do Colégio Pedro II e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com a tese Nelson Rodrigues, leitor de Dostoiévski.
Confira, abaixo especial sobre os 105 anos de Nelson Rodrigues
Mais de um século de genialidade
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Dramaturgo, jornalista, cronista esportivo, autor de folhetins, romancista, um gênio do teatro. São muitas as denominações para Nelson Rodrigues, que faria 105 anos nesta quarta-feira, 23 de agosto. Ele morreu em 1980, mas sua obra continua viva no teatro, cinema e na literatura.
Pernambucano que veio para o Rio de Janeiro ainda criança, Nelson Rodrigues é o quinto filho de uma família de catorze irmãos. Em entrevista ao programa Vox Populi, da TV Cultura, em 1978, Nelson Rodrigues contou que descobriu seu estilo aos sete anos, quando a professora mandou os alunos criarem histórias da própria imaginação. A sua foi sobre um adultério, com a mulher sendo esfaqueada pelo marido traído.
“Assim eu escrevi a minha primeira ‘A Vida Como Ela É’. Era uma antecipação do meu teatro, da imaginação dramática que eu teria. Foi aí que eu comecei a ser Nelson Rodrigues, o dramaturgo”, afirmou.
Mas antes do dramaturgo veio o jornalista. No Rio, seu pai, Mário Rodrigues, fundou o jornal “A Manhã”, onde Nelson começou sua carreira jornalística, aos 13 anos de idade. Em 1929, já trabalhando no segundo jornal do seu pai, chamado “Crítica”, Nelson Rodrigues viveu uma tragédia familiar que marcou toda a sua trajetória: a morte do seu irmão Roberto Rodrigues, que levou um tiro, na redação do jornal, dado por uma mulher da sociedade inconformada com a publicação de matéria sobre seu divórcio.
A morte, tema que já despertava o interesse de Nelson Rodrigues desde garoto, torna-se ingrediente comum a seus textos, sempre recheados de histórias do cotidiano do universo carioca.
Logo após o assassinato do irmão, o pai morreu ‘de desgosto’. Veio a crise financeira da família e a doença de Nelson Rodrigues, que teve tuberculose e foi internado num sanatório. Em 1936, ele começou a atuar como comentarista esportivo no “Jornal dos Sports”, quando seu irmão Mário Filho se tornou sócio da publicação.
Nelson passou a fazer contribuições sobre futebol. Trabalhou em diversos veículos, como “Correio da Manhã”, “O Jornal”, “Última Hora”, “Manchete Esportiva” e “Jornal do Brasil”, mas não se restringiu ao futebol. Foi repórter policial, escreveu crônicas, contos, folhetins – sob o pseudônimo de Suzana Flag -, artigos de opinião e a famosa coluna “A Vida Como Ela É”, depois encenada na televisão.
A primeira peça de Nelson Rodrigues, “A Mulher sem Pecado”, estreou em 1942.
Foi, no entanto, com sua segunda peça, “Vestido de Noiva”, cuja primeira montagem aconteceu em 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que veio a consagração como dramaturgo. Dirigida por Ziembinski , “Vestido de Noiva” é considerada um marco no moderno teatro brasileiro, tanto pela linguagem dos personagens trazida do cotidiano da classe média carioca, quanto pela inovação cênica. A peça conta a história de Alaíde, que está num hospital após um atropelamento e tem lembranças de seu passado misturadas ao de uma prostituta do começo do século XX. Os planos cênicos eram o da alucinação, o da memória e o da realidade.
A partir de “Vestido de Noiva”, outros sucessos vieram, como “A Falecida”, “Boca de Ouro”, “Beijo no Asfalto”, “Anjo Negro”, num total de dezessete peças teatrais. Para o cinema, foram vinte e três adaptações, dentre as quais “A Dama do Lotação”, que por três décadas foi a segunda maior bilheteria do cinema nacional, “Bonitinha mas Ordinária”, “Álbum de Família” , “Engraçadinha” e “Os 7 Gatinhos”.
O polêmico anjo pornográfico
“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou e sempre fui um anjo pornográfico”.
Essa é a definição de Nelson Rodrigues por ele mesmo. Autor de frases famosas e conhecido por suas opiniões polêmicas, o dramaturgo nem sempre foi bem compreendido pela sociedade da época em que viveu.
“Ele foi um escritor genial, não só introduziu o modernismo no teatro brasileiro, mas foi um intérprete do seu tempo, queria chocar, colocava o dedo na ferida falando da hipocrisia do mundo de forma bem-humorada”, afirma a escritora carioca Adriana Armony, professora do Colégio Pedro II e doutora em Literatura Comparada pela UFRJ com a tese “Nelson Rodrigues, leitor de Dostoiévski”.
Na avaliação da escritora, Nelson Rodrigues soube como poucos apresentar um texto sofisticado para massas. Com sua experiência como jornalista, tornava o texto acessível, com uma linguagem popular e ao mesmo tempo culta, tratando dos dramas cotidianos e desconstruindo clichês. “Me parece que ele estimulava a polêmica e se divertia com isso. Tudo que era clichê virava algo cômico. O grande objetivo de Nelson Rodrigues era a liberdade, não aceitava patrulha ideológica de forma alguma”.
Ao tratar de temas como adultério, amores proibidos e desejos sexuais, o “anjo pornográfico”, ao mesmo tempo em que fazia sucesso, era alvo de protestos, censura e críticas. A sua matéria-prima era o ser humano, como conta a neta e atriz Crica Rodrigues. “Ele falava das entranhas do ser humano, fazendo a crítica, com ironia”, afirma ela.
Há cinco anos, o programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, fez um programa especial sobre o centenário de Nelson Rodrigues. Confira:
Netos falam do legado de Nelson Rodrigues
Crica Rodrigues e Sacha Rodrigues herdaram o DNA artístico do avô. Crica conta que estreou nos palcos fazendo uma adaptação de “A Vida Como Ela É” para o teatro. A trilogia Momentos de Nelson Rodrigues foi dirigida por seu pai, Nelson Rodrigues Filho.
Reprodução/Foto-RN176 Fernando Frazão / Agência Brasil
Já Sacha Rodrigues, filho de Joffre Rodrigues, se prepara para estrear em setembro a peça ‘Se Eu Fosse Nelson’, no Espaço Cultural Casa de Baco, na Lapa, no Rio de Janeiro, e ficará em cartaz durante cinco semanas, de sexta a domingo, às 19h.
Nesse bate-papo com a reportagem da Agência Brasil, os netos de Nelson Rodrigues falam do legado artístico do avô e das histórias da vida privada.
23 de Agosto, 2017
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Sueli de Freitas
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Pesquisador: Thiago Guimarães
Imagens: Cassius Silva / TV Brasil
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Fernando Frazão / Agência Brasil
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